7ª Temporada,  Série

Livro vs Série – 7×02 – The Happiest Place on Earth

Não querendo começar essa análise com trocadilho, mas o lugar mais feliz da Terra estava nesse segundo episódio da sétima temporada. A referência ao título já vem logo no início do episódio, com o title card após abertura, que traz imagens antigas da Disney. Acho que para todos os fãs que leram o livro, essa mera referência já encheu nossos corações, pois sabíamos que fortes emoções estavam por vir.

Como adaptação, o episódio fez um excelente trabalho, copiando passagens fielmente do livro, como já esperado, com pequenas alterações e adequações, além de alguns cortes, para adequar toda a narrativa dentro do episódio. Vamos então destacar alguns pontos interessantes para comparar com os livros.

Vamos começar com a doença da pequena Mandy, de seu nascimento a descoberta do seu problema congênito tivemos uma adaptação extremamente fiel. A diferença foi um pouco na explicação de porque Claire não poderia realizar a cirurgia, que não era uma cirurgiã cardiovascular, e o tratamento do coração, especialmente de uma bebê, exigiria um especialista. No livro, a questão da especialidade não mencionada, apesar de com certeza ser um agravante, o principal fator são as circunstâncias como um todo, o passado não é um lugar propício para uma cirurgia desse porte. A seguir um trecho de Claire explicando isso para sua família, e depois pensando um pouco consigo mesmo, cena que virou uma conversa com Jamie no episódio.

“Claire havia explicado tudo mais de uma vez, com muita paciência, vendo que ele era incapaz de absorver. Ele ainda não acreditava – mas a visão das pequeninas unhas, assumindo um tom azulado enquanto Amanda lutava para mamar, cravara-se nele feito as garras de uma coruja.
Era, conforme ela dissera, uma operação simples – numa sala de cirurgia moderna.
– Você não pode…? – perguntara ele, com um vago gesto em direção ao consultório. – Com o éter?
Ela havia fechado os olhos e balançado a cabeça, quase tão mal quanto ele se sentia.
– Não. Posso fazer coisas muito simples… hérnias, apêndices, amígdalas… e mesmo nisso existe risco. Mas uma coisa tão invasiva, num corpinho tão pequeno… não – repetiu ela, com uma resignação que ele viu ao encará-la. – Não. Se quiserem que ela viva… terão que levá-la de volta.
Então eles começaram a debater o inconcebível. Porque havia escolhas – e decisões a ser tomadas. O fato básico e inalterável, contudo, estava claro. Amanda teria que passar pelas pedras… se fosse capaz.
[…]
Eu podia sentir. Como sentira no início, porém agora mais forte, de modo que eu sabia o que era. Se tivesse uma sala de cirurgia adequada, transfusões de sangue, anestesia calibrada e cuidadosamente administrada, máscara de oxigênio, enfermeiras ligeiras e bem treinadas… uma cirurgia cardíaca não é coisa pequena, e operar uma criança é sempre um grande risco – mas eu poderia fazer. Sentia nas pontas dos dedos exatamente o que precisava ser feito, enxergava no fundo dos olhos o coração menor que meu punho, o músculo escorregadio e flexível bombeando sangue, que por sua vez percorria o ducto arterioso, um vasinho sanguíneo com cerca de 3 milímetros de circunferência. Um pequeno talho na artéria axilar, uma rápida ligação do ducto em si com uma ligadura de seda fio 8. Pronto.
Eu sabia. Mas saber, infelizmente, nem sempre é poder. Nem querer. Não seria eu a salvar essa preciosa neta.”

Uma adaptação que ficou bem fofa foi o encontro de Brianna com Willian. Na série, Bree sabe sobre a existência do irmão, pois Jamie contou a ela sobre seu outro filho lá na quinta temporada, então o encontro é uma surpresa agradável. No livro, nossa engenheira não fazia ideia da existência do irmão, então vê-lo foi um choque, pois nas páginas de DG tanto ela, quanto o Willian são cara de seu pai, com a diferença os cabelos do irmão são castanhos. O choque vale para Lord John, que percebe o reconhecimento ao qual Brianna chegou. Fiquem com o trecho do choque que esse encontro inicial foi no livro:

“– Quem é aquele, pelo santo nome de Deus? – indagou Roger, baixinho, ecoando o pensamento dela.
Lorde John Grey estava parado junto à extremidade oposta do cais, numa conversa animada com um dos soldados de casaco vermelho. Um oficial; com uma brilhosa trança dourada por sobre o ombro e um tricórnio ornado com galões debaixo do braço. Não foi, no entanto, o uniforme do homem que lhe chamou a atenção.
– Santo Roosevelt do céu – sussurrou ela, sentindo uma dormência nos lábios.
Era alto – muito alto –, de ombros largos e panturrilhas grossas cobertas por meias, que atraíam olhares de admiração de um grupo de mocinhas vendendo ostras. No entanto, não foi apenas o porte do homem que fez um arrepio lhe percorrer a espinha, mas a carruagem, a silhueta, a cabeça erguida e a expressão autoconfiante, que atraíam olhares feito ímãs.
– É o meu pai – disse ela, percebendo, no mesmo instante, que aquilo era ridículo.
Mesmo que Jamie Fraser, por alguma razão inimaginável, resolvesse se disfarçar de soldado e descer às docas, aquele homem era diferente. Quando ele se virou para olhar alguma coisa do outro lado do ancoradouro, ela viu que ele era diferente – magro e musculoso como seu pai, mas ainda com a leveza da juventude. Gracioso como Jamie, porém com um resquício do recém-passado embaraço da adolescência.
Ele se virou mais ainda, as costas iluminadas pelo brilho da luz refletida na água, e ela sentiu os joelhos fraquejarem. O nariz comprido e reto, subindo até a testa alta… a súbita curva dos ossos largos, característicos dos vikings… Roger a segurou com força pelo braço, mas tinha a atenção tão pregada no jovem quanto ela.
– Eu… serei amaldiçoado… – disse ele.
Ela sorveu o ar, tentando respirar.
– E eu também. E ele.
– Ele?
– Ele, ele e ele! – Lorde John, o jovem soldado misterioso… e, acima de tudo, seu pai. – Venha. – Ela se desvencilhou e correu pelo cais, sentindo a alma estranhamente fora do corpo, como se observasse a si própria a distância.
Era como olhar a si mesma em uma casa de espelhos, vendo sua figura – rosto, altura, gestos – subitamente transposta num casaco vermelho e calças de couro de ovelha. Ele tinha o cabelo castanho-escuro, não ruivo, mas grosso feito o dela, com as mesmas ondas leves, o mesmo redemoinho subindo da testa.
Lorde John virou de leve a cabeça e a avistou. Arregalou os olhos, e uma expressão de absoluto horror empalideceu suas feições. Dispensou a eles um aceno débil, tentando impedi-la de se aproximar, mas teria sido mais fácil deter um trem expresso.
– Olá! – disse ela, vivamente. – Que bom encontrar o senhor por aqui, lorde John!
Lorde John soltou um grasnido fraco, como um pato que tivesse levado uma pisada, mas ela não deu atenção. O jovem se virou para olhá-la e abriu um sorriso cordial.
Santo Deus, ele tinha os olhos do pai dela também. De cílios escuros, e tão jovem que a pele ao redor era clara e viçosa, sem qualquer ruga – mas no mesmo tom de azul dos olhos oblíquos e felinos dos Frasers. Tal qual os dela.
O coração de Brianna batia com tanta força no peito que ela tinha certeza de que eles podiam ouvir. O jovem, no entanto, não parecia enxergar nada de errado; curvou-se em uma reverência para ela, sorrindo, porém bastante correto.
– Seu criado, senhora – disse o rapaz.
Olhou para lorde John, claramente à espera das apresentações.
Lorde John se recompôs, com óbvio esforço, e fez uma mesura.
– Minha querida. Que… prazer tornar a encontrá-la. Eu não fazia ideia…
Aposto que não, pensou ela, mas continuou sorrindo cordialmente. Podia sentir Roger atrás de si, assentindo e respondendo à saudação de lorde John, fazendo o possível para não encará-lo.
– Meu filho – dizia lorde John. – William, lorde Ellesmere. – Ele a encarou com os olhos semicerrados, como se a desafiasse a dizer qualquer coisa. – Permita-me lhe apresentar o sr. Roger MacKenzie e sua senhora.
– Senhor. Sra. MacKenzie.
O jovem tomou a mão de Bree antes que ela percebesse o que ele pretendia, então curvou-se em uma mesura, plantando um breve e formal beijo em suas juntas.
Ela quase perdeu o ar ao inesperado toque da respiração do rapaz em sua pele; em vez disso agarrou-lhe a mão, com muito mais força que o pretendido. Ele pareceu desconcertado por um momento, mas se desvencilhou com razoável delicadeza. O rapaz era muito mais jovem do que ela pensara à primeira vista; o uniforme e o ar de autocontrole o faziam parecer mais velho. Ele a encarava com um leve franzido no rosto anguloso, como se tentasse encaixá-la em algum lugar.
– Eu acho… – começou ele, hesitante. – Nós nos conhecemos, sra. MacKenzie?
– Não – respondeu ela, estupefata ao ver sua voz emergir de maneira normal.
– Não, receio que não. Eu me lembraria.
Ela lançou um olhar penetrante a lorde John, cujas narinas assumiram um tom levemente esverdeado.
Lorde John, no entanto, também fora soldado. Recompôs-se com visível esforço, apoiando a mão no braço de William.”

Vamos falar um pouco de viagem no tempo agora? Temos dois momentos para isso no episódio, com os MacKenzie partindo pelas pedras, e posteriormente com Donner apresentando algumas dúvidas. Primeiro, lembram que no episódio passado falamos que o encontro de Donner foi com a Brianna em River Run? Pois então, nele temos uma conversa mais longa sobre viagem no tempo. Não mencionamos no último episódio, pois poderia surgir algo nestem o que não foi o caso. Mas, como na série, Donner não sabe muito como guiar uma viagem, escolher para que época ir, essa é a principal ajuda que ele busca, porém ele descreve como foi o ritual da primeira viagem, que um homem chamado Raymond os ajudou. Confira um pequeno trecho sobre essa conversa:

“Mas acha que houve outros… viajantes… além de você e seus amigos?
Donner deu de ombros, impotente.
– Tive a impressão de que houve, sim. Mas Raymond falou que só cinco podiam passar por vez. Então fomos chegando tipo em grupos de cinco.
Guardamos segredo; ninguém no grupo maior sabia quem podia viajar e quem não, e Raymond era o único a conhecer todo mundo.
Tive de perguntar.
– Como era Raymond, fisicamente?
Uma possibilidade vinha se agitando no fundo da minha mente desde que eu escutara aquele nome.
Donner não esperava essa pergunta, e piscou os olhos.
– Caramba, não sei – falou, num tom de impotência. – Um cara baixinho,
acho eu. Cabelos brancos. Que usava compridos, como todos nós.
[…]
Nem todos os portais eram marcados por círculos de pedra, embora aqueles situados em locais nos quais as pessoas viviam havia muito tempo tendessem a sê-lo.
– Raymond falou que esses são os mais seguros – disse ele, e deu de ombros. – Não sei por quê.
O ponto em Ocracoke não era rodeado por um círculo completo de pedras, embora fosse marcado. Quatro pedras, disse ele. Uma tinha marcas que segundo Raymond eram africanas… talvez feitas por escravos.
[…]
– Continue. Como vocês planejaram chegar na data certa?
– Ah. Bem. – Ele suspirou e encolheu os ombros sobre o banquinho. – A gente não planejou. O Ray disse que seria mais ou menos uns duzentos anos, aproximadamente. A gente não sabia guiar… era isso que eu estava esperando que vocês soubessem. Como chegar numa época específica. Porque, cara, eu com certeza gostaria de voltar e chegar lá antes de me meter com o Ray e os outros.
Seguindo as instruções de Raymond, eles haviam feito um caminho entre as pedras, entoando palavras. Donner não fazia ideia do que estas significavam, nem de que língua era aquela. Ao terminar o caminho, porém, eles haviam andado em fila indiana em direção à pedra com as inscrições africanas, passando cuidadosamente pelo seu lado esquerdo.
– E tipo… pá! – Ele bateu com o punho fechado na palma da outra mão. – O primeiro da fila… ele sumiu, cara! A gente surtou. Quero dizer, era o que deveria ter acontecido, mas… ele sumiu – repetiu Donner, e balançou a cabeça. – Simplesmente… desapareceu.
Animados com aquela prova de eficácia, eles haviam repetido o caminho e o cântico, e a cada repetição o primeiro homem a passar pela pedra tinha desaparecido. Donner fora o quarto a passar.
– Ah, meu Deus – disse ele, e a lembrança o fez empalidecer. – Ah, meu Deus, eu nunca tinha sentido nada como aquilo antes, e espero nunca mais voltar a sentir.
[…]
– O Jojo. Ele estava comigo. Mas estava morto. […]
– Os outros – falei, tentando manter a voz firme. – Eles conseguiram…
Ele fez que não com a cabeça. Continuava suando frio e tremendo, mas o suor recobria seu rosto; ele parecia não estar passando nada bem.
– Nunca tornei a vê-los – falou.”

Trouxe essa conversa pois ela é importante, um dos motivos para nosso casal escolher o círculo de Orakoke, além de ser o mais próximo. E temos também a descrição do ritual de dar a volta nas pedras e então fazer a passagem, que é repetido pelo nosso casal. Outra diferença da série é que, no livro, eles não vão todos juntos, se dividem em duplas. Brianna primeiro com Mandy, então Roger e Jem. Além de tentar uma viagem mais segura, o principal foi o foco, o qual de Brianna era seu tio Joe, e para Roger e Jem, seria Brianna. No livro, Roger também dá para Jemmy a escolha de viajar ou ficar com os avós, mas o menino pula para colo do pai e eles partem. Segue o trecho da viagem da nossa família para você conferir:

“– Eu te amo, mãe! Eu te amo! – disse ela, desesperada.
Então virou-se e, sem olhar para trás, começou a percorrer o caminho que Donner descrevera, cantando baixinho entre os dentes. Um círculo à direita, entre duas pedras, um círculo à esquerda, e de volta ao centro… então à esquerda da pedra maior.
Eu já antecipava; quando ela começou a descrever o trajeto, corri para longe das pedras, parando a uma distância que considerei segura. Não era. O som – dessa vez um estrondo, em vez de um ganido – perpassou meu corpo, paralisando minha respiração e quase meu coração. Uma dor congelante se alojou em meu peito, feito uma faixa, e desabei de joelhos, indefesa e cambaleante.
As duas desapareceram. Pude ver Jamie e Roger correndo para conferir – morrendo de medo de encontrar os corpos, ao mesmo tempo desolados e alegres por não encontrá-los. Eu não podia ver muito bem – minha visão flutuava, o foco ia e vinha –, mas não era preciso. Eu sabia que elas tinham ido, pelo vazio em meu coração.
– Dois já foram – sussurrou Roger. Sua voz era apenas um ronco fraco, e ele pigarreou com força. – Jeremiah. – Baixou os olhos para Jem, que pestanejou, torceu o nariz e se empertigou ao ouvir seu nome formal. – Você sabe o que vamos fazer, não sabe?
Jemmy assentiu, embora com um olhar assustado em direção à pedra que se avultava onde a mãe e a irmãzinha haviam acabado de desaparecer. Ele engoliu em seco e enxugou as lágrimas do rosto.
– Muito bem, então. – Roger estendeu a mão e pousou-a delicadamente sobre a cabeça de Jemmy. – Saiba disso, mo mac… eu vou amar você por toda a minha vida, e nunca vou esquecê-lo. Mas o que estamos fazendo é uma coisa terrível, e você não precisa ir comigo. Pode ficar com o vovô e a vovó Claire; não tem problema.
– Eu não… não vou ver a mamãe de novo?
Jemmy, de olhos arregalados, não parava de encarar a pedra.
– Eu não sei – disse Roger; pude ver as lágrimas contra as quais ele lutava e as ouvi em sua voz embargada. Ele próprio não sabia se tornaria a ver Brianna, ou a pequena Mandy. – Talvez… talvez não.
Jamie baixou os olhos e encarou Jem, agarrado à sua mão, alternando o olhar entre o pai e o avô, com o semblante tomado de confusão, medo e ânsia.
– Se um dia, a blailach – disse Jamie, em tom coloquial –, você conhecer um rato bem grande chamado Michael… diga que seu avô mandou lembranças.
Ele abriu a mão, soltou o menino e assentiu para Roger.
Jem permaneceu olhando por um instante, então firmou os pés e correu em direção ao pai, espalhando areia por sob os sapatos. Pulou em seus braços, agarrando-o pelo pescoço, e com uma última olhada para trás Roger se virou e foi para trás da pedra; minha cabeça explodiu em chamas.
Depois de um tempo inimaginável, comecei a retornar, lentamente, descendo das nuvens fragmentadas feito pedras de granizo. E me vi deitada com a cabeça no colo de Jamie. E o ouvi dizer baixinho, para si mesmo ou para mim:
– Por você, vou continuar… mas, se fosse só por mim… não faria isso.”

Como vocês podem notar, o episódio foi extremamente fiel, as mudanças bem suaves, adaptando para trama. As principais mudanças foram circunstanciais, momentos diferentes de série e livro, porém fazendo plenos sentido em ambas narrativas. O livro sempre é mais amplo, com mais acontecimentos entre uma coisa e outra, mas a série está fazendo um lindo trabalho na adaptação, o que está deixando esta que vos fala muito empolgada com essa temporada.

E você Sasse, o que achou do episódio? Curtiu a adaptação? Deixe seu comentário! ?

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