[Resenha] Outlander 5×10 – Mercy Shall Follow Me
“- Brianna… isso foi por misericórdia ou foi para ter certeza de que ele morreu? “– Roger Mac
Mercy Shall Follow Me, o décimo episódio de Outlander foi desconfortável de assistir. Não que tenha sido ruim, pelo contrário foi bom e talvez com a melhor atuação que Sophie Skelton já tenha nos dado. Porém foi desconfortável ver o vilão Stephen Bonnet ser humanizado.
Desde que Bonnet surgiu na quarta temporada, confesso que fiquei seduzida pelo talento e carisma de Ed Speleers. Era nítido que depois do odioso Black Jack Randall, Bonnet seria o vilão que incomodaria nossos heróis. Quando Jamie, Roger e Ian colocam o seu plano de vingança em ação para matar Bonnet, Claire e Brianna ficam sozinhas, mas sendo vigiadas. Jamie é traído por Phillip Wylie e enquanto eles têm um encontro animado com os homens de Bonnet, Claire e Brianna também se encontram com Bonnet na praia.
Mãe e filha estão desfrutando de uma tarde à beira mar. Lembrando de momentos que compartilharam no futuro como caminhar pela areia e olhar o mar. Elas avistam baleias e lembram do romance de Herman Melville – Moby Dick que conta a história de uma grande baleia branca que é perseguida obsessivamente pelo capitão Ahab que teve a sua perna arrancada por ela anos antes -. E é nessa paisagem que Bonnet aparece, domina Claire e sequestra Brianna como a baleia do romance.
E o desconforto começa nos longos minutos compartilhados entre Brianna e Bonnet. Ele a quer e a Jemmy, porque acha que é o pai da criança. Ah, Diana Gabaldon, eu juro que não consigo entender o porquê de Brianna grávida procurar o homem que a estuprou e deixar que ele pensasse que o filho era dele. Mas… enfim.
Nesses minutos desconfortáveis, Brianna tenta superar o seu medo e enganar Bonnet. Ganhar tempo até que seja resgatada e finge que está aceitando o plano que o seu estuprador tem em mente que é de viver com ela e Jemmy como uma família, já que Bonnet deixa claro que não a ama, mas deseja aprender a amar o filho, além é claro de reinar em River Run. Ele foi um órfão, sem mãe e nem pai. Que foi enganado e deixado para morrer. Aprendeu com a vida a ser assim e agora quer aprender a ser civilizado. Brianna ensina como usar os talheres durante uma refeição e com astúcia evita que a noite termine na cama, fingindo que lê o romance Moby Dick. Ela conta a história do terrível monstro branco que um dia arrancou a perna do capitão que vive agora obstinado com a sua vingança, mas acaba encontrando o seu fim ao ter seu navio afundado pela baleia. Bonnet fala do temor que sente mesmo sendo um pirata de morrer afogado, pois no mar povoam terríveis criaturas.
O que me deixou e deixa desconfortável tanto no livro como na série, foi de como quiseram humanizar Bonnet. Bonnet foi um órfão que não teve o amor e a orientação em sua vida, mas ele é um homem mau. Fergus também foi um órfão que nasceu em um bordel e vivia de roubar carteiras em Paris. Ele sofreu violências terríveis, se prostituiu, foi violentado e passou fome. Encontrou Jamie e com ele um pai, porém mesmo quando era um ladrão sem rumo, ele jamais fez maldades. Jamie e Claire encontraram Bonnet quando ele fugia da forca. Eles o salvaram e o ajudaram. Deram a Bonnet misericórdia e uma nova chance, só que Bonnet retribuiu mais tarde atacando Claire e os roubando. Depois violentou Brianna, jogou pessoas do seu navio porque estavam doentes – inclusive crianças – e por várias vezes cortou gargantas a sangue frio sem sequer titubear. Bonnet pode ter sido uma vítima das circunstâncias, mas ele escolheu o seu caminho. Dificilmente pessoas como Bonnet mudam e Brianna percebeu que ela estava lidando com um vilão quando depois ele a vendeu como uma mercadoria. Então, me desculpem, mas não consigo gostar dessa versão humanizada de Bonnet que sempre foi um pessoa má, sem escrúpulos e arrependimentos.
Jamie e Claire conseguem descobrir através de uma prostituta que Claire ajudou com o seu conhecimento médico onde encontrar Bonnet. Eles conseguem prender o vilão e resgatar Brianna. Mesmo Roger se esforçando em mostrar que pode matar Bonnet e reivindicando para ele a vingança, é Brianna quem decide que Bonnet seja entregue às autoridades e que seja julgado por todos os seus crimes. Depois Bonnet recebe sua sentença de morte amarrado em uma estaca enquanto espera que a maré suba e o afogue. O maior temor de Bonnet enfim se realiza, ele vê de forma lenta e torturante a maré subindo e o afogando aos poucos, talvez imaginando as temíveis criaturas que povoam a superfície embaixo. Esse temor de Bonnet talvez seja uma analogia da alma humana e sobretudo o que existe submerso nela. No momento final do episódio, Bonnet recebe um tiro de misericórdia de Brianna e morre antes de se afogar. Ao ser questionada por Roger se aquele ato foi por misericórdia ou para ter certeza de que ele morreu, ela vai embora sem falar nada. Eu sinceramente acredito que Brianna fez aquilo por ela, por Roger, pelo filho, pelos pais e até mesmo por Bonnet. Talvez Brianna não quisesse carregar o mesmo fardo do capitão Ahab que devotou a sua vida por uma vingança cega e levou com ele muitas pessoas à morte. E dar o tiro de misericórdia no momento final, talvez significasse para ela o ponto final para o seu trauma e a paz para o seu coração, pois quem esquece a vingança faz mais bem para si mesmo.
Foi um episódio bom e sem momentos para piscar, mas também rápido e cheio de atropelos. Corrido como se quisessem encerrar a trama do quinto livro nesse momento e já inserindo tramas que aconteceriam somente na próxima temporada. Como já falei anteriormente, o quinto livro é um dos mais arrastados, mas também possui momentos maravilhosos da vida cotidiana de Fraser’s Ridge e momentos tão pouco explorados entre pai e filha na série. E pelo o que foi divulgado pela Starz, os próximos episódios trarão especificamente acontecimentos terríveis do sexto livro e que sinceramente não gostaria que estivessem nem no livro ou na série, porém só nos resta aguardar para ver como será. Parabéns a Ed Speleers por nos entregar um ótimo vilão, mas não sentirei falta dele.
OUT¹: Sempre é bom ver Maria Doyle Kennedy interpretar Jocasta que com a sua sagacidade enredou em uma armadilha Gerald Forbes que foi forçado a mostrar a sua real face. Ainda bem que Ulisses estava pronto para salvá-la.
OUT²: Volto a dizer que Diana não precisava fazer com que Brianna grávida visitasse Bonnet na prisão. Por que isso Diana?
OUT³: Adorei a cena de Claire e Brianna andando juntas pela praia. Em tempos de quarentena e distanciamento social senti um pouco como se caminhasse pela areia e o toque da água do mar em meus pés, além do cheiro de maresia e da sensação de catar conchinhas só pelo prazer de estar contemplando a grandiosidade do mar. Sintomas dessa terrível pandemia… e até a próxima!
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