Livro vs Série – 5×10 – Mercy Shall Follow Me
Misericórdia! O décimo episódio, “Mercy Shall Follow Me”, chegou chegando com um verdadeiro mix em sua adaptação. Assistimos à uma história similar a dos livros, sim livros, pois episódio reuniu as duas principais tramas que envolviam Bonnet nos livros 5 e 6 transforando tudo em uma única narrativa. Com isso, tivemos a conclusão da história de mais de um personagem na série. Agora vamos para o que é bom e começar o comparativo.
Para início de conversa, vamos quebrar o enredo em partes. Basicamente, temos a armadilha da ilha de Wylie e os eventos da praia pertencentes ao quinto livro, e na outra ponta toda a trama do sequestro de Brianna, que ocorre quase no final do sexto livro. As parcerias de Bonnet também são diferentes em cada caso. Na primeira parte, seus cúmplices são o tenente Wolf (um soldado gordinho que dá as caras lá na quarta temporada), um magistrado e um xerife. O tenente tem interesse em River Run e seus tesouros, é ele quem ataca Jocasta e acaba morto. O magistrado e o xerife (personagens não adaptados) têm interesse no whiskey de Jamie e também tem um acordo com Bonnet, no qual prometem dar cabo de nosso highlader, que caça o pirata incessantemente no livro. São eles que encontram Jamie e Roger na ilha. As mulheres, Claire, Brianna e Marsali (ela tá aqui também) ficam em Wilmington, junto com as crianças e, como na série, são surpreendidas pelo pirata, porém o fim dessa trama é diferente. Já no enredo do sequestro pertence ao sexto livro, sendo orquestrado por Neil Forbes.
Então, vamos focar no primeiro momento. No episódio, temos a armadilha, mas tudo é rapidamente resolvido. No livro, nossos escoceses têm mais trabalho, e até ganham a ajuda de Philip Wylie, que aparece lá por outro motivo totalmente diferente. No entanto a conclusão é basicamente a mesma, com Jamie e Roger (Ian ainda não voltou nesse ponto) retornando para Wilmington e ouvindo das mulheres o que se passou por lá. Ah! As mulheres! O encontro é um pouco diferente, apesar de parte do diálogo se manter. Bonnet está ali para levar Bree e Jemmy para usar como reféns, visando chantagear Jocasta para roubar os tesouros de River Run. O desenrolar de tudo que é diferente. Uma arma falha, a de Marsali, mas a de Brianna não, ela acerta o pirata em suas partes baixas, o que faz com ele fuja. Depois a família se reúne e atualiza as histórias. Confira alguns trechos do encontro com Bonnet, assim como a conversa pós ocorrido:
“Os olhos de Bonnet eram verde-claros como os de um gato e brilharam naquele momento com a intensidade de um felino que localiza um rato.
– E quem é esse lindo rapazinho? – perguntou ele, dando um passo na minha direção.
– Meu filho – falei na mesma hora, pressionando Jemmy com força contra meu ombro, ignorando seus protestos.
Com a obstinação natural das crianças pequenas, ele parecia fascinado pela cadência irlandesa de Bonnet e não parava de virar a cabeça para observar o desconhecido.
– É parecido com o pai, dá para ver.
Gotas de suor brilhavam nas densas sobrancelhas louras. Com a ponta do dedo, alisou primeiro uma, depois a outra, e o suor escorreu pela lateral de seu rosto, mas os olhos verde-claros não vacilaram.
– Assim como a… irmã. E sua linda filha está aqui por perto, minha cara? Gostaria de renovar meus votos de amizade. Uma jovem encantadora, Brianna.
Ele sorriu.
– Sem dúvida você gostaria – falei, sem fazer esforço para disfarçar a raiva em minha voz. – Não, ela não está aqui. Está em casa… com o marido.
[…]
Minha esperança era que alguma outra pessoa aparecesse. O tempo estava úmido e pegajoso, mas ainda não chovia, e ali era um lugar procurado para piqueniques, segundo a sra. Burns. Se alguém de fato aparecesse, como eu poderia tirar proveito disso? Eu sabia que Bonnet não teria o menor remorso em atirar em quem cruzasse seu caminho – ele se gabava do restante de seus planos sanguinários.
– A sra. Cameron, ou a sra. Innes agora, pareceu disposta a falar depois que sugeri que seu marido poderia acabar perdendo algumas de suas partes mais preciosas, mas, no fim das contas, ela também estava mentindo, a velha trapaceira. Ocorreu-me, pensando na questão mais tarde, que talvez ela se mostrasse mais disposta a colaborar se seu herdeiro estivesse em risco. – Meneou a cabeça na direção de Jemmy e estalou a língua para o menino. – Então, rapaz, vamos ver sua tia-avó?
Jemmy olhou para Bonnet com desconfiança, aconchegando-se em mim.
– Quê? – perguntou ele.
– Ah, uma criança esperta conhece o pai, não é? Sou seu pai, garoto, sua mãe não lhe contou?
– Papai? – Jemmy olhou para Bonnet, depois para mim. – Não é papai!
– Não, ele não é seu pai – tranquilizei Jemmy, mudando-o de posição em meu colo. Meus braços começavam a doer por causa do peso. – Ele é um homem mau, nós não gostamos dele.
Bonnet riu.
– Não tem vergonha, minha cara? Claro que ele é meu, foi sua própria filha quem disse, na minha cara.
– Bobagem – retruquei.
[…]
Eu me movi, girei nos calcanhares e coloquei Jemmy no chão, do outro lado dos arbustos.
– Corra! – disse com urgência para ele. – Corra, Jem! Vá!
[…]
– Fique onde está, ou juro pela Virgem Maria que vou explodir seus miolos!
Arfando por causa da queda, eu me sentei devagar e vi Marsali, pálida como uma folha de papel, mirando a antiga arma na direção dele por cima do volume de sua barriga.
– Atire nele, maman! – Germain estava atrás dela, o rosto tomado de ansiedade. – Atire nele como em um porco-espinho!
[…]
Então ele se contorceu e virou-se como um peixe se debatendo, passando o braço ao redor de meu pescoço e segurando-me contra o peito. Ouvi o som de algo metálico passando pelo couro e senti um objeto frio pressionando minha garganta.
Parei de resistir e respirei fundo.
Os olhos de Marsali estavam arregalados, a boca fechada e contraída. Seu olhar, graças a Deus, ainda estava fixo em Bonnet, assim como a arma.
– Marsali – falei, com muita calma –, atire nele. Agora mesmo.
– Abaixe a arma, mocinha – disse Bonnet, com a mesma calma –, ou corto a garganta dela no três. Um…
– Atire nele! – gritei com todas as minhas forças, puxando o ar pela última vez.
– Dois.
– Espere!
A pressão da lâmina em minha garganta diminuiu e eu senti o corte quando respirei, o que eu não esperava fazer de novo. Não tive tempo de aproveitar a sensação, no entanto; Brianna surgiu em meio às murtas, com Jemmy agarrado às suas saias.
– Largue ela!
Marsali estava prendendo a respiração; soltou o ar com uma arfada e inspirou com força.
– Ele não vai me soltar, e isso não importa – falei com firmeza para as duas. – Marsali, atire nele. Agora!
Ela segurou a arma com mais força, mas não conseguia dispará-la. Olhou para Brianna, pálida, e então para Bonnet de novo, com a mão trêmula.
– Atire nele, maman! – sussurrou Germain, mas a ansiedade havia desaparecido de seu rosto. Ele também estava pálido e agarrado à mãe.
– Você vem comigo, querida, você e o menino. – Eu sentia a vibração no peito de Bonnet enquanto ele falava e o sorriso em seu rosto, mesmo sem vê-lo. – Os outros podem ir.
– Não faça isso – falei, tentando fazer Bree olhar para mim. – Ele não vai nos deixar ir, você sabe que não. Ele vai me matar e matar Marsali, não importa o que diga. A única coisa a fazer é atirar nele. Se Marsali não consegue, Bree, você vai ter que atirar.
Isso chamou a atenção dela. Seus olhos se arregalaram para mim, chocados, e Bonnet grunhiu, meio contrariado, meio rindo.
– Condenar a própria mãe? Ela não é o tipo de garota que faria isso, sra. Fraser.
– Marsali, ele vai matar você e o bebê – falei, forçando cada músculo para fazê-la entender, para fazer com que atirasse. – Germain e Joan vão morrer aqui sozinhos. O que acontecer a mim não importa, pode acreditar. Pelo amor de Deus, atire nele agora!
Ela atirou.
Uma faísca surgiu, junto com uma pequena nuvem de fumaça branca, e Bonnet fez um movimento brusco. Então Marsali relaxou a mão, o cano da arma voltado para baixo e a bucha e a bala caíram na areia com um som baixo. Tiro falhado.
Marsali gemeu, horrorizada, e Brianna se moveu como um relâmpago, pegando o balde caído e atirando-o na cabeça de Bonnet. Ele gritou e se atirou para o lado, soltando-me. O balde me atingiu no peito e eu o peguei, olhando para dentro dele como uma tola. Estava molhado, com várias bagas de cera azul-esbranquiçadas grudadas à madeira.
Então Germain e Jemmy começaram a chorar, Joan berrando a plenos pulmões no meio da mata, e eu larguei o balde e rastejei desesperadamente para me abrigar atrás de um arbusto de chá-dos-apalaches.
Bonnet estava de pé outra vez, o rosto vermelho, a faca na mão. Era claro que estava furioso, mas ele se esforçou para sorrir para Brianna.
– Ah, agora, querida – disse ele, tendo que elevar a voz para ser ouvido em meio à algazarra. – Quero apenas você e meu filho. Não vou fazer mal a nenhum de vocês dois.
– Ele não é seu filho – disse Brianna, a voz baixa e feroz. – Ele jamais será seu.
Ele riu, desdenhando.
– Ah, é? Não foi o que ouvi naquele porão em Cross Creek, querida. E olhando para ele agora… – Ele olhou para Jemmy outra vez, assentindo devagar. – Ele é meu, querida. É a minha cara, não é, garoto?
Jemmy escondeu o rosto nas saias de Brianna, berrando a plenos pulmões.
Bonnet suspirou, deu de ombros e desistiu de qualquer tentativa de conquistá-lo.
– Vamos logo – disse ele, dando um passo à frente, obviamente com a intenção de pegar Jemmy.
A mão de Brianna ergueu-se do meio das saias, mirando a pistola que eu havia arrancado do cinto dele bem no lugar de onde ela viera. Bonnet parou, boquiaberto.
– E então? – sibilou ela, os olhos fixos nele, sem piscar. – Você mantém a sua pólvora seca, Stephen?
Ela segurou a pistola com ambas as mãos, mirou no meio das pernas dele e atirou.
Ele foi rápido, devo admitir. Não teria tempo de se virar e correr, mas conseguiu cobrir suas bolas com as mãos no mesmo instante em que ela puxou o gatilho. O sangue explodiu em um jorro espesso através de seus dedos, mas eu não sabia dizer o que o tiro havia atingido.
Ele cambaleou para trás, as mãos unidas ao corpo. Olhou desesperado ao redor, como se não conseguisse acreditar no que estava acontecendo, e então caiu apoiado em um dos joelhos. Ouvi sua respiração rápida e difícil.
Nós todos ficamos paralisados, observando. Uma de suas mãos resvalou a areia, deixando sulcos ensanguentados. Então ele se levantou, devagar, dobrou-se sobre si mesmo, a outra mão pressionada entre as pernas. Seu rosto estava mortalmente pálido, os olhos verdes como água suja.
Cambaleou, arfando, e fugiu como um inseto que acaba de ser pisoteado, gotejando e se deslocando com dificuldade. Ouvimos estalidos conforme ele se embrenhava no meio dos arbustos, e então ele desapareceu.
[…]
– Então, Bonnet não está morto? – perguntou Roger, abrindo um dos olhos.
– Bem, não sabemos – expliquei. – Ele conseguiu fugir, mas não sei se o ferimento foi grave. Não havia uma quantidade muito grande de sangue, mas se foi atingido na parte inferior do abdômen, foi um ferimento muito grave, e quase certamente fatal. Peritonite é uma maneira muito lenta e sofrida de morrer.
– Ótimo – disse Marsali, de modo vingativo.
– Ótimo! – repetiu Germain, olhando para ela com orgulho. – Maman atirou no bandido, grand-père – disse ele a Jamie. – E a titia também. Ele ficou cheio de buracos, havia sangue por todo lado!
– Buracos – disse Jemmy alegremente. – Buracos, buracos, muitos buracos!
– Bem, talvez um furo – murmurou Brianna.
Ela não desviou os olhos do pano molhado com o qual limpava delicadamente o sangue seco do couro cabeludo e dos cabelos de Roger.
– Ah, é? Bem, se você só arrancou um de seus dedos ou uma de suas bolas, ele pode sobreviver – observou Jamie, sorrindo para ela. – Mas creio que isso não melhoraria em nada o temperamento dele.”
Agora sobre a segunda parte, o rapto de Brianna. No livro, há todo um interesse político envolvendo o ocorrido. Neil Forbes ordena o sequestro da moça, com intenção de desestabilizar Jamie, com quem possui alguns conflitos ao longo do sexto livro. Ele paga Bonnet para levar Bree até a Inglaterra e deixa-la por lá. No entanto, pensando em lucrar e sem qualquer perspectiva de voltar a ver o advogado, o pirata revolve dar outro destino a nossa engenheira. O advogado perde importância após essa trama, e sua morte prematura na série não vai afetar a narrativa no futuro. Confira um trecho da conversa entre Bonnet e Brianna sobre as razões do sequestro:
“– Por que estou aqui? – inquiriu ela.
Distraído, ele puxou outra vez a braguilha da calça, bastante alheio à sua presença.
– Aqui? Ora, porque um cavalheiro me pagou para levá-la à cidade de Londres, querida. Você não sabia?
Ela se sentiu como se tivesse levado um soco no estômago; sentou-se na cama e cruzou os braços por sobre o tronco, num gesto de proteção.
– Que cavalheiro? E, pelo amor de Deus… por quê?
Ele refletiu por um instante, mas evidentemente concluiu que não havia razão para não contar.
– Um homem chamado Forbes – respondeu, então virou o restante da bebida. – Você o conhece, não?
– É claro que conheço – respondeu ela, o assombro duelando com a fúria. – Aquele desgraçado maldito!
Então eram os homens de Forbes, os bandidos mascarados que a haviam interceptado com Josh, arrancado os dois de seus cavalos e os empurrado numa carruagem fechada. Eles sacolejaram por estradas indistinguíveis durante dias a fio até chegarem à costa, então foram removidos, desgrenhados e fedidos, e embarcados no navio.
– Onde está Joshua? – perguntou ela, abruptamente. – O jovem negro que veio comigo?
– Veio? – retrucou Bonnet, intrigado. – Se tiver embarcado, imagino que o tenham posto no porão de cargas. Um bônus, suponho – acrescentou, com uma risada.
A fúria de Brianna em relação a Forbes fora matizada pelo alívio de descobrir que era ele a razão por trás de seu sequestro; Forbes podia jogar sujo e ser um canalha vil, mas não pretendia matá-la. A risada de Stephen Bonnet, porém, suscitou nela uma náusea gélida e uma súbita tontura.
– Como assim, um bônus?
Bonnet coçou o rosto, os olhos cor de uva verde a perscrutá-la em aprovação.
– Ah, pois bem, então. O sr. Forbes só queria que você saísse do caminho, segundo me disse. O que foi que você fez ao sujeito, querida? Mas ele já pagou a sua passagem, e tenho a impressão de que não está muito interessado em saber onde você vai parar.
– Onde eu vou parar?
Ela estivera com a boca seca; agora a saliva jorrava de suas membranas, e ela tinha que engolir repetidas vezes.
– Ora, querida. Afinal de contas, por que me dar o trabalho de levá-la até Londres, onde não seria útil a ninguém? Além disso, chove bastante em Londres; tenho certeza de que você não ia gostar.”
No livro, Brianna também recorre a uma prostituta para tentar avisar sua família de seu destino. Elas se encontram no navio, antes de partir para a ilha do pirata. Depois disso, a moça da vida encontra a família de Bree informa o que sabe (sim tem uma trama envolvendo a prostituta, diferente da série, mas não cabe aqui rs). Na ilha, Bonnet não está sozinho, ele possui um auxiliar além de alguns escravos que comercializa as vezes. Uma vez prisioneira lá, Bree, apanha, é oferecida a leilão a homens nojentos (o que a série retratou bem), mas uma diferença que podemos sentir é sua passividade. No livro ela revida e também tenta fugir. Depois um ou dois dias, vendo que seu destino era incerto, ele foge pelo telhado, quase é capturada de novo, mas sua família já está na ilha para a operação de resgate nesse meio tempo e a encontra. Confira um trecho da fuga e reencontro:
“Ela se levantou para afastar a cama do vazamento, então parou. Lentamente, espichou o corpo e levou uma das mãos à parte úmida. O pé-direito era do tamanho normal para a época, pouco mais de 2 metros; ela podia tocá-lo com facilidade.
– A danada é alta – disse, em voz alta. – Pode ter certeza disso.
Ela espalmou a mão sobre a área molhada e empurrou com toda a força. O gesso cedeu na mesma hora, bem como os sarrafos podres por detrás. Brianna puxou a mão de volta depressa, arranhando o braço nas pontas denteadas da madeira, e pelo buraco aberto jorrou uma pequena cascata de água suja, centopeias, cocô de rato e fragmentos de folhas de palmeira.
Ela limpou a mão na camisola, estendeu o braço, agarrou a borda do buraco e foi puxando, removendo nacos de ripas e gesso até formar um buraco que acomodasse sua cabeça e ombros.
– Ok – sussurrou para si mesma.
Olhou em volta do quarto, vestiu o espartilho por sobre a camisola e meteu a barbatana afiada na frente.
Então subiu na cama, respirou fundo, ergueu os braços esticados, como se fosse mergulhar, e tateou o buraco, tentando agarrar qualquer coisa sólida que servisse de alavanca. Pouco a pouco foi se içando, suando e grunhindo, para dentro do telhado quente e úmido de folhas pontiagudas, os dentes cerrados e os olhos fechados contra a poeira e os insetos mortos.
Sua cabeça despontou ao ar livre, e ela arquejou em busca de ar. Tinha um cotovelo enganchado por sobre uma viga, e, usando-o como alavanca, içou-se mais um pouco. Suas pernas chutavam o ar em vão, tentando impulsionar o corpo, e ela sentiu a distensão dos músculos dos ombros, mas o puro desespero a alavancou – além da visão aterrorizante de Emmanuel entrando no quarto e dando de cara com a metade inferior de seu corpo pendendo do teto.
[…]
Ela se pôs imediatamente alerta e deu meia-volta para começar a correr. Não avançou mais de seis passos até sentir um braço na garganta, derrubando-a no chão.
– Quietinha, querida – disse Bonnet em seu ouvido, ofegante. Ele estava quente, e os pelos eriçados de sua barba lhe arranharam a bochecha. – Não pretendo lhe fazer mal. Vou deixá-la em segurança na costa. Mas você é a única coisa que eu tenho agora para evitar que os seus homens me matem.
Ele ignorou por completo o corpo de Emmanuel. Removeu o pesado antebraço da garganta de Brianna e segurou-a pelo braço, tentando arrastá-la na direção oposta à da praia – evidentemente, pretendia chegar à enseada encoberta do lado oposto da ilha, onde eles haviam atracado na véspera.
– Ande, querida. Agora.
– Tire as mãos de mim! – Ela cravou os pés com força, puxando o braço preso. – Eu não vou a lugar nenhum com você. SOCORRO! – gritou, o mais alto que pôde. – SOCORRO! ROGER!
Com o rosto surpreso, ele ergueu o braço livre para afastar a chuva dos olhos.
Havia algo em sua mão; a última luz do dia reluzia alaranjada sobre um frasco de vidro. Santo Deus, ele havia trazido o testículo.
– Bree! Brianna! Cadê você?
Era a voz de Roger, frenética; uma descarga de adrenalina a invadiu, dandolhe a força para se desvencilhar do punho de Bonnet.
– Aqui! Estou aqui! Roger! – gritou ela, a plenos pulmões.
Bonnet olhou por sobre o ombro; os arbustos balançavam, com pelo menos dois homens avançando por entre eles. Sem perder tempo, ele disparou floresta adentro, agachando-se para evitar um galho, e desapareceu.
No instante seguinte, Roger irrompeu das moitas e a agarrou, trazendo-a para si.
– Está tudo bem? Ele machucou você?
Ele havia baixado a faca e a segurou pelos braços, tentando olhar para tudo de uma vez… seu rosto, corpo, olhos…
– Tudo bem – respondeu ela, tonta. – Roger, eu estou…
– Para onde ele foi?
Era o pai dela, encharcado e soturno feito a morte, segurando um punhal.”
Dali em diante, temos a captura de Bonnet e seu destino escolhido por Brianna: a prisão, que leva a condenação, e o tiro final. Tudo conforme vimos no episódio. Uma diferença que vale ressaltar é que se passam meses da prisão até a condenação. O tiro, cujo o motivo fica ambíguo no episódio, nada mais é do que Brianna cumprindo sua palavra. Bonnet não só conta de seu pesadelo, mas sonha perto dela, ela o consola de forma maternal, para evitar qualquer avanço indevido, e promete não deixar que o mar faça nenhum mal ao pirata. Confira a conversa de Brianna e Roger antes da execução:
“– Eu devia tê-lo matado em Ocracoke – disse ela, fechando os olhos e afastando algumas mechas de cabelo. O sol agora estava mais alto e brilhava no céu. – Fui covarde. A-Achei que fosse mais fácil deixar… deixar nas mãos da lei. – Ela abriu os olhos e o encarou, os olhos vermelhos, porém nítidos. – Não posso deixar isso acontecer desse jeito, mesmo que não tivesse dado a minha palavra.
Roger compreendia; sentia o terror da maré subindo, o inexorável rastejo das águas por sobre os ossos. Levaria quase nove horas para que a água chegasse ao queixo de Bonnet; ele era alto.
– Eu faço – disse, com muita firmeza.
Ela tentou abrir um sorriso, mas não conseguiu.
– Não – retrucou. – Não faz, não.
[…]
– É, bom… – Ele pousou as mãos sobre as dela, agarrando seus dedos compridos e fortes. – Eu também fiz um juramento a você, quando lhe contei. Disse que jamais poria Deus acima do meu… do meu amor por você.
Amor. Ele não acreditava que estivesse debatendo uma coisa daquelas em termos de amor. De todo modo, tinha a mais estranha sensação de que era assim que ela enxergava.
– Eu não fiz nenhum tipo de voto – retrucou ela com firmeza, puxando as mãos de baixo das dele. – E dei a minha palavra. […]
– E tem mais uma coisa – disse ela, sóbria e meio triste. – Eu sou a única pessoa no mundo para quem isso não recai como assassinato.”
Podemos concluir que foi uma boa adaptação, optando por finalizar a trama de Bonnet ainda nessa temporada. Um mix bem feito e bem amarrado. Algumas alterações podem afetar a narrativa no futuro, mas nada que não possa ser adaptado. Há questões relevantes que tem ligação com essa narrativa no livro, envolvendo River Run por exemplo, que ainda esperamos ver em cena. Aliás, muita coisa nos aguarda nessa reta final, incluindo novas tramas do sexto livro. Você não tem que se preocupar, Sopro de Neve e Cinzas é um livro extremamente vasto, anteciparem algumas narrativas apenas dá espaço para outras serem adaptadas no futuro.
Por hoje é só isso tudo! E você, Sasse, curtiu o episódio? Foi surpreendida com a trama adaptada? Faria diferente? Tá ansiosa com essa reta final da temporada? Comente! 😉
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