2ª temporada,  Série

Livro vs Série – 2×04 – La Dame Blanche

E a bruxa tá solta no quarto episódio, no caso a Dama Branca hehehe… Brincadeiras a parte, acompanhamos mais um passo na teia de intrigas e conspirações que nossos protagonistas se envolveram em Paris, e suas consequências. Um episódio bem adaptado, com algumas mudanças que comentaremos a seguir.

Vamos começar com nosso lindo casal. Uma da alteração que irritou muitos fãs foi o longo tempo que o Jamie levou para superar seu trauma e se reaproximar de Claire. No episódio, vemos que isso ocorre após a descoberta que Black Jack está vivo, o que acende uma chama de promessa de vingança em Jamie, permitindo que ele foque no futuro e não mais no passado. Toda essa trama que envolve enfrentar o trauma e focar no futuro ocorre ainda no primeiro livro, nas semanas que Jamie passa se recuperando no monastério. Falamos disso no livro vs série do episódio 1×16. A conversa de nosso casal, na qual Jamie confessa se sentir nu e exposto, mas tendo agora um abrigo e um telhado se refugiar é sim do original do livro, mas do primeiro. Mas então não temos brigas por conta de prostitutas ou conversas profundas? Temos sim, mas o contexto é diferente. Jamie tem que acompanhar os nobres em “reuniões sociais” e acaba tendo que defender sua virtude. No livro fica mais fácil entender as marcas deixadas, já que ele usa kilt. Quando conta tudo para Clarie, após certa briga por ciúmes, eles terminam tendo uma conversa muito sincera, sobre como Wentworth os marcou. Se você para e pensa, faz sentido a forma como a série adaptou todo o contexto, para dar um sentido para o personagem dentro da história, uma vez que o livro é mais rico em detalhes para auxiliar a construir o cenário narrativo.

Confira um trecho do diálogo:

— Jamie — disse por fim.
— Sim?
— Não quero discutir seus métodos e concordamos que você tivesse que ir a alguns extremos, mas… você realmente teve que…
— O quê, Sassenach? — Ele parara de se lavar e me observava intensamente, a cabeça inclinada para o lado.
— Que… que… — Para meu aborrecimento, eu estava ficando tão vermelha quanto ele, mas sem o pretexto da água quente.
Sua enorme mão ergueu-se, escorrendo água, e pousou no meu braço. O calor úmido queimou minha pele através do tecido fino da manga.
— Sassenach, o que acha que andei fazendo?
— Hã, bem — hesitei, tentando inutilmente manter os olhos afastados das marcas em sua perna. Ele riu, embora não parecesse estar realmente achando graça.
— Ah, mulher de pouca fé! — disse ele ironicamente.
Afastei-me do alcance de seu braço.
— Bem — disse —, quando o marido de uma pessoa volta para casa coberto de mordidas e arranhões e fedendo a perfume barato, admite que passou a noite numa casa obscena e…
— E lhe diz francamente que passou a noite observando e não fazendo?
— Você não conseguiu essas marcas na perna observando! — retruquei rispidamente, cerrando os lábios em seguida. Senti-me como uma mulherzinha chata e ciumenta, e não gostei da sensação. Prometi a mim mesma agir com toda a calma, como uma mulher do mundo, dizendo a mim mesma que eu tinha absoluta confiança em Jamie e, só por segurança, que não se pode fazer omeletes sem quebrar os ovos. Ainda que alguma coisa tivesse de fato acontecido…
Alisei o lugar úmido em minha manga, sentindo o ar se esfriar através da seda refrescante. Esforcei-me para recuperar meu tom de voz calmo de antes.
— Ou essas são as cicatrizes de um honroso combate, adquiridas ao defender sua virtude? — De qualquer forma, o tom de voz ameno não se materializou. Ouvindo a mim mesma, tinha que admitir que o tom geral da minha voz era na verdade totalmente perverso. Eu já estava deixando de me importar.
Não sendo nenhum tolo em interpretar tons de vozes, Jamie estreitou os olhos para mim e pareceu prestes a responder. Inspirou fundo, depois aparentemente pensou melhor no que pretendia dizer e soltou o ar outra vez.
— Sim — disse ele com calma. […]
— Só observou, não é? — perguntei friamente. — Devo supor que não aproveitou nem um pouco, não é, coitado!
Ele enfiou-se de volta na tina com uma violência que fez a água derramar-se pelas bordas, batendo no assoalho de pedra, e virou-se para olhar para mim.
— O que quer que eu diga? — perguntou ele. — Se eu quis fazer sexo com elas? Sim, eu quis! O bastante para fazer minhas bolas doerem por não fazer. E o bastante para me fazer sentir enjoado com a ideia de tocar uma das vadias.
Afastou bruscamente os cabelos encharcados dos olhos, fitando-me furioso.
— É isso que queria saber? Está satisfeita agora?
— Na verdade, não — respondi. Meu rosto estava afogueado e encostei a bochecha contra a vidraça gelada da janela, as mãos agarradas ao peitoril.
— Aquele que olha para uma mulher com desejo em seu coração já cometeu adultério com ela. É assim que você vê isso?
— É como você vê?
— Não — respondeu ele secamente. — Não vejo assim. E o que você faria se eu tivesse dormido com uma prostituta, Sassenach? Me daria um tapa na cara? Me proibiria de entrar em seu quarto? Se afastaria da minha cama?
Virei-me e olhei para ele.
— Eu o mataria — disse entre dentes. As duas sobrancelhas ergueram-se ao mesmo tempo e sua boca entreabriu-se de
incredulidade.
— Me mataria? Meu Deus, se eu a encontrasse com outro homem, eu mataria ele. — Parou e um dos cantos de sua boca contorceu-se num trejeito. — Veja bem, eu não ficaria muito satisfeito com você tampouco, mas ainda assim, seria ele quem eu mataria.
— Típico dos homens — retruquei. — Nunca entendem nada.
Ele resfolegou com um humor amargo. […]

— Desculpe-me — dissemos em uníssono. E rimos.
A umidade em sua pele molhou a seda fina, mas não me importei.
Minutos depois, ele balbuciou algo entre meus cabelos.
— O quê?
— Por pouco — repetiu ele, dando um passo atrás. — Foi por muito pouco, Sassenach, e isso me apavorou.
Olhei para a adaga, esquecida no chão.
— Apavorou? Nunca vi ninguém menos apavorado em toda minha vida. Você sabia muito bem que eu não faria isso.
— Ah, isso. — Riu. — Não, não acho que você me mataria, por mais que desejasse. — Ficou sério repentinamente. — Não, foi que… bem, aquelas mulheres. O que eu senti com elas. Eu não as desejava, de fato não…
— Sim, eu sei — disse, abraçando-o, mas ele não parou. Afastou-se de mim, parecendo perturbado.
— Mas o… o desejo, suponho que se possa chamar assim… era… muito parecido com o que às vezes sinto por você e isso… bem, não me parece direito.
Virou-se, esfregando os cabelos com a toalha de linho, de modo que sua voz soou um pouco abafada:
— Sempre achei que seria algo simples deitar-se com uma mulher — disse ele suavemente. — E no entanto… eu quero cair no chão a seus pés e adorá-la — largou a toalha e estendeu os braços, segurando-me pelos ombros —, e ainda assim quero forçá-la a ficar de joelhos diante de mim, segurá-la com as minhas mãos emaranhadas em seus cabelos, e sua boca a meu serviço… e eu quero as duas coisas ao mesmo tempo, Sassenach. — Correu as mãos para cima, enfiando-as nos meus cabelos, e segurou meu rosto entre elas, com força. — Eu não me compreendo mais, Sassenach! Ou talvez compreenda. — Soltou-me e virou-se de costas. Seu rosto já havia secado, mas ele pegou a toalha caída no chão e limpou a pele do maxilar, repetidamente.
A barba espetada fazia um som leve e áspero contra o linho fino. Sua voz ainda era baixa, quase inaudível a alguns passos de distância:
— Me dei conta dessas coisas, quero dizer, tomei conhecimento delas, logo depois… depois de Wentworth. — Wentworth. Onde ele dera sua alma para salvar minha vida e sofrera as torturas dos condenados para recuperá-la. — No começo, achei que Jack Randall houvesse roubado uma parte de minha alma e depois compreendi que era pior do que isso. Tudo aquilo era meu e apenas meu desde o início; ele só havia mostrado isso para mim e feito com que eu soubesse por mim mesmo. Foi isso que ele fez que não posso perdoar, e que sua alma apodreça por causa disso!
Abaixou a toalha e olhou para mim, o rosto com um ar cansado pelas tensões da noite, mas os olhos brilhantes de ansiedade.
— Claire. Sentir os ossos delicados do seu pescoço sob minhas mãos e essa pele macia e
fina de seus seios, de seus braços… Deus, você é minha mulher, que eu venero e amo com
todas as minhas forças, e ainda assim eu quero beijá-la com tanta força a ponto de machucar
seus lábios macios e ver as marcas dos meus dedos na sua pele.
Largou a toalha. Ergueu as mãos e manteve-as no ar, trêmulas, diante do rosto. Em seguida, abaixou-as lentamente e descansou-as sobre minha cabeça como se me abençoasse.
— Quero segurá-la como um gatinho dentro da minha camisa, mo duinne, e ainda assim quero abrir suas pernas e atirar-me sobre você como um touro no cio. — Seus dedos contraíram-se em meus cabelos. — Eu não me compreendo!
Puxei minha cabeça para trás, libertando-me de suas mãos, e recuei um passo. O sangue parecia ter aflorado inteiramente à superfície da minha pele e um calafrio percorreu meu corpo à rápida separação.
— Acha que é diferente para mim? Acha que não sinto o mesmo? — perguntei. — Que às vezes não tenho vontade de mordê-lo com força suficiente para sentir o gosto de seu sangue ou arranhá-lo até você gritar?
Estendi a mão devagar para tocá-lo. A pele de seu peito estava úmida e quente. Somente a unha do meu dedo indicador tocou-o, logo abaixo do mamilo. De leve, mal roçando em sua pele, fiz a unha subir e descer, circundar, vendo o minúsculo botão de seu mamilo endurecer e erguer-se entre os pelos ruivos e encaracolados de seu peito.
A unha pressionou com um pouco mais de força, deslizando para baixo, deixando uma leve marca vermelha na pele clara. Meu corpo inteiro tremia, mas não me afastei.
— Às vezes quero cavalgá-lo como a um cavalo selvagem e finalmente domá-lo… sabia? Eu posso fazer isso, você sabe que posso. Arrastá-lo até o limite de suas forças e deixá-lo exausto e ofegante. Posso arrastá-lo até a beira do colapso, e às vezes me delicio com isso, Jamie, é verdade! E no entanto, tantas vezes desejo — minha voz entrecortou-se repentinamente e tive que engolir com força antes de continuar —, desejo… segurar sua cabeça contra meu peito e embalá-lo como uma criança e fazê-lo dormir.
Meus olhos estavam tão cheios de lágrimas que eu não conseguia ver o rosto dele com clareza; não podia ver se ele também chorava. Seus braços aninharam-me com força e o calor úmido de seu corpo envolveu-me como a aragem de uma monção.

Outra adaptação se dá na história envolvendo o príncipe Charles. Claire soube do caso de sua alteza em seus primeiros dias em Paris, através da “rádio patroa” da época, fofoca entre os empregados. Toda trama envolvendo os amantes ocorre no livro, o caso do macaco à gravidez, a diferença é que a série colocou tudo num contexto de intrigas e maquinações, que no livro são muito mais políticas e sutis e longo prazo. O exemplo é utilizar o romance como estratégia para desmoralizar o príncipe durante o jantar que acontece em honra ao duque de Sandringham. No livro, Charles não participa do jantar, o foco é simplesmente negócios, já eles não sabem que duque é um dos apoiadores do príncipe, e as consequências do ataque que ocorreu aquela noite, assim como vimos no episódio. Particularmente, eu gostei da forma como amarraram trama, aproveitando toda a narrativa do livro e dando um sentido maior na série. Confira alguns trechos:

— Sua Alteza vive uma vida muito reservada em Paris — dizia Jared enquanto caçava o último pedaço de enguia, escorregadia de manteiga, em volta da borda do prato. — Não seria apropriado que ele frequentasse a sociedade enquanto o rei não recebê-lo oficialmente. Assim, Sua Alteza raramente sai de casa e convive com poucas pessoas, exceto os partidários de seu pai que vão visitá-lo.
— Não foi o que ouvi dizer — interrompi.
— O quê? — Dois pares de olhos perplexos voltaram-se em minha direção e Jared abaixou seu garfo, abandonando o último pedaço de enguia à própria sorte. Jamie arqueou uma das sobrancelhas em minha direção.
— O que você ouviu, Sassenach, e de quem?
— Dos criados — disse, concentrando-me na minha própria enguia. Vendo Jared franzir o cenho, ocorreu-me pela primeira vez que não devia ser muito apropriado à dona da casa ficar de mexericos com as arrumadeiras. Ora, para o inferno, pensei com rebeldia. Não me restava muita coisa a fazer.
— A arrumadeira diz que Sua Alteza o príncipe Charles tem visitado a princesa Louise de La Tour de Rohan — revelei, arrancando um pedaço de enguia do garfo e mastigando devagar. Estava deliciosa, mas era uma sensação desagradável engolir os bichos inteiros, como se a criatura ainda estivesse viva. Engoli cuidadosamente. Até então, tudo bem.
— Na ausência do marido da princesa — acrescentei delicadamente.
Jamie parecia se divertir, Jared parecia horrorizado.
— A princesa de Rohan? — perguntou Jared. — Marie-Louise-Henriette-Jeanne de La Tour d’Auvergne? A família do seu marido é muito ligada ao rei. — Esfregou os dedos nos lábios, deixando um brilho amanteigado em volta da boca. — Isso pode ser muito perigoso — murmurou ele, como se falasse consigo mesmo. — Será que o pequeno idiota… não. Certamente ele tem mais juízo. Deve ser apenas inexperiência; ele não tem vivido muito em sociedade e as coisas são diferentes em Roma. Ainda assim…
Parou de murmurar e virou-se para Jamie de modo resoluto.
— Essa será sua primeira tarefa, meu rapaz, a serviço de Sua Majestade. Você tem mais ou menos a mesma idade de Sua Alteza, mas tem a experiência e a capacidade de julgamento do tempo que passou em Paris. E a educação que eu lhe dei, devo me vangloriar.
— Sorriu brevemente para Jamie. — Pode se tornar amigo de Sua Alteza; facilitar tanto quanto possível seu trato com os homens que poderão lhe ser úteis. Já conheceu a maioria deles a essa altura. E explique a Sua Alteza, o mais diplomaticamente possível, que o galanteio na direção errada pode causar danos consideráveis aos objetivos de seu pai.
Jamie meneou a cabeça distraidamente, com toda a certeza pensando em outra coisa.
— Como a nossa copeira soube das visitas de Sua Alteza, Sassenach? — perguntou ele. — Ela não sai de casa mais do que uma vez por semana para ir à missa, não é?
Balancei a cabeça e engoli o bocado seguinte antes de responder.
— Até onde pude apurar, nossa ajudante de cozinha ouviu isso do amolador de facas, que ouviu do rapaz da estrebaria, que ouviu do cavalariço do vizinho. Não sei quantas pessoas há nesse meio, mas a casa dos Rohan fica a três portas daqui. Imagino que a princesa também saiba tudo a nosso respeito — acrescentei animadamente. — Ao menos é provável que saiba, se conversa com sua ajudante de cozinha.
[…]

E não era um jantar qualquer. O duque de Sandringham deveria ser o convidado de honra, com um pequeno porém seleto grupo para recebê-lo. Monsieur Duverney viria com seu filho mais velho, um proeminente banqueiro. Louise e Jules de La Tour também viriam, e os d’Arbanville. Apenas para tornar a festa mais interessante, o conde de St. Germain também fora convidado.
— St. Germain! — exclamara, atônita, quando Jamie me contou na semana anterior. — Para quê?
— Eu faço negócios com o sujeito — salientou Jamie. — Ele já esteve aqui para jantar, com Jared. Mas o que eu quero é ter a oportunidade de vê-lo conversar com você durante o jantar. Pelo que pude observar a respeito dele nos negócios, ele não consegue esconder seus pensamentos. — Pegou o cristal branco que mestre Raymond me dera e sopesou-o pensativamente na palma da mão.
— É muito bonito — dissera ele na ocasião. — Vou mandar embuti-lo em ouro para que você possa usá-lo ao pescoço. Brinque com ele durante o jantar até que alguém lhe faça perguntas a respeito, Sassenach. Então diga para que serve e olhe para o rosto de St. Germain enquanto explica. Se foi ele que lhe deu veneno em Versalhes, acho que veremos algum indício em sua expressão.
O que eu desejava no momento era paz, tranquilidade e uma privacidade total onde eu pudesse tremer como um coelho. O que eu tinha era um jantar com um duque que podia ser um jacobita ou um agente inglês, um conde que podia ser um envenenador e uma vítima de estupro escondida no andar de cima. Minhas mãos tremiam tanto que eu não conseguia fechar o cordão de onde pendia o cristal em sua montagem; Jamie colocou-se atrás de mim e, com um rápido movimento do polegar, encaixou o fecho com um estalido.

E por hoje é só. E você Sasse, o que achou do episódio? Sentiu falta de alguma cena, ou mudaria algo na adaptação? Comente! ?

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