1ª temporada,  Série

Livro vs Série – 1×16 – To Ransom a Man’s Soul

Olá, Sasses! Chegamos ao final da temporada! Não sei vocês, mas pra mim season finale da primeira temporada é um dos episódios mais tensos e fortes de toda série. Não é à toa que boa parte dos fãs dizem que ao rever a série pulam esse episódio, ou ao menos maior parte dele. Indo para a parte que nos interessa, ele sofreou diversas adaptações, já que condensou toda a parte final do livro. Partiu pra nossa análise.

Vamos começar com nos locais utilizados. A série parte do resgate direto para o monastério, que, na TV, fica em alguma parte da Escócia. No livro, eles retornam a casa de sir Marcus MacRannoch, e lá Claire presta os primeiros socorros a Jamie, cuidando de suas feridas (ele também havia sido açoitado na história original), consertando sua mão. Depois desses primeiros cuidados, eles decidem partir para o monastério do tio Jamie, Alexander, que fica na França, e sendo uma viagem difícil com Jamie em seu a atual estado de saúde, agravado por seu enjoo marítimo. Aliás, o caminho para o porto também foi delicado. Nosso trio, Jamie, Claire e Murtahg, encontram uma patrulha inglesa, a qual tem que dar cabo pra que não tragam reforços. Aqui vemos Claire matar um soldado, algo que marca nossa enfermeira, acostumada a salvar vidas e não a tirá-las. Confira o desfecho do encontro com os ingleses:

Freei e desci do cavalo. Treinado para batalhas ou não, eu não sabia o que o cavalo faria se eu disparasse a pistola de cima da sela. Ainda que ele ficasse parado como uma estátua, não acreditava que minha mira fosse tão boa. Ajoelhei-me na neve, firmando o cotovelo no joelho, a arma apoiada no antebraço como Jamie me mostrara. “Apoie aqui, mire lá, dispare aqui”, dissera ele. Foi o que fiz.
Para minha grande surpresa, atingi o cavalo em disparada. Ele escorregou, caiu sobre um joelho e rolou numa confusão de neve e pernas. Meu braço ficou dormente com o coice da pistola; fiquei parada, esfregando-o, observando o soldado caído.
Ele estava ferido; levantou-se com dificuldade, depois caiu de novo na neve. Seu cavalo, sangrando na espádua, fugiu aos tropeções, as rédeas penduradas.
Não percebi senão mais tarde o que estivera pensando, mas sabia, quando me aproximei dele, que não poderia deixá-lo vivo. Perto como estávamos da prisão, e com outras patrulhas perseguindo fugitivos, ele certamente seria encontrado em pouco tempo. E se fosse encontrado com vida, não só nos descreveria — nesse caso, podíamos dar adeus à nossa história de sequestro! —, como diria para onde viajávamos. Ainda tínhamos cinco quilômetros de percurso até a costa; duas horas de viagem na neve intensa. E um barco a encontrar quando chegássemos lá. Eu simplesmente não podia correr o risco de permitir que ele contasse a ninguém a nosso respeito.
Ele se esforçou para se levantar sobre os cotovelos quando me aproximei. Seus olhos se arregalaram de surpresa ao me ver, depois relaxaram. Eu era uma mulher. Não tinha medo de mim.
Um homem mais experiente teria ficado apreensivo mesmo assim, mas ele era um garoto.
Não mais do que 16 anos, pensei, nauseada de choque. Suas faces pontilhadas de espinhas ainda retinham as últimas curvas arredondadas da infância, embora o lábio superior exibisse a penugem de um desejado bigode.
Ele abriu a boca, mas apenas gemeu de dor. Apertou a mão contra o lado do corpo e pude ver o sangue encharcando sua túnica e seu casaco. Portanto, ferimentos internos; o cavalo deve ter rolado por cima dele.
Era possível, pensei, que ele fosse morrer de qualquer modo. Mas eu não podia contar com isso.
A adaga em minha mão direita estava escondida sob meu manto. Coloquei a mão esquerda em sua testa. Exatamente como eu havia tocado a cabeça de centenas de homens, confortando, examinando, preparando-os para o pior. E eles erguiam os olhos para mim exatamente como aquele garoto; com esperança e confiança.
Não poderia cortar sua garganta. Deixei-me cair de joelhos ao seu lado e virei sua cabeça delicadamente. Todas as técnicas de Rupert para uma morte rápida supunham alguma resistência. Não houve nenhuma resistência quando curvei sua cabeça para a frente, o máximo possível, e mergulhei a adaga em seu pescoço, na base do crânio.
Deixei-o com o rosto para baixo, enterrado na neve, e fui me juntar aos outros.

Outra mudança é atitude de Jamie, que na série está decido a tirar a própria vida. Ele nunca cogita isso em sã consciência no livro. Sua depressão também é algo progressivo. De início ele fica grato por ser salvo, e feliz ao rever Claire. Em sua primeira noite na casa de Sir Marcus, ele pede a ajuda o cavalheiro pra remover a marca de Randall da pele. Porém, com o passar dos dias, quando já estão seguros no monastério, ele pede que Claire o abandone e volte pro seu tempo, pois não pode ser mais seu marido. Pouco tempo depois ele começa ter uma febre muito forte, e Claire percebe que se ele não tiver força pra viver, algo pra se agarrar, ele não resistiria. Confira um trecho que Jamie abre seu coração para Claire, e das preocupações da nossa viajante:

Eu estava ficando cada vez mais preocupada com o estado de Jamie. A náusea continuava; ele não comia quase nada e o que ele conseguia engolir raramente permanecia em seu estômago. Estava cada vez mais pálido e irrequieto, não mostrando interesse por nada. Dormia bastante durante o dia, porque dormia muito pouco à noite. Ainda assim, apesar do medo dos pesadelos, não permitia que eu compartilhasse seu quarto para que sua insônia não perturbasse meu próprio descanso. […]
Procurando não demonstrar nenhum sinal de minha própria perturbação, puxei um banco silenciosamente e sentei-me perto de sua cabeça.
— Não vou tocá-lo — disse —, mas você precisa conversar comigo. — Esperei vários minutos enquanto ele permaneceu imóvel, os ombros encolhidos defensivamente.
Finalmente, suspirou e se sentou, movendo-se devagar e penosamente, lançando as pernas para fora da cama.
— Sim — disse ele sem rodeios, sem olhar para mim. — Sim, creio que precisamos. Já devia ter feito isso antes… mas fui covarde o suficiente para esperar que não precisasse. — Sua voz era amarga e ele mantinha a cabeça abaixada, as mãos entrelaçadas frouxamente em volta dos joelhos. — Não me achava um covarde, mas sou. Devia ter feito Randall me matar, mas não o fiz. Eu não tinha nenhuma razão para viver, mas não fui corajoso o suficiente para morrer. — Sua voz definhou e falou tão baixo que eu mal podia ouvi-lo. — E eu sabia que teria que vê-la uma última vez… contar-lhe… mas… Claire, meu amor… ah, meu amor. […]
Ele afundou a cabeça entre as mãos, os dedos pressionando as têmporas com força. Falou
bruscamente.
— Eu sei por que Alex MacGregor se enforcou. Eu faria o mesmo, se não soubesse que é um pecado mortal. Se ele me condenou em vida, não fará o mesmo comigo no céu. — Houve um instante de silêncio enquanto ele lutava para se controlar. Notei automaticamente que o travesseiro em seus joelhos estava manchado de suor e quis me levantar para trocá-lo para ele. Ele balançou a cabeça devagar, ainda olhando fixamente para os pés.
— Tudo está interligado para mim agora. Não posso pensar em você, Claire, nem mesmo em beijá-la ou tocar sua mão sem sentir o medo e a dor e a náusea voltarem. Fico aqui deitado sentindo que vou morrer sem o toque de suas mãos, mas quando você me toca, acho que vou vomitar de vergonha e nojo de mim mesmo. Não posso nem mesmo vê-la agora sem… — Pousou a testa nos punhos cerrados, os nós dos dedos enfiados com força nas órbitas. Os tendões de seu pescoço estavam retesados de tensão e sua voz veio abafada. — Claire, quero que você me deixe. Volte para a Escócia, para Craigh na Dun. Volte para o seu lugar, para seu… marido. Murtagh a levará em segurança, eu contei a ele. — Ficou em silêncio por um instante e eu não me movi.
Ergueu os olhos novamente com uma coragem desesperadora e falou de maneira muito simples.
— Eu a amarei enquanto viver, mas não posso mais ser seu marido. E não serei menos que isso para você. — Seu rosto começou a desmoronar. — Claire, eu a desejo tanto que meus ossos tremem em meu corpo, mas Deus me ajude, tenho medo de tocar em você![…]
Não parecia ser a resposta a uma prece, quando acordei para a retomada do tempo comum pela manhã e encontrei um irmão laico de pé junto à minha cama, dizendo que Jamie estava ardendo em febre.
— Há quanto tempo ele está assim? — perguntei, colocando a mão experiente na fronte e na nuca, na axila e na virilha. Nenhum sinal de suor aliviando a febre; apenas a pele seca e distendida do persistente ressecamento, ardente de calor. Ele estava consciente, mas tonto e com as pálpebras pesadas. A origem da febre era evidente. A mão direita ferida estava inchada, com uma secreção malcheirosa ensopando as ataduras. Veios vermelhos sinistros subiam do pulso. Uma grave infecção, pensei comigo mesma. Uma terrível infecção, supurada, envenenando seu sangue, ameaçando sua vida.
— Eu o encontrei assim quando vim dar uma olhada nele depois das preces matinais — respondeu o irmão servente que fora me buscar. — Dei-lhe água, mas ele começou a vomitar logo depois do amanhecer.

Para curar Jamie e resgatar sua alma, Claire decide arriscar e usa todos os recursos que tem a sua disposição pra evocar o fantasma de Jack Randall, e fazer Jamie reagir a ele. A série retratou em parte isso, fazendo Jamie e reagir e finalmente se abrir com Claire. No livro, é mais profundo. Se lembrarem, lá no décimo episódio, mostramos que Geillis originalmente tenta hipnotizar Claire. Agora nossa enfermeira utiliza o que observou e aprendeu com a “amiga” pra recriar um senário no qual Jamie enfrentasse seu temor, e deixasse de ser uma vítima, reagisse. O confronto entre eles é forte. Confira um breve resumo do aconteceu entre nosso casal:

Finalmente, levantei-me e peguei a jarra e a bacia da mesa junto à porta. Coloquei a pesada bacia de louça no centro do quarto, no chão, e enchi-a cuidadosamente, deixando a água transbordar e se transformar numa bolha trepidante.
Eu passara rapidamente pelo herbanário do irmão Ambrose antes de ir para o meu quarto.
Desfiz os pequenos pacotes de ervas e espalhei o conteúdo no meu braseiro, onde as folhas de mirra exalavam uma fumaça aromática e nacos de cânfora queimavam em pequenas chamas azuis entre a incandescência vermelha dos pedaços de carvão.
Coloquei a vela atrás da superfície refletora da água, tomei posição à sua frente e prepareime para evocar um fantasma. […]
Tirei a mão das dobras da minha camisola e coloquei sobre a mesa os objetos que eu reunira na visita clandestina que fizera à oficina às escuras do irmão Ambrose. Um frasco de amônia. Um pacote de lavanda seca. Outro de valeriana. Um pequeno queimador de incenso de metal, no formato de uma flor aberta. Duas pelotas de ópio, de cheiro adocicado e pegajosas de resina. E uma faca. […]
Sentia-me nauseada por tê-lo traído, mas por fim forçara minha mente a livrar-se dele como Geillis me ensinara, concentrando-me na chama da vela, respirando a adstringência das ervas, acalmando-me até conseguir trazê-los da escuridão, ver as linhas de seu rosto, sentir outra vez o toque de sua mão sem chorar. […]
Eu não estava absolutamente preparada para o que sobreveio. Ele me lançou do outro lado do quarto ao sair da cama. Cambaleei e caí contra a mesa, fazendo os círios oscilarem. As sombras correram e balançaram-se quando os pavios flamejaram e apagaram-se.
Eu havia batido as costas com força contra a borda da mesa, mas recuperei-me a tempo de me esquivar quando ele se arremessou sobre mim. Com um rosnado desarticulado, veio ao meu encalço, as mãos estendidas.
Ele estava mais rápido e mais forte do que eu esperara, embora cambaleasse atabalhoadamente, batendo nos móveis. Encurralou-me por um instante entre o braseiro e a mesa e pude ouvir sua respiração arranhando sua garganta enquanto tentava me agarrar.
Arremessou a mão esquerda sobre meu rosto; se suas forças e reflexos estivessem normais, o golpe teria me matado. Em vez disso, dei um salto para o lado e seu punho cerrado raspou minha testa, derrubando-me no chão, atordoada.
Engatinhei para baixo da mesa. Tentando me alcançar, ele perdeu o equilíbrio e caiu sobre o braseiro. Brasas incandescentes espalharam-se pelo chão de pedra. Ele uivou quando seu joelho triturou pesadamente um pedaço de carvão em brasa. Peguei um travesseiro da cama e bati até apagar um punhado de fagulhas chamejantes que caíra sobre a coberta de cama que se arrastava pelo chão. Preocupada com isso, não notei sua aproximação até que um golpe em cheio na minha cabeça me estatelou no chão.
O catre virou quando tentei me erguer, apoiando-me em sua estrutura com uma das mãos. Fiquei abrigada atrás dele por um instante, tentando recuperar os sentidos. Podia ouvir Jamie caçando-me na penumbra, a respiração áspera e arquejante entre imprecações incoerentes em gaélico. De repente, avistou-me e atirou-se sobre a cama, os olhos enlouquecidos à luz turva.
É difícil descrever detalhadamente o que aconteceu em seguida, principalmente porque aconteceu várias vezes e todas as vezes se sobrepõem em minha lembrança. Parece que as mãos ardentes de Jamie fecharam-se em meu pescoço apenas uma vez, mas essa única vez continuou indefinidamente. Na realidade, aconteceu inúmeras vezes. Toda vez eu conseguia livrar-me de suas mãos e empurrá-lo, recuava novamente, esquivando-me e agachando-me em volta da mobília destruída. E de novo ele vinha em meu encalço, um homem arrancado das garras da morte pela fúria, praguejando e soluçando, cambaleando e chocando-se violentamente contra tudo à sua volta. […]
Jamie deitou a cabeça ao lado da minha com cuidado, numa dobra da tapeçaria, de onde me olhou de viés.
— Não sei quanto da noite passada eu sonhei e quanto foi real. — Sua mão inconscientemente deslizou sobre o arranhão que atravessava seu peito. — Mas se metade do que acho que aconteceu tiver realmente acontecido, eu devia estar morto agora.
— Não está. Eu verifiquei. — Com alguma hesitação, perguntei: — Você desejaria estar?
Ele sorriu devagar, os olhos semicerrados:
— Não, Sassenach.
Seu rosto estava macilento e sombrio da doença e do cansaço, mas estava em paz, as linhas em volta da boca haviam desaparecido e seus olhos azuis estavam límpidos.

Toda essa trama elabora de Claire realmente puxa Jamie de volta para vida. Com passar dos dias ele também volta se aproximar dela, superando aos poucos seu trauma. (Essa é uma parte que as pessoas ficaram desgostosas com o final da primeira e início da segunda temporada, pois estenderam o trauma do Jamie). O final em si também é diferente, como eles já estão na França. Nosso casal faz planos, porém em uma caverna com fonte natural que existe no monastério. É uma cena muito linda entre os dois e, como na série, termina como a notícia da gravidez. Confira alguns trechos do nosso casal no final do primeiro livro:

Ele virou a cabeça de modo que sua boca ficasse logo abaixo de minha orelha. Senti seu hálito quente em meu pescoço.
— Eu disse — respondeu ele baixinho — que minha mão não está doendo nem um pouco agora.
A mão intacta explorou ternamente meu rosto, limpando o suor das minhas faces.
— Você temeu por mim? — perguntou ele.
— Sim — respondi. — Achei que era cedo demais.
Ele riu baixinho na escuridão.
— E era; quase morri. Sim, eu também tive medo. Mas acordei com a mão doendo e não conseguia voltar a dormir. Fiquei virando de um lado para o outro na cama, sentindo sua falta. Quanto mais eu pensava em você, mais a desejava e já estava no meio do corredor antes de me preocupar com o que eu iria fazer quando chegasse aqui. E quando pensei… — parou, acariciando meu rosto. — Bem, não sou grande coisa, Sassenach, mas talvez não seja um covarde, afinal de contas.
Virei a cabeça para ir ao encontro de seu beijo. Seu estômago roncou alto.
— Não ria — resmungou ele. — A culpa é sua, por me deixar faminto. É de se admirar que eu tenha tido forças, sem nada além de caldo de carne e cerveja.
— Está bem — disse, ainda rindo. — Você venceu. Pode comer um ovo no desjejum amanhã.
— Ah! — exclamou ele, em tom de profunda satisfação. — Sabia que você iria me alimentar se eu lhe oferecesse um incentivo adequado.
Adormecemos nos braços um do outro, os rostos colados.
[…]
Ele virou a mão de um lado para o outro, erguendo-a diante do rosto, observando os dedos rígidos e tortos, as horríveis cicatrizes, cruelmente vívidas à luz do sol. Então abaixou a cabeça repentinamente, agarrando a mão ferida junto ao peito, cobrindo-a protetoramente com a mão perfeita. Não emitiu nenhum som, mas seus ombros largos sacudiram-se ligeiramente.
— Jamie. — Atravessei o quarto rapidamente e ajoelhei-me ao lado dele, colocando a mão de leve em seu joelho. — Jamie, sinto muito — disse. — Fiz o melhor que pude.
Ele olhou para mim, surpreso. Os cílios, espessos e ruivos, cintilavam de lágrimas à luz do sol e ele os limpou apressadamente com as costas da mão.
— O quê? — exclamou ele, engolindo em seco, claramente desconcertado com a minha súbita aparição. — Sente muito? Por quê, Sassenach?
— Sua mão. — Tomei-a nas minhas, traçando de leve as linhas tortas de seus dedos, tocando a cicatriz funda nas costas da mão. — Vai melhorar — assegurei-lhe ansiosamente.
— É verdade. Sei que parece rígida e inútil agora, mas é só porque ficou imobilizada tanto tempo e os ossos ainda não se emendaram completamente. Posso lhe mostrar como se exercitar e massagear. Você vai conseguir a maior parte de seus movimentos com ela, sinceramente…
Ele me fez calar deslizando a mão esquerda pelo meu rosto.
— Você quis dizer…? — começou ele, depois parou, balançou a cabeça sem poder acreditar. — Você pensou…? — parou outra vez e começou de novo. — Sassenach, você não pensou que eu estivesse me lamentando por causa de um dedo paralisado e mais algumas cicatrizes, não é? — Sorriu, meio de viés. — Sou vaidoso, talvez, mas não tanto assim, espero.
— Mas você… — comecei. Ele segurou minhas mãos nas suas e se levantou, fazendo-me ficar de pé também. Estendi o braço e limpei a única lágrima que rolara pelo seu rosto. Senti o calor da minúscula gota em meu polegar.
— Eu estava chorando de alegria, Sassenach — disse ele suavemente. Estendeu os braços devagar e segurou meu rosto entre as mãos. — E agradecendo a Deus por ter duas mãos. Por ter duas mãos para segurar você. Para acariciá-la, para amá-la. Agradecendo a Deus por ainda ser um homem completo, por sua causa.
Ergui minhas próprias mãos, colocando-as sobre as dele.
— Mas por que não seria? — perguntei.
E então me lembrei da parafernália de açougueiro, entre serras e facas, que eu vira entre os instrumentos de Beaton em Leoch, e compreendi. Compreendi o que eu havia esquecido diante da emergência. Que antes dos antibióticos, a cura comum — a única — para um membro infeccionado era a amputação.
— Ah, Jamie — exclamei. Meus joelhos ficaram fracos diante da ideia e me sentei no banco repentinamente.
[…]

Era uma caverna. A princípio, pensei que fosse uma caverna de cristais, por causa da estranha cintilação negra além das lamparinas. Mas avancei até a primeira pilastra e olhei mais à frente, então eu vi.
Um lago límpido e escuro. Água transparente, brilhando como vidro sobre areia vulcânica, negra e fina, lançando reflexos vermelhos à luz das lamparinas. O ar estava úmido e quente, pesado com o vapor que se condensava nas paredes frias da caverna, escorrendo pelas ásperas colunas de pedra.
Uma fonte de água quente. O leve cheiro de enxofre penetrou em minhas narinas. Portanto, uma fonte de água mineral quente. Lembrei-me de ter ouvido Anselm mencionaras fontes que borbulhavam do chão perto do mosteiro, famosas por seus poderes curativos.
Jamie ficou parado atrás de mim, admirando o lago de rubis e azeviches de onde se elevava um leve vapor.
— Um banho quente — disse ele orgulhosamente. — Gostou?
— Jesus Cristo! — exclamei.
— Ah, então gostou — disse ele, rindo diante do sucesso da surpresa. — Vamos entrar, então. […]
Lutamos para subir à superfície, para sair do ventre da Terra, molhados e fumegantes, com as pernas frouxas de vinho e calor. Caí de joelhos no primeiro patamar e Jamie, ao tentar me ajudar, caiu ao meu lado num amontoado de túnicas e pernas nuas. Rindo baixinho, sem conseguir parar, mais embriagados de amor do que de vinho, subimos rastejando lado a lado o segundo lance de escadas, mutuamente nos atrapalhando mais do que ajudando, empurrando-nos e tropeçando no espaço estreito, até desmoronarmos finalmente nos braços um do outro no segundo patamar.
Ali, uma antiga janela envidraçada abria-se, sem vidraças, para o céu e o clarão da lua cheia banhou-nos de prata. Ficamos deitados, abraçados, a pele úmida esfriando-se ao ar do inverno, à espera de que nossos corações acelerados voltassem ao normal e o fôlego retornasse aos nossos corpos arfantes.
A lua sobre nós era uma lua de Natal, tão grande que quase preenchia o vão da janela.
Não era de admirar que as marés do oceano e as mulheres fossem sujeitas à influência daquela esfera majestosa, tão próxima e tão dominante.
As minhas próprias marés, entretanto, já não se moviam segundo aqueles comandos estéreis e castos e o conhecimento da minha liberdade corria perigosamente pelas minhas veias.
— Eu também tenho um presente para você — disse repentinamente a Jamie. Voltou-se para mim e sua mão deslizou, grande e firme, sobre meu ventre ainda plano.
— É mesmo? — disse ele.
E o mundo nos envolveu, pleno de novas possibilidades.

E aqui se encerra a primeira temporada. E você Sasse, qual for o seu episódio favorito dessa temporada (se for “O Casamento”, cite também o segundo melhor rs)? Gostou do final, ou faria algo diferente? Comente!

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