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Daily Line: Eu quebrei o metatarso

POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana

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Eu estava tentando ouvir o canto que vinha da cozinha enquanto socava a sálvia, o confrei e a goldenseal e fazia um óleo empoeirado no consultório. O dia chegava ao final e, enquanto o sol descia e aquecia as tábuas do assoalho, as sombras o mantinham frio.

O tenente Bembridge estava ensinando Fanny a letra da música “Green Grow the Rushes, O”. Ele possuía um timbre claro e forte que o fazia perder o iodelei, mas eu gostava. A cantoria me lembrava o tempo em que trabalhava na cantina do Hospital Pembroke, enrolando ataduras e inventando kits cirúrgicos com as outras estudantes de enfermagem, ouvindo o canto que entrava juntamente com a névoa amarela através da estreita fenda aberta no topo de uma janela. Havia um pátio lá embaixo, e os pacientes do ambulatório ficavam sentados ali quando o tempo estava bom, ou mesmo quando não estava tão bom, fumando, conversando e cantando para passar o tempo.

“Dois, dois, os meninos brancos como lírios

Vestidos de verde

Um é um e um sozinho

E assim será para todo o sempre”

Em 1940, a música abafada pela neblina era frequentemente interrompida pela tosse e xingamentos roucos, mas alguém sempre conseguia levá-la até o fim.

Os tenentes Bembridge e Esterhazy tinham dezoito e dezenove anos, respectivamente, eram vigorosos e tinham muito boa saúde e faziam tanto barulho que eu não ouvi a porta da frente se abrindo nem os passos no corredor. Eu fiquei tão surpresa ao olhar para cima e ver Jamie na porta que deixei cair o pesado pilão de pedra diretamente sobre o meu pé calçado apenas com sandálias.

– Ai! Au! Jesus, Maria e José! – Eu pulei atrás da mesa e Jamie me pegou pelo braço.

– Você está bem, Sassenach?

– Parece que estou bem? Eu quebrei o metatarso.

– Eu compro um novo para você na próxima vez que for para Salisbury, – ele me assegurou, soltando meu cotovelo. – Enquanto isso, trouxe tudo que estava na lista, exceto… por que tem ingleses cantando na minha cozinha?

– Ah, bem… – não é que eu não tivesse pensado sobre qual seria sua reação ao ver dois oficiais da Marinha de Sua Majestade ajudando nas tarefas domésticas, mas achei que teria tempo para explicar antes que ele os visse. Eu apoiei a bunda contra a borda da mesa e levantei o pé ferido.

– São dois jovens tenentes que costumavam navegar com o capitão Cunningham. Eles foram trazidos para terra ou abandonados, algo assim, de qualquer maneira, eles perderam o navio e nesta época do ano, eles não conseguirão encontrar um navio até março ou abril, então vieram para a Colina para ficar com o capitão. Elspeth Cunningham os enviou para me ajudarem nas tarefas, como pagamento pelo tratamento do ombro deslocado.

– Elspeth, foi? – Felizmente, ele parecia estar se divertindo ao invés de irritado. – Nós vamos ter que alimentá-los?

– Bem, eu lhes dou almoço e um jantar leve. Mas eles voltam para a cabine do capitão à noite e descem no meio da manhã. Eles consertaram a porta do estábulo, – eu lembrei, como justificativa, – cavaram o jardim, cortaram madeira, carregaram todas as pedras que você e o Roger trouxeram do campo de cima para o armazém refrigerado, e …

Ele fez um gesto indicando que aceitava minha decisão e que gostaria de mudar de assunto. Ele o fez com um beijo e perguntando o que havia para o jantar. Ele cheirava poeira da estrada, cerveja e um pouco de canela.

– Acredito que Fanny e o tenente Bembridge estejam fazendo um ensopado, um burgoo. Tem carne de porco, carne de veado e de esquilo, parece que você tem que ter pelo menos três tipos diferentes de carne para um burgoo perfeito, mas não faço ideia dos outros ingredientes. Está cheirando bem.

O estômago de Jamie roncou.

– Sim, sim, – disse ele, pensativo. – E o que Frances faz com eles?

– Eu acho que ela está meio apaixonada, – eu disse, baixando a voz e olhando para o corredor. – Cyrus veio aqui ontem, enquanto ela servia o almoço aos tenentes, e ela pediu para ele ficar, mas ele se aproximou cerca de dois metros, disse algo rude em gaélico, eu não acho que ela entendeu, mas nem precisou porque ele foi embora. Fanny corou com indignação e deu a eles a torta de maçã seca e passas que ela tinha feito para Cyrus.

– Melhor uma lagosta do que sem marido, – disse Jamie, com um encolher de ombros filosófico.

– Você realmente não acha isso, não é? – Eu perguntei, curiosa.

– No caso da maioria das moças, sim, – disse ele, – mas quero alguém melhor para Frances e eu não acho que um marinheiro britânico seja o ideal. Você disse que eles vão embora na primavera?

– Entendo. Ui! – Eu massageei com carinho meu pé machucado que estava latejando. O pilão tinha caído na base do dedão e, enquanto a dor original já tinha diminuído, ao tentar colocar o peso no pé e/ou dobrá-lo a sensação era de um arame farpado quente sendo puxado entre os dedos.

– Sente-se, nighean, – disse ele enquanto empurrava na minha direção a grande cadeira acolchoada que Brianna chamava de Cadeira Kibitzer. – Eu trouxe de Salisbury algumas garrafas de vinho bom. Espero que um deles melhore a dor no seu pé.

Melhorou. Jamie também se sentiu melhor. Eu pude ver que ele voltara para casa carregando alguma coisa e senti um pequeno nó abaixo do meu coração. Ele vai me contar quando estiver pronto.

N.T. *“Green Grow the Rushes, O”. Canção folclórica inglesa muito popular. Às vezes é cantada no Natal. É também chamada de Os Doze Profetas. Ela começa falando dos doze apóstolos, dos onze que foram para o céu, dos dez mandamentos e assim por diante. A parte destacada pela autora fala da transfiguração de Jesus, onde Moisés e Elias aparecem com Jesus em roupas de um branco deslumbrante. O verde sugere que os discípulos construíam abrigos de ramos para Moisés, segundo São Pedro. Há quem diga tratar-se de Adão e Eva. Um é um e um sozinho só pode ser Deus.

(Trecho de VÁ DIZER ÀS ABELHAS QUE PARTI. Copyright 2020 Diana Gabaldon)

(Obrigada, Diane Dillon Hooper, pela adorável abelha na cebolinha chinesa)

Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 23/05/2020

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