Livro vs Série – 5×02 – Between Two Fires
Minhas queridas Sasses, o segundo episódio de Outlander fez jus ao seu título, “Between Two Fires”, trazendo diversos dilemas para nossos queridos personagens, que se encontraram em situações conflitantes durante boa parte do tempo. Em questão de adaptação, tivemos uma série de acontecimentos que acompanhamos no livro, mas que aqui são apresentados de forma um tanto diferente. Sem mais delongas, vamos iniciar nossa análise.
No núcleo de Jamie, nos foi apresentado uma revolta ocorrida na cidade de Hillsborough, na qual reguladores insatisfeitos fazem justiça com as próprias mãos, aplicando alcatrão e penas nas autoridades locais. Jamie chega após o ocorrido, junto ao regimento inglês. No livro, a revolta de Hillsborough é um dos principais assuntos do grande encontro que mencionamos no último episódio. Uma diferença, nela os insatisfeitos atacaram e espancaram as autoridades da cidade, além de quem quer que os defendesse. O alcatrão e penas é algo que começamos a acompanhar apenas no sexto livro, sendo ligado às disputas entre aqueles que querem a independência das colônias e aqueles a favor a coroa. O que ocorre em Hillsborough é o motivo do governador ordenar que Jamie convoque uma milícia. Nosso highlander não estava presente na cidade originalmente, apenas ouve histórias sobre o ocorrido. Confira o trecho em que a revolta é mencionada, após uma proclamação do governador, e carta endereçada a Jamie o convocando:
“Eu não sabia o que Tryon pretendia fazer com as pessoas que haviam participado da revolta quando isso fosse comprovado, mas sentia as ondas de inquietação criadas pela Proclamação do governador tomando a multidão como a corrente de água descendo pelas pedras no riacho próximo.
Vários prédios tinham sido destruídos em Hillsborough, e muitos oficiais tinham sido arrastados para a rua e agredidos. Corriam boatos de que um deles, que ironicamente ostentava o título de juiz de paz, havia perdido um dos olhos devido a um golpe de chicote. Sem dúvida levando muito a sério aquela demonstração de desobediência civil, o chefe de justiça Henderson fugiu por uma janela e sumiu da cidade, impedindo, assim, que a Corte se reunisse. Era evidente que o governador tinha ficado muito irritado com o que acontecera em Hillsborough.
[…]
Ele me entregou a carta amassada. A chuva havia manchado a tinta aqui e ali, mas ainda dava para ler. Em contraste com a Proclamação, ela continha apenas duas frases, mas a frase adicional não diluiu o impacto.
‘New Bern, 20 de outubro
Coronel James Fraser
Como a paz e a boa ordem deste governo têm sido violadas ultimamente e muito dano tem sido causado às pessoas e às propriedades de muitos dos habitantes desta província por um grupo de pessoas que se dizem reguladoras, eu faço como determinou o Conselho da Ordem de Sua Majestade e ordeno que o senhor convoque imediatamente uma Reunião Geral de tantos homens quantos julgar adequados a servir em um Regimento da Milícia, e que me comunique o mais rápido possível o número de voluntários dispostos a servir ao seu Rei e ao seu País, quando convocados a fazê-lo, e também o número de homens que pertencem a seu Regimento e que podem ser chamados no caso de uma Emergência e no caso de mais Violência ser cometida pelos Insurgentes. Sua obediência Diligente e pontual a essas ordens será bem recebida por este Servo Obediente de Sua Majestade,
William Tryon’
Dobrei com cuidado a carta manchada de chuva e percebi que as minhas mãos estavam tremendo. Jamie a tomou de mim e a segurou entre o polegar e o indicador, como se fosse um objeto indesejado – e de fato era. Sua boca se retorceu quando ele olhou nos meus olhos.”
Uma adaptação que deixou essa vos fala insatisfeita diz respeito a uma única fala. Em sua aula de tiro com Bree, Roger comenta que Jemmy foi batizado como presbiteriano, um momento fofo do casal. No entanto, meu pensamento foi: se o batizado vai ser uma fala, deixa como no livro. Mas como foi no livro? Ter os netos batizado como católicos era algo que Jamie não abria mão. Tanto que ele deu um jeito nisso, mesmo com o padre preso (comentamos sobre essa prisão no último comparativo). É algo forte do personagem, seu valor religioso. A série colocou como mais um motivo de atrito entre Jamie e Roger. Confira alguns trechos que ilustram isso:
“Jamie tirou Jemmy do meu colo e o acomodou habilmente embaixo do braço como se fosse uma bola de futebol, com uma das mãos segurando a cabeça do bebê.
– Então, falou com o padre? – perguntou, olhando para Roger com desconfiança.
– Falei – disse Roger, lacônico, respondendo tanto ao olhar quanto à pergunta. – Ele está convencido que eu não sou o Anticristo. Desde que eu concorde que o menino seja batizado como católico, não haverá restrições ao casamento. Eu disse que concordo.
Jamie resmungou em resposta, e eu reprimi um sorriso. Apesar de não ter grandes preconceitos religiosos – ele já havia comandado, combatido e lidado com muitos homens, de todas as religiões –, saber que seu genro era presbiteriano, sem nenhuma intenção de se converter, havia ocasionado alguns comentários.
[…]
– Hum. Então, por que tanta insistência para que Roger fosse testado por um sacerdote?
– Bem, eles vão se casar, de qualquer modo – disse ele logicamente. – Mas quero que o menino seja batizado católico. – Ele encostou a mão enorme na cabeça de Jemmy, alisando com o polegar as pequenas sobrancelhas ruivas. – Então, se eu fizesse um alarde em relação a MacKenzie, achei que eles concordariam com esse gille ruaidh, não?
Eu ri e cobri as orelhas de Jemmy com uma ponta do cobertor.
[…]
– Gostaria de saber se o bom padre pode ouvir a minha confissão.
Os olhos de Jamie estavam fixos na estrutura da tenda, tomando o cuidado de evitar os meus.
– A sua confissão?
Lillywhite pareceu surpreso ao ouvir aquilo, mas o xerife fez um barulho que poderia ser considerado uma risadinha.
– Há algo pesando na sua consciência? – perguntou Anstruther com grosseria. – Ou talvez tenha uma premonição sobre uma morte iminente, não é?
Ele abriu um sorriso malvado, e o sr. Goodwin, parecendo chocado, protestou.
Jamie ignorou os dois, concentrado no sr. Lillywhite.
– Sim, senhor, faz algum tempo desde a última vez que tive a oportunidade de ser absolvido e penitenciado, entende, e pode ser que demore até ter outra chance. Portanto… – Nesse momento, ele olhou para mim e fez um movimento discreto, mas enfático com a cabeça na direção da porta da tenda. – Podem nos dar licença por um momento, senhores?
Sem esperar por uma resposta, ele me pegou pelo cotovelo e me conduziu para fora.
– Brianna e Marsali estão no caminho com as crianças – sussurrou ele no meu ouvido assim que saímos da tenda. – Espere Lillywhite e o maldito xerife se afastarem e então busque-os.
[…]
– Pensei que eles nunca iriam embora – sussurrou Brianna, espiando por sobre meu ombro em direção ao ponto onde o sr. Lillywhite e seus companheiros tinham desaparecido. – A barra está limpa?
– Sim, venham.
[…]
Meus olhos estavam se adaptando à escuridão; eu via as formas sinuosas das meninas e a silhueta alta de Jamie. Ele colocou Germain de pé sobre a mesa diante do padre, dizendo:
– Depressa, então, padre. Não temos muito tempo.
– Também não temos água – disse o padre. – A menos que as moças tenham pensado em trazer.
Ele pegou a pedra e a acendalha e estava tentando reacender a lamparina.
Bree e Marsali se entreolharam alarmadas e balançaram a cabeça juntas.
– Não se preocupe, padre – disse Jamie de modo tranquilizador, e eu vi quando ele esticou uma das mãos para pegar algo sobre a mesa.
Ouvimos o barulho de uma rolha sendo retirada e o cheiro forte e doce de um uísque fino encheu a tenda, enquanto a luz do pavio se intensificava, a chama bruxuleante emitindo um brilho pequeno e estável.
– Nessas circunstâncias… – disse Jamie, estendendo o frasco aberto para o padre.
O padre Kenneth contraiu os lábios, embora eu acredite que tenha sido para conter o riso, e não por estar irritado.
– Nessas circunstâncias, tudo bem – repetiu ele. – E o que seria mais apropriado do que a água da vida, afinal?
Ele estendeu a mão, abriu a gola e puxou um fio de couro amarrado ao redor do pescoço, do qual pendiam uma cruz de madeira e uma pequena garrafa de água, tampada com uma rolha.
– A crisma sagrada – disse ele, abrindo a garrafinha e colocando-a sobre a mesa. – Graças à Virgem Mãe, eu tinha isso comigo. O xerife levou a caixa com as coisas da missa.
Ele fez um rápido inventário dos objetos sobre a mesa, contando-os com os dedos.”
Outro ponto muito interessante no episódio foi ver Claire colocando seus conhecimentos médicos em uso, usando toda a vantagem pudesse ter a seu alcance. Boa parte do vemos ali acontece nos livros, mas em momentos diferentes. A autópsia, por exemplo, não é uma forma de estudo, mas sim para desvendar um possível assassinato que ocorreria mais a frente. Claire também nutre um forte desejo de ter um aprendiz, porém ela só encontra uma pessoa para isso no sexto livro, e não é a nossa Marsali. Essa é uma adaptação que pode ser muito interessante, por dar mais espaço para a personagem e sua relação com Claire, que foi menos trabalhada na série. O dr. Daniel Rawlings também é uma figura presente nos livros. Junto com seu kit médico, ele deixou um livro com seus registros médicos, o quais Claire lê em alguns momentos, além de fazer suas próprias anotações no mesmo caderno. As experiências com penicilina foram algo bem interessante de ver, e também causaram algum alvoroço no livro, principalmente por envolver alimentos podres para desenvolver o remédio. Confira um trecho sobre o início das experiências:
“A sra. Bug apareceu de repente, vindo da lateral da casa, com uma tigela de comida para as galinhas nas mãos. Ela parou ao nos ver, abrindo a boca imediatamente. Eu me preparei instintivamente para o ataque, e ouvi Brianna rir baixinho.
– Ah, aí está a senhora! Eu estava dizendo a Lizzie que era uma lástima, uma lástima enorme, que essas pestes fiquem por aqui, deixando a sujeira toda espalhada, até no consultório da senhora, e ela disse para mim, a Lizzie, ela disse…
– No meu consultório? O quê? Onde? O que eles fizeram? – Esquecendo-me da cruz, eu já estava seguindo em direção à casa com a sra. Bug atrás de mim, ainda falando.
– Eu peguei dois deles brincando com as tigelas ali dentro com as suas garrafas azuis e uma maçã, agarrei a orelha dos dois com tanta força que tenho certeza de que ainda estão ardendo, criaturas malditas, e além disso estão deixando a comida
apodrecer e…
– O meu pão! – Eu havia chegado ao hall de entrada e abrira a porta do consultório, onde encontrei tudo impecável – incluindo o balcão onde eu havia colocado meus experimentos mais novos com penicilina. Estava totalmente vazia, com a superfície de carvalho limpa.
– Estava nojento – disse a sra. Bug atrás de mim. Ela pressionou os lábios. – Nojento! Coberto de bolor, tudo coberto, azul e…
Respirei fundo, as mãos cerradas ao lado do corpo para não a enforcar. Fechei a porta do consultório, esquecendo o balcão vazio, e me virei para a pequena escocesa.
– Sra. Bug – falei, esforçando-me ao máximo para manter a voz baixa –, a senhora sabe que valorizo muito a sua ajuda, mas eu pedi para não…
A porta da frente se abriu e bateu na parede ao meu lado.”
No mais, tivemos muitas cenas do livro, como treino de tiro, o exame de vista com a interação entre Claire e Roger, porém no livro em vez de letras aleatórias as placas da médica continham frases de Shakespeare. Momentos em Claire teve seu conhecimento questionada devido ao diagnóstico de outros médicos, entre outras coisas. Ah! Sobre Bonnet, aquele duelo realmente ocorre, mas não o vemos. Jamie ouve a respeito em sua busca de informações sobre o pirata. Aqui vale destacar que Bonnet é apresentado a Forbes. Grave isso, pode ser relevando no futuro.
E com isso, encerramos. No geral, foi um bom episódio, que trouxe muito do livro, mas criou sua própria narrativa. E você Sasse, ou Highlander, o que achou do episódio? Curtiu a adaptação, faria algo diferente? Comente!
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One Comment
Ivonete Opilhar
Vi o episódio 2 vezes e ainda não consegui definir se gostei ou não…Já tendo lido os livros, me pergunto como vai ficar a história da Malva, por exemplo…e toda a família dela…enfim…