1ª temporada,  Série

Livro vs Série – 1×08 – Both Sides Now

Chegamos ao oitavo episódio, que marca a metade da primeira temporada (gente, não foi que começamos a rever tudo isso?). “Both Sides Now” traz diversos acréscimos e adaptações, como sempre vamos analisar as principais mudanças.

Logo no início do episódio temos um acréscimo à narrativa ao ser mostrada a perspectiva de Frank, que não desistiu da busca por sua esposa. Essa é uma sequência que não existe no livro, criada apenas para a série.

Outra adaptação foi sobre a história do desertor Horrocks, que na série é apresentada toda por Hugh Munro. No livro, essa informação é fragmentada. Jamie já tinha uma pista sobre o ex-soldado que poderia livrar seu nome, porém não tinha como ir atrás dele, pois ele vivia em uma região muito patrulhada. Após a reunião com Munro, ele pede ao amigo que localize o soldado e marque um encontro em outro lugar. Isso acaba tirando outra narrativa que só acompanhamos no livro. Quando encontramos Jamie, ele está voltando de mosteiro na França, onde se recuperava de um ferimento, possivelmente causado por Dougal. É nesse diálogo que também que é explicado o porquê de Jamie não ter realizado seu juramento no Grande Encontro. Confira um trecho dessa trama:

— Bem, de qualquer modo, após algum tempo cansei de viver como soldado na França. E fiquei sabendo por meio do meu tio Alex que ele ouvira falar de um desertor inglês, de nome Horrocks. O sujeito deixara o exército e fora trabalhar para Francis MacLean, de Dunweary. Estava bêbado um dia e deixou escapar que estava servindo na guarnição em Fort William quando eu fugi. E ele tinha visto o homem que atirou no sargento-mor naquele dia.
— Então, ele podia provar que não foi você! — Parecia ser uma boa notícia e eu disse isso a Jamie. Ele assentiu.
— Bem, sim. Embora a palavra de um desertor provavelmente não tivesse muito valor. Ainda assim, é um começo. Ao menos, eu mesmo saberia quem foi. E enquanto eu… bem, não vejo como possa voltar a Lallybroch; seria bom se pudesse andar pela Escócia sem o risco de ser enforcado.
— Sim, parece uma boa ideia — falei secamente. — Mas onde entram os MacKenzie nesta história?
Seguiu-se certa dose de complicada análise de relações familiares e alianças de clãs, mas quando a fumaça se dispersou, pareceu que Francis MacLean tinha alguma conexão com o lado dos MacKenzie e informara Colum a respeito de Horrocks, que então enviou Dougal para fazer contato com Jamie.
— Foi assim que aconteceu de ele estar por perto quando fui ferido — concluiu Jamie. Parou, apertando os olhos contra o sol. — Perguntei-me, depois, sabe, se talvez ele mesmo não tenha feito isso.
— Golpeá-lo com um machado? Seu próprio tio? Por que, pelo amor de Deus, ele haveria de fazer isso?!
Ele franziu o cenho como se avaliasse quanto deveria me contar, depois encolheu os ombros.
— Não sei quanto você sabe sobre o clã MacKenzie — disse ele —, embora imagine que não possa ter cavalgado com o velho Ned Gowan durante dias sem ouvir alguma coisa. Ele não consegue fugir do assunto por muito tempo.
Meneou a cabeça diante do meu sorriso de confirmação.
— Bem, você viu Colum. Qualquer um pode ver que ele não vai viver até uma idade avançada. E o pequeno Hamish tem apenas 8 anos; não poderá liderar um clã ainda por uns 10 anos. Então, o que acontece se Colum morre antes de Hamish estar preparado? — Olhou para mim, aguardando a resposta.
— Bem, Dougal seria o chefe do clã, creio — respondi devagar —, ao menos até que Hamish atinja a idade certa.
— Sim, é verdade. — assentiu Jamie. — Mas Dougal não tem a capacidade de Colum e há aqueles no clã que não o seguiriam com satisfação se houvesse uma alternativa.
— Compreendo — disse lentamente —, e você é essa alternativa.
Os ingleses já tinham problemas suficientes nas Terras Altas, com pequenas e constantes rebeliões, incursões pelas fronteiras e clãs em guerra, para não se arriscar a provocar um levante de grandes proporções acusando o chefe de um grande clã de assassinato — que para os membros do clã não seria, de forma alguma, considerado assassinato.
Enforcar um membro sem importância do clã Fraser era uma coisa; invadir o Castelo Leoch e arrastar o senhor do clã MacKenzie para enfrentar a justiça inglesa era inteiramente diferente.
— Você pretende ser o chefe, se Colum morrer? — Afinal, seria uma maneira de sair de suas dificuldades, embora eu suspeitasse que seria um caminho repleto de seus próprios e consideráveis obstáculos.
Ele sorriu diante da ideia.
— Não. Ainda que me sentisse no direito, o que não é o caso, isso dividiria o clã, os homens de Dougal contra aqueles que me seguissem. Não tenho o gosto pelo poder à custa do sangue de outros homens. Mas Dougal e Colum não poderiam saber disso, não é? Assim, devem ter achado mais fácil me matar do que correr o risco.
Minha testa estava franzida, tentando compreender todas as implicações.
— Mas sem dúvida você poderia dizer a Dougal e Colum que não pretende… ah. — Ergui os olhos para ele com considerável respeito. — Mas você já fez isso. No juramento.
Vendo o perigo, tomara a prudente decisão de ficar longe da cerimônia. E quando eu, por minha estropiada tentativa de fuga, o levei de volta à beira do abismo, ele pisara com firmeza e segurança numa fina corda bamba e atravessara para o outro lado. Je suis prest, de fato.
Assentiu, vendo os pensamentos cruzarem meu rosto.
— Sim. Se eu tivesse feito o juramento naquela noite, provavelmente não chegaria a ver a luz do dia.
Fiquei um pouco abalada com a ideia, assim como com o conhecimento de que eu, inadvertidamente, o expusera a tal perigo. A faca acima da cama de repente não pareceu nada além do que uma sensata precaução. Imaginei quantas noites ele teria dormido armado em Leoch, esperando a visita da morte.
— Sempre durmo armado, Sassenach — disse ele, embora eu não tivesse falado. — Exceto no monastério, ontem foi a primeira noite em meses que não dormi com minha adaga na mão. — Riu, obviamente lembrando-se do que estava em sua mão em vez da arma.

A adaptação opta por dividir e condensar algumas informações, a fim transmitir melhor a narrativa como um todo na TV.

Mais uma pequena mudança no encontro com Hugh: nosso amigo mendigo também diz ter casado e ser padrasto de seis crianças. A troca de presentes são caça e bebida. A libélula no âmbar é enviada por Munro posteriormente, junto um bilhete com o poema de Catulo e a localização de Horrocks. Confira:

Eu não vi Hugh Munro outra vez, mas acordei no escuro da noite anterior e vi que Jamie não estava no cobertor ao meu lado. Tentei ficar acordada, esperando que retornasse, mas adormeci quando a lua começou a descer no horizonte. Pela manhã, ele dormia profundamente ao meu lado e sobre o meu cobertor havia um pequeno pacote, embrulhado em uma folha de papel fino, com uma pena da cauda de pica-pau enfiada nele. Abrindo-o cuidadosamente, encontrei um grande pedaço de âmbar bruto. Uma das faces do bloco fora aplainado e polido e, nessa janela, podia-se ver a forma escura e delicada de uma pequena libélula, suspensa num voo eterno.
Alisei o papel do embrulho. Havia uma mensagem gravada na superfície branca encardida, escrita numa letra pequena e surpreendentemente elegante.
— O que diz? — perguntei a Jamie, estreitando os olhos diante das letras e sinais estranhos. — Acho que está em gaélico.
Ele ergueu-se em um dos cotovelos, examinando o papel.
— Não é gaélico — disse ele. — É latim. Munro já foi professor, antes de os turcos o levarem. É um trecho de Catulo:

… da mi basia mille, diende centum,
dein mille altera, dein secunda centum…


Um leve rubor tomou conta dos lóbulos de suas orelhas enquanto traduzia:

Permita, então, que beijos apaixonados permaneçam
Em nossos lábios, comece a contagem
Até mil e cem
E mais cem e mais mil.


Bem, isso tem mais classe do que o conhecido biscoito da sorte — observei, achando graça.

Por fim, quando Jamie parte para o encontro com Horrocks ele deixa Claire com Willie. Percebendo quão próxima à Craigh na Dun está, nossa enfermeira corre para a colina, onde é capturada. No livro, Jamie a deixa sozinha e contrariada em um bosque, e ao se dar conta que está a cerca de dez quilômetros das pedras místicas, ela decide partir para a montanha. No entanto, Claire pensa em Jamie e faz um caminho diferente, próximo à água, e num acidente quase se afoga, sendo resgatada por soldados ingleses que a reconhecem e levam para Fort Willian. Ela não chega nem perto de fazer a passagem novamente.

Confiram o trecho:

— Cuide-se, Sassenach. Está com sua adaga? Ótimo. Volto o mais rápido que puder. Ah, mais uma coisa.
— O que é? — perguntei, amuada.
— Se você sair deste bosque antes de eu vir buscá-la, vou esfolar seu traseiro com o cinto da minha espada. Não iria gostar de percorrer a pé todo o caminho até Bargrennan. Lembrese — disse ele, beliscando delicadamente minha bochecha —, não faço promessas vazias.
[…]
Meu estômago deu um salto repentino quando pensei em Jamie. Deus, como poderia fazer isso? Deixá-lo sem uma palavra de explicação ou desculpas? Desaparecer sem deixar vestígios, depois de tudo que fizera por mim?
Com esse pensamento, finalmente decidi deixar o cavalo. Ao menos, pensaria que não o deixei por vontade própria; acreditaria que fui assassinada por animais selvagens — toquei a adaga no meu bolso — ou talvez sequestrada por bandidos. E não encontrando nenhuma pista do meu paradeiro, finalmente me esqueceria.
[…]
Cautelosamente, fui escolhendo meu caminho pela margem escarpada até a beira d’água. O barulho da correnteza abafava o som dos pássaros no bosque acima. A descida era difícil, mas ao menos havia espaço para caminhar ali junto à água. A beirada do rio era lamacenta e semeada de pedras, mas transitável. Mais para baixo, vi que teria que entrar na água e seguir precariamente de pedra em pedra, equilibrando-me acima da correnteza, até a margem alargar-se o suficiente para eu voltar à orla outra vez.
Após algum tempo, já estabelecera uma coreografia. Pisar, firmar-se, parar, olhar em volta, localizar o próximo passo. Pisar, firmar-se, parar e assim por diante. Devo ter ficado confiante demais, ou talvez apenas cansada, porque me descuidei e errei o alvo. Meu pé escorregou irremediavelmente pela frente da pedra coberta de limo. Agitei os braços freneticamente, tentando voltar para a pedra onde estava antes, mas já perdera o equilíbrio. Com saias, anáguas, adaga e tudo, mergulhei na água.
Fui lançada para cima, os braços estendidos acima da cabeça. Vira um lampejo de vermelho quando irrompi da água na última vez; devia haver uma sorveira-brava projetando-se sobre a água. Talvez eu conseguisse agarrar um galho.
Quando meu rosto saiu da água, algo agarrou minha mão estendida. Algo duro, quente e reconfortantemente sólido. Outra mão.
Tossindo e cuspindo, tateei cegamente com a mão livre, contente demais com o resgate para lamentar a interrupção de minha tentativa de fuga. Contente ao menos até que, ao afastar os cabelos para trás, ergui os olhos para o rosto de Lancashire, carnudo e ansioso, do jovem cabo Hawkins.

Isso encerra nossa análise de hoje, Sasses. Sabe o que é legal? Semana que vem já tem outra. Quando foi exibida originalmente a série entrou em hiatus após o oitavo episódio. “Mas com esse final!?”. Sim, a continuação na época demorou 6 meses pra chegar nas telinhas.
E você gostou da adaptação? Mudaria algo? Comente!

4 - Os Tambore do Outono VU

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