2ª temporada,  Série

Livro vs Série – 2×09 – Je Suis Prest

Minhas queridas Sassenachs, estão todas preparadas para adentrar aos campos de batalha da revolução Jacobita? Je Suis Prest ;P … O nono episódio nos traz um cenário de reencontros e preparação para batalha, e o que isso pode despertar no subconsciente de quem já viveu uma grande guerra. Mas você pode se perguntar, no livro foi assim? Vamos dar início ao nosso comparativo e descobrir!

Podemos começar dizendo que este é o episódio mais original da segunda temporada. Praticamente toda a história ali contada foi uma narrativa exclusiva da série. Um exemplo, no livro não vemos Claire sofrer com lembranças da Segunda Guerra Mundial, o que foi uma adição interessante, pois são eventos traumáticos e que podem sim mexer com uma pessoa. Outra adição foi a participação de Dougal. O chefe de guerra do clã MacKenzie só aparece no livro muitos capítulos a frente. Toda a parte do treinamento do destacamento dos Frasers também foi um adicional da série. No último episódio, dissemos que a série mudou um pouco a ordem dos acontecimentos. Jamie marcha para encontrar o exército do príncipe não com pelotão de mais de 100 homens (os seus e os de Lord Lovat), mas sim apenas os 30 homens de Lallybroch. A série acrescenta tramas para envolver mais personagens, além de criar seu próprio ritmo para a história.

“Mas então o que temos do livro nesse episódio?” Você deve estar se perguntando. Simples: Willian Grey, conhecido também como a versão adolescente do nosso amado Lord John. No livro, após alguns dias de marcha depois de sair de Lallybroch, Jamie e seus homens acampam, lá tem uma conversa bem humorada e nojenta sobre piolhos. É aqui, logo no início da jornada, quando está sozinho com Claire, que Jamie é atacado pelo jovem inglês. No entanto, a série realizou pequenas mudanças para dar dinamismo a cena, e ficar um pouco menos bruta. Originalmente, Jamie chega a queimar a lateral do rosto de Grey com a facha quente, porém algo superficial. E o plano de usar a honra de Claire contra o garoto na realidade é de Jamie, que abusa um pouco da paciência da esposa fazendo isso. Confira o trecho do encontro entre Jamie e o jovem Grey:

Era um rosto pequeno, de ossos delicados, com olhos grandes de longas pestanas que piscavam aturdidamente para as figuras ao seu redor.
— Mas é só um menino! — exclamei. — Não pode ter mais de quinze anos!
— Dezesseis! — disse o garoto. Balançou a cabeça, recobrando os sentidos. — Não que isso faça qualquer diferença — acrescentou ele arrogantemente, com um sotaque inglês. Sotaque de Hampshire, pensei. Ele estava muito longe de casa.
— Não faz mesmo — concordou Jamie de modo assustador. — Dezesseis ou sessenta, ele acabou de fazer uma tentativa bem real de cortar minha garganta. — Percebi então o lenço manchado de vermelho, pressionado contra a lateral de seu pescoço.
— Não vou lhes contar nada — disse o garoto. Seus olhos eram duas poças escuras no rosto lívido, embora a luz da fogueira reluzisse nos cabelos louros. Ele agarrava um dos braços com força à sua frente; achei que provavelmente estivesse machucado. O garoto estava obviamente fazendo um grande esforço para se manter em pé e empertigado no meio dos homens, os lábios comprimidos contra qualquer expressão teimosa de medo ou dor.
— Algumas coisas você não precisa me contar — disse Jamie, examinando o garoto de alto a baixo. — Primeiro, você é inglês, então provavelmente veio com tropas próximas. Segundo, está sozinho.
O garoto pareceu surpreso.
— Como sabe disso?
Jamie ergueu as sobrancelhas.
— Imagino que não teria me atacado, a menos que achasse que esta senhora e eu estávamos sozinhos. Se estivesse com outras pessoas que também pensassem assim, provavelmente teriam vindo socorrê-lo agora mesmo. Aliás, seu braço está quebrado? Acho que senti alguma coisa estalar. Se estivesse com outras pessoas que soubessem que não estávamos sozinhos, elas o teriam impedido de tentar algo tão tolo. — Apesar de seu diagnóstico, notei três dos homens desaparecerem discretamente na floresta, atendendo a um sinal de Jamie, provavelmente para verificar se havia outros invasores.
A expressão do rosto do rapaz endureceu-se ao ouvir sua ação ser classificada de tola. Jamie tocou o lenço de leve sobre o ferimento no pescoço e examinou-o com ar crítico.
— Se estiver tentando matar alguém por trás, garoto, escolha um homem que não esteja sentado numa pilha de folhas secas — advertiu ele. — E se estiver usando uma faca em alguém maior do que você, escolha o ponto certo; cortar a garganta de uma pessoa é arriscado, a menos que sua vítima fique sentada, imóvel, à sua frente.
— Obrigado pelo valioso conselho — disse o garoto com escárnio. Ele estava se saindo bem em tentar manter sua bravata, embora seus olhos saltassem nervosamente de um rosto ameaçador e barbudo para outro. Nenhum homem das Terras Altas ganharia um concurso de beleza em plena luz do dia; à noite, não era o tipo de pessoa que você gostaria de encontrar num lugar escuro.
Jamie respondeu cortesmente:
— Não há de quê. É uma lástima que você não vá ter a oportunidade de usá-lo no futuro. Aliás, gostaria de saber, por que me atacou?
Os homens, atraídos pelo barulho, começaram a surgir dos acampamentos próximos, deslizando como espectros do meio das árvores. O olhar do garoto saltou de um lado a outro, em torno do crescente círculo de homens, recaindo finalmente sobre mim. Hesitou por um instante, mas respondeu:
— Eu esperava libertar a senhora de sua custódia.
Uma leve movimentação de riso reprimido percorreu o círculo, sendo rapidamente extinguido por um breve gesto de Jamie.
— Compreendo — disse ele, de forma não comprometedora. — Você nos ouviu conversar e concluiu que se tratava de uma senhora inglesa de boa família. Ao passo que eu…— Ao passo que o senhor é um fora da lei sem escrúpulos, com uma reputação de roubo e violência! Seu rosto e descrição estão em enormes cartazes espalhados por toda parte em Hampshire e Sussex! Eu o reconheci imediatamente; é um rebelde e um devasso sem princípios! — O rapaz irrompeu furiosamente, o rosto manchado de vermelho mesmo sob a luz da fogueira.
Mordi o lábio e abaixei os olhos para os meus sapatos, para não encarar Jamie. […]

Enrolando a mão no lenço manchado de sangue, Jamie cautelosamente retirou a adaga do fogo. Avançou devagar em direção ao garoto, deixando a lâmina cair, como se tivesse vontade própria, até tocar o colete do rapaz. Um cheiro forte de tecido queimado desprendeu-se do lenço enrolado em torno do cabo da arma, que se tornava mais forte conforme uma fina linha queimada traçava seu curso, subindo pela frente do colete no caminho da adaga. A ponta da lâmina, escurecendo à medida que esfriava, parou bem abaixo do queixo duramente erguido. Eu podia ver finas linhas de suor brilhando nas cavidades esticadas do pescoço delgado. […]
A lâmina escurecida pressionou com força e repentinamente em toda a sua extensão, plana, sob o ângulo de seu maxilar. Ouviu-se um grito agudo e arfante, e o cheiro de pele queimada.
— Jamie! — gritei, sem conseguir me conter. Ele não se voltou para me olhar, mas manteve os olhos fixos no prisioneiro, o qual, libertado das mãos em seus braços, deixou-se cair de joelhos sobre as folhas secas varridas pelo vento, a mão agarrando o pescoço.
— Isso não lhe diz respeito, senhora — falou ele entre dentes. Estendendo o braço, agarrou o menino pela frente da camisa e colocou-o de pé com um safanão. Cintilando, a lâmina da adaga ergueu-se entre eles e pousou logo abaixo do olho esquerdo do garoto.
Jamie inclinou a cabeça numa pergunta silenciosa, mas recebeu em resposta uma negativa quase imperceptível, porém definitiva.
A voz do garoto não passava de um sussurro trêmulo; teve que pigarrear para se fazer ouvir.
— N-não — disse ele devagar. — Não. Não há nada que você possa fazer que me obrigue a contar-lhe qualquer coisa.
Jamie continuou segurando-o por mais um instante, fitando-o nos olhos, depois soltou o tecido enrugado em sua mão e deu um passo para trás.
— Não — disse ele lentamente —, acho que não há. Não a você. Mas e quanto à senhora?
No começo, não percebi que ele se referia a mim, até que ele me agarrou pelo pulso e me puxou com força para junto de si, fazendo-me tropeçar ligeiramente no solo irregular. Caí em sua direção e ele torceu meu braço bruscamente atrás das minhas costas.
— Você pode não ligar para o seu próprio bem-estar, mas talvez tenha alguma consideração pela honra da senhora, já que estava se dando a tanto trabalho para resgatá-la.
— Virando-me para ele, enroscou os dedos nos meus cabelos, forçou minha cabeça para trás e beijou-me com uma brutalidade deliberada que me fez contorcer o próprio corpo de modo involuntário em protesto.
Soltando meus cabelos, puxou-me com força contra seu peito, de frente para o garoto do outro lado da fogueira. Os olhos do menino estavam arregalados, apavorados, com reflexos das chamas nas grandes pupilas escuras.
— Solte-a! — exigiu ele com voz rouca. — O que pretende fazer com ela?
As mãos de Jamie alcançaram a gola do meu vestido. Com um violento puxão, rasgou o tecido do vestido e da roupa de baixo, desnudando quase todo o meu peito. Reagindo instintivamente, chutei-o na canela. O garoto emitiu um som inarticulado e deu um salto para a frente, mas foi impedido mais uma vez por Ross e Kincaid.
— Já que perguntou — disse a voz de Jamie em tom agradável atrás de mim —, estou disposto a violentar esta senhora diante dos seus olhos. Depois, eu a entregarei aos meus homens, para fazerem o que quiserem. Talvez você também queira ter a sua vez antes que eu o mate? Um homem não deve morrer virgem, não acha?
Eu lutava seriamente agora, o braço mantido preso às costas com mão de ferro, meus protestos abafados pela palma grande e quente de Jamie sobre minha boca. Enfiei os dentes com força na base de sua mão, arrancando sangue. Ele retirou-a bruscamente com uma exclamação sufocada, mas retornou-a quase de imediato, forçando um pedaço de pano como uma bucha entre meus dentes. Eu emitia sons estrangulados através de minha mordaça quando as mãos de Jamie lançaram-se sobre meus ombros, afastando ainda mais os pedaços fragmentados do meu vestido. Com um som rascante de linho fino e rústico rasgados, ele me desnudou até a cintura, prendendo meus braços junto às laterais do corpo. Vi Ross olhar para mim e logo desviar os olhos, fixando-o de modo intenso no prisioneiro, um lento rubor tomando conta de seu rosto. Kincaid, ele mesmo com apenas dezenove anos, ficou olhando fixamente em estado de choque, a boca aberta como uma planta carnívora.
— Pare! — A voz do rapaz estava trêmula, mas agora indignada, em vez de aterrorizada.
— Você… você, covarde miserável! Como ousa desonrar uma senhora, seu canalha escocês!
— Empertigou-se por um instante, o peito arquejante de emoção, depois tomou uma decisão. Arremeteu a cabeça para trás e empinou o queixo. — Muito bem. Não tenho outra escolha honrada. Solte a senhora e eu lhe direi o que quer saber.
Uma das mãos de Jamie largou meu ombro no mesmo instante. Não vi seu gesto, mas Ross soltou o braço quebrado do rapaz e saiu às pressas para buscar meu manto, que caíra no chão despercebidamente durante a agitação da captura do garoto. Jamie puxou minhas duas mãos para trás e, arrancando meu cinto, usou-o para atá-las com firmeza às minhas costas. Pegando o manto das mãos de Ross, jogou-o sobre meus ombros e fechou-o com cuidado. Dando um passo para trás, inclinou-se ironicamente para mim numa mesura, depois se virou para encarar o prisioneiro.
— Tem minha palavra de que a senhora estará a salvo das minhas investidas — disse ele.
O tom de sua voz podia ser atribuído à tensão da raiva e do desejo frustrado; eu o reconheci como a angustiante repressão de uma incontrolável vontade de rir, e alegremente o teria matado ali mesmo.
O rosto endurecido como uma pedra, o rapaz forneceu as informações exigidas, falando em monossílabos.

Até aqui você viu na série, certo? Mas tivemos um pouco mais. Após receber a informação que precisava, Jamie diz que vai matar Grey, porém usa Claire para defender o garoto e criar uma desculpa para libertá-lo. Outra diferença, nosso jovem Lord, já muito honrado, se recusa a morrer sem a garantia de que a senhora inglesa ficara bem. Nesse momento ele descobre que na verdade ela é esposa do depravado escocês. Na série, Jamie só conta verdade para John anos depois.

Confira:

— Coração ou cabeça? — perguntou Jamie despreocupadamente, erguendo por fim o rosto.
— Hein? — O rapaz permaneceu de boca aberta, com ar estúpido de absoluta incompreensão.
— Eu vou matá-lo com um tiro — explicou Jamie pacientemente. — Em geral, espiões são enforcados, mas em consideração ao seu cavalheirismo, estou disposto a lhe dar uma morte rápida e limpa. Prefere receber o tiro na cabeça ou no coração?
O rapaz empertigou-se rápido, endireitando os ombros.
— Ah, oh, sim, claro. — Umedeceu os lábios com a língua e engoliu em seco. — Acho que… no coração. Obrigado — acrescentou ele, numa reflexão tardia. Ergueu o queixo, comprimindo os lábios, que ainda detinham um resquício de seus contornos suaves e infantis.
Meneando a cabeça em concordância, Jamie engatilhou a arma com um clique que ecoou pelo silêncio sob os carvalhos.
— Espere! — disse o prisioneiro. Jamie olhou-o com um ar inquiridor, a pistola apontada para o peito delgado. — Que garantia eu tenho de que a senhora não será molestada depois que eu… depois que eu tiver partido? — exigiu o garoto, olhando agressivamente à volta do círculo de homens. Sua única mão em perfeito estado estava fechada com força, mas tremia ainda assim. Ross emitiu um som que habilmente transformou num espirro.
Jamie abaixou a pistola e, com um controle inabalável, manteve o rosto impassível, numa expressão de solene seriedade.
— Bem — disse ele, com o sotaque escocês mais forte sob a tensão —, você tem a minha própria palavra, é claro, embora eu possa compreender perfeitamente que você tenha alguma hesitação em aceitar a palavra de um… — seu lábio se contorceu involuntariamente — covarde escocês. Talvez aceite a garantia da própria senhora? — Ergueu uma das sobrancelhas em minha direção e Kincaid adiantou-se prontamente para me libertar de minha mordaça.
— Jamie! — exclamei furiosa, a boca finalmente livre. — Isso é inadmissível! Como pôde fazer tal coisa? Seu… seu…
— Covarde — adiantou-se ele prestativamente. — Ou canalha, se preferir. O que acha, Murtagh — disse, voltando-se para seu tenente —, eu sou um covarde ou um canalha?
Os lábios finos de Murtagh contorceram-se numa expressão malvada.
— Eu diria que você é carne de cachorro se libertar sua garota sem uma adaga na mão.
Jamie voltou-se para seu prisioneiro com ar de arrependimento.
— Devo me desculpar com minha esposa por forçá-la a tomar parte nesta encenação. Asseguro-lhe de que sua participação foi inteiramente a contragosto. — Examinou pesarosamente a mão mordida à luz da fogueira.
— Sua esposa! — O rapaz olhava desvairadamente de mim para Jamie.
— Também lhe asseguro que, embora a senhora em questão às vezes honre minha cama com sua presença, ela nunca o fez sob coação. E não o fará agora — acrescentou ele enfaticamente —, mas não a desamarre ainda, Kincaid.
— James Fraser — sibilei entre os dentes cerrados. — Se tocar neste garoto, com certeza nunca mais partilhará a minha cama!
Jamie ergueu uma das sobrancelhas. Seus caninos brilharam momentaneamente à luz do fogo.
— Bem, essa é uma ameaça séria para um devasso sem princípios como eu, mas acho que não posso considerar meus próprios interesses nesta situação. Guerra é guerra, afinal de contas. — A pistola, que ele deixara arriar, começou a elevar-se outra vez.
— Jamie! — gritei.
Ele abaixou a pistola de novo e virou-se para mim com uma expressão de exagerada paciência.
— Sim?
Respirei fundo, para impedir que minha voz tremesse de raiva. Eu só podia imaginar o que ele estava tramando e esperava estar fazendo o que era certo naquela encenação. Certo ou não, quando isso terminasse… Afastei a visão extremamente agradável de Jamie contorcendo-se no chão com meu pé em seu pomo de adão, a fim de me concentrar no meu presente papel.
— Você não tem absolutamente nenhuma prova de que ele seja um espião — continuei.
— Ele disse que se deparou com você por acaso. Quem não ficaria curioso se visse uma fogueira no bosque?
Jamie assentiu, seguindo meus argumentos.
— Sim, e quanto à tentativa de assassinato? Espião ou não, ele tentou me matar, ele mesmo admitiu. — Passou os dedos delicadamente sobre o arranhão vermelho na lateral de seu pescoço.
— Ora, é claro que ele o fez — disse, acaloradamente. — Ele diz que sabia que você era um fora da lei. Sua maldita cabeça está a prêmio, pelo amor de Deus!
Jamie esfregou o queixo pensativo, virando-se finalmente para o seu prisioneiro.
— Bem, é um argumento — disse ele. — William Grey, sua advogada defendeu-o muito bem. Não é política nem de Sua Alteza, o príncipe Charles, nem minha, executar pessoas de modo ilegal, seja inimigo ou não. — Convocou Kincaid com um gesto. — Kincaid, você e Ross levem este homem na direção onde ele diz que está seu acampamento. Se as informações que ele nos deu forem verdadeiras, amarrem-no em uma árvore a um quilômetro e meio do acampamento na linha de marcha. Seus amigos o encontrarão lá amanhã. Se o que ele nos contou não for verdade… — parou, os olhos frios pousados no prisioneiro — cortem sua garganta.
Encarou o rapaz diretamente nos olhos e disse, com um ar zombeteiro:
— Eu lhe dou sua vida. Espero que a use bem.
Deslocando-se para trás de mim, cortou a tira de pano que amarrava meus pulsos. Quando me virei furiosamente, ele indicou o garoto, que sentara-se de repente no chão, sob o carvalho.
— Talvez queira fazer a gentileza de cuidar do braço do rapaz antes de sua partida?
A carranca de pretensa ferocidade desaparecera de seu rosto, deixando-o impenetrável como uma muralha. As pálpebras estavam abaixadas, evitando o meu olhar.
Sem uma palavra, dirigi-me ao garoto e ajoelhei-me a seu lado. Ele parecia aturdido e não protestou quando o examinei, nem com as subsequentes manipulações, embora deva ter sido doloroso.
O corpete rasgado do meu vestido insistia em deslizar dos meus ombros e eu xingava baixinho enquanto ajeitava, irritada, um lado e outro pela milésima vez. Os ossos do antebraço do rapaz eram leves e angulosos sob a pele, pouco mais largos do que os meus. Coloquei uma tala no braço e pendurei-o numa tipoia usando meu próprio lenço.
— É uma fratura simples — disse a ele, tentando manter a voz impessoal. — Procure manter o braço imóvel pelo menos por duas semanas. — Ele assentiu, sem olhar em minha direção.
Jamie ficara sentado em silêncio num toco de madeira, observando meus serviços. Com a respiração entrecortada, caminhei até ele e o esbofeteei com toda a força. A bofetada deixou uma mancha branca em uma das bochechas e fez seus olhos lacrimejarem, mas ele não se mexeu nem mudou de expressão.
Kincaid pôs o garoto de pé e empurrou-o para a borda da clareira com uma das mãos nas costas. Ao atingir o limite das sombras, ele parou e virou-se. Evitando olhar para mim, falou diretamente para Jamie:
— Eu lhe devo minha vida — disse ele formalmente. — Eu preferia que não fosse assim, mas já que me forçou a aceitar sua dádiva, devo considerá-la uma dívida de honra. Espero poder pagar essa dívida no futuro, e assim que estiver paga… — A voz do garoto tremeu ligeiramente com o ódio contido, perdendo toda a pretendida formalidade na absoluta sinceridade de seus sentimentos — … eu o matarei!
Jamie ergueu-se do toco de árvore em toda a sua altura. Seu rosto estava calmo, sem qualquer vestígio de divertimento. Inclinou a cabeça com seriedade para seu prisioneiro de partida.
— Neste caso, senhor, espero que não nos encontremos nunca mais.
O rapaz empertigou os ombros e devolveu o cumprimento com rigor.
— Um Grey jamais esquece um compromisso, senhor — disse ele, desaparecendo na escuridão com Kincaid junto a seu cotovelo.

Agora você pergunta, não tem mais trechos hoje? Uma passagem diferente? Não. Como a maior parte do episódio foi uma trama original da série, focamos na cena principal que ocorre no livro, que é a primeira a aparição de John Willian Grey.

Com isso, ficamos por aqui. E você Sasse curtiu o episódio? Comente, deixe sua opinião!

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