Daily Line: Feliz Páscoa
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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(extraído de Vá Dizer Às Abelhas Que Parti, Copyright 2019, Diana Gabaldon)
“O senhor Fraser era um jacobita, você sabe o que isso significa?” Fanny sacudiu a cabeça em sinal negativo.
“Os jacobitas era os apoiadores de James Stuart que lutaram contra o governo britânico,” eu expliquei. “Eles perderam aquela batalha.” Eu podia sentir um buraco se abrindo entre minhas costelas enquanto falava. Tão poucas palavras para a descrever a destruição de tantas vidas.
“O senhor Fraser foi para a prisão depois da batalha; ele não tinha condições de tomar conta de William. Lord John era seu amigo e se ofereceu para criar William como se fosse seu próprio filho, porque nenhum deles acreditava que o senhor Fraser seria um dia libertado, e porque Lord John achava que nunca teria filhos. “Eu pensei estar ouvindo um eco de um conselho de Frank, como se fosse um sussurro de aranha por trás da lareira vazia: diga sempre a verdade, na medida do possível…
“Lord John foi ferido?” perguntou Fanny. “Na luta?”
“Ferido – oh, porque ele não podia ter filhos, você quer dizer? Eu não sei – mas ele foi ferido, com certeza.” Eu tinha visto as cicatrizes. Eu limpei a garganta. “Deixe-me dizer uma coisa, Fanny. Sobre mim.”
Os olhos da menina se arregalaram de curiosidade. Eles tinham a coloração cinza de uma pomba, ficando quase que totalmente negros conforme suas pupilas se dilatavam nas sombras da cozinha.
“Eu também lutei em uma guerra,” eu disse. “Não foi a mesma guerra, foi outra, em um país diferente, antes de conhecer o senhor Fraser ou o Lord John. Eu era uma curandeira, eu cuidava dos homens machucados e passei um longo tempo entre os soldados, em lugares horríveis.” Eu tomei fôlego enquanto fragmentos daqueles tempos e daqueles lugares voltavam na minha mente. Eu sabia que aquelas memórias poderiam estar estampadas no meu rosto, mas eu não me importei.
“Eu vi coisas muito ruins,” eu disse simplesmente. “E sei que você também viu.”
O queixo da menina estremeceu levemente e ela desviou o olhar enquanto seus lábios se fechavam. Eu me aproximei devagar e toquei seu ombro.
“Você pode me contar qualquer coisa,” eu disse dando uma leve ênfase em ‘qualquer coisa’. “Mas ,você não precisa contar para mim ou para o senhor Fraser alguma coisa sobre a qual não quer conversar. Mas se quiser conversar sobre alguns assuntos, talvez sobre a sua irmã, ou outra coisa qualquer, saiba que pode contar com a gente. Qualquer pessoa nesta família – eu, o senhor Fraser, a Brianna ou o senhor MacKenzie… você pode conversar com qualquer um de nós se precisar. Nós não ficaremos chocados.” Provavelmente, vamos ficar, eu pensei, mas não importa. “E, talvez, nós possamos ajudá-la, se você estiver preocupada com alguma coisa. Mas…”
Ela ergueu os olhos para aquele sinal instantâneo de alerta, o que me deixou um pouco perturbada. Aquela menina tinha muita experiência em detectar e interpretar tons de voz, provavelmente por uma questão de sobrevivência.
“Mas,” eu repeti com firmeza, “nem todos aqueles que vivem na colina tiveram as mesmas experiências e muitos deles nem conhecem alguém que já tenha tido. A maioria sempre viveu em pequenas vilas na Escócia, muitos nem são alfabetizados. Eles ficariam… chocados, talvez, se você dissesse muitas coisas sobre… o lugar onde você vivia. Como você e sua irmã…”
“Eles nunca estiveram com prostitutas?” ela disse, piscando os olhos. “Eu acho que alguns dos homens já estiveram, sim.”
“Não tenho dúvidas de que você está certa,” eu disse, tentando manter o controle sobre a conversa. “Mas são as mulheres que gostam de falar.”
Ela assentiu com uma certa gravidade. Eu podia perceber um pensamento passando pela sua mente, ela desviou os olhos por um instante, piscou e, então, olhou de volta para mim, com ar pensativo.
“O que foi?” eu perguntei.
“A mãe da senhora MacDonald diz que a senhora é uma bruxa,” ela respondeu. “A senhora MacDonald tentou fazê-la para de falar quando viu que eu estava ouvindo, mas a velha senhora nunca para de falar, nunca, exceto quando está comendo.”
Eu já tinha encontrado a mãe de Janet MacDonald, a vovó Campbell, uma ou duas vezes, e não fiquei surpresa ao ouvir o relato.
“Eu não acredito que ela seja a única,” eu disse de maneira resumida. “Mas, o que estou sugerindo é que talvez você devesse ser mais cuidadosa com relação ao que diz fora da família sobre sua vida na Filadélfia.”
Ela concordou e aceitou minhas palavras.
“Não importa que a vovó Campbell diga que a senhora é uma bruxa,” ela disse de forma pensativa. “Porque o senhor MacDonald tem medo do senhor Fraser. Ele tentou fazer a vovó parar de falar sobre a senhora,” ela acrescentou encolhendo os ombros. “De qualquer forma, ninguém tem medo de mim.”
Dê algum tempo a eles, criança, eu pensei enquanto olhava para ela.
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 22/04/2019
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One Comment
Margarida Leite
Muito obrigada! Adorei