Livro vs Série – 7×09 – Unfinished Business
Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar! Voltamos Sassenachs! Com todo clima de nova temporada, porém ainda é a segunda parte da sétima temporada, tanto que a gente sente isso no episódio, não é uma premiere, mas um meio de temporada. Acredito que a série queria quebrar algum recorde de maior hiato no meio de temporada, pois foi sofrido.
Para quem é novo chegando por aqui, seja muito bem vindes! Nosso Livro vs Série não é um comparativo cena a cena, nós trazemos uma análise apenas das principais divergências entre o livro e série, ou que de cenas que chamam mais nossa atenção. E temos esse comparativo de todos os episódios de Outlander, então fique à vontade para navegar pelo site e mergulhar mais nesse mundo.
Sobre o nono episódio, Unfinished Business, vale destacar que já retornamos com o conteúdo de dois livros. Todo núcleo de Jamie, Claire, Joven Ian e companhia se passa no livro 7, Ecos do Futuro, já todo o núcleo do Roger (no passado do passado), quanto Brianna (no futuro), já se passa no oitavo livro, Escrito Com o Sangue do Meu Coração (sim esse nome dá medo, sim você tem motivos para ter medo desse nome).
Outlander retorna mais uma vez trazendo uma bela adaptação, extremamente fiel aos livros durante a maior parte do episódio, com falas lindamente copiadas das páginas, mas também com algumas diferenças importantes. A principal delas, envolve nosso casal favorito, Jamie e Claire, e a dita Lagartixa (Laoghaire). Todo esse plot é um pouco diferente no livro, em parte eu gostei do que fizeram na série, em parte senti falta de um ponto fundamental do livro. Essa grande diferença é o motivo da volta da Claire para a América, que não foi o sobrinho de Lord John, mas sim seu neto, Henri-Christian. O pequeno, que nasceu com nanismo, está com problemas respiratórios, e Marsali escreve para a mãe, Laoghaire, esperando que ela possa entregar a mensagem a Claire. O motivo de Laoghaire abrir mão sua vantagem contra Jamie e se casar é justamente porque ela promete o fazer se Claire ajudar o neto. Confira o trecho com a interação entre Claire e Laoghaire:
“– Está procurando por mim – repeti –, não Jamie?
Ela fez um gesto de desdém, afastando a ideia de Jamie, e enfiou a mão no bolso à sua cintura, retirando dali uma carta dobrada.
– Vim pedir um favor – falou, e pela primeira vez ouvi o tremor em sua voz. – Leia isto. Por favor – acrescentou, e pressionou os lábios com força.
Olhei para seu bolso, desconfiada, mas não estava volumoso; se tivesse trazido uma pistola, não a carregava ali. Peguei a carta e lhe indiquei uma cadeira do outro lado da escrivaninha. Se ela resolvesse me atacar, eu perceberia.
Ainda assim, eu não estava com medo dela. Ela estava transtornada; isso era evidente. Mas muito controlada.
Abri a carta e, com uma olhada ocasional para me certificar de que ela permanecia onde estava, comecei a ler.
15 de fevereiro de 1778, Filadélfia
– Filadélfia? – exclamei, surpresa, erguendo os olhos para Laoghaire.
Ela assentiu.
– Foi para onde eles foram no verão do ano passado, o senhor achando mais seguro. Dois meses depois, o Exército Britânico entrou marchando na cidade e eles estão lá desde então.
“O senhor”, imaginei, era Fergus. Notei o uso da palavra com interesse. Evidentemente, Laoghaire se reconciliara com o marido de sua filha mais velha, pois usou a palavra sem ironia.
Querida mamãe
Preciso pedir que faça uma coisa por amor a mim e aos meus filhos. O problema é com Henri-Christian. Por causa da peculiaridade de sua forma física, ele sempre teve algum problema para respirar, particularmente quando gripado, e tem roncado como um golfinho desde que nasceu. Agora, ele começou a parar de respirar quando dorme, se não estiver recostado em almofadas, quase sentado. Mamãe Claire examinou sua garganta quando papai e ela nos visitaram em New Bern e disse na época que suas adenoides eram muito grandes e poderiam causar problemas no futuro. (Germain também tem isso e dorme com a boca aberta a maior parte do tempo, mas não é um risco para ele como é para Henri-Christian.)
Sinto um terror mortal de que Henri-Christian pare de respirar uma noite dessas e ninguém perceba a tempo. Nós nos revezamos ao lado de sua cama, para manter sua cabeça na posição certa e acordá-lo quando ele parar de respirar, mas não sei por quanto tempo conseguiremos manter essa vigília. Fergus está exausto com o trabalho da loja e eu com o da casa (ajudo na loja também, assim como Germain. As meninas são uma grande ajuda para mim em casa, que Deus as abençoe, e estão sempre dispostas a cuidar de seu irmãozinho – mas não podemos deixálas acordadas à noite, vigiando-o sozinhas).
Mandei um médico examinar Henri-Christian. Ele concorda que as adenoides são provavelmente as responsáveis pela obstrução da respiração. Ele sangrou o menino e me deu um remédio para fazê-las encolher, mas de nada adiantou. Henri-Christian apenas chorava e vomitava. Mamãe Claire – perdoe-me por falar dela com você, pois sei dos seus sentimentos, mas é necessário – disse que talvez fosse preciso remover as amídalas e as adenoides de Henri-Christian em algum momento, para facilitar sua respiração, e esse momento chegou. Ela fez isso para os gêmeos Beardsley há algum tempo, na Cordilheira, e eu não confiaria em mais ninguém para tentar tal operação em Henri-Christian.
Poderia ir vê-la, mamãe? Creio que ela deva estar em Lallybroch agora e eu vou escrever para ela, suplicando-lhe que venha à Filadélfia o mais rápido possível. Mas temo minha inabilidade para comunicar o horror de nossa situação.
Como você me ama, mamãe, por favor, procure-a e peça-lhe que venha o mais rápido possível.
Sua afetuosa filha,
Marsali
Abaixei a carta. Temo minha inabilidade para comunicar o horror de nossa situação. Não, ela fizera isso muito bem. Apneia do sono, é como chamavam a tendência a parar de respirar ao dormir. Era comum, e muito mais comum em alguns tipos de nanismo, em que as vias respiratórias eram prejudicadas pelas anormalidades do esqueleto. A maioria das pessoas que sofria disso acordava se debatendo e roncando antes de voltar a respirar. Mas as adenoides e as amídalas aumentadas, obstruindo sua garganta, eram provavelmente um problema hereditário – eu havia notado isso em Germain e, com menor intensidade, nas meninas também – e agravavam a dificuldade, já que, mesmo que o reflexo que faz com que uma pessoa com falta de oxigênio para respirar consiga retomar a respiração automaticamente, Henri-Christian não conseguiria inspirar com a rapidez e a profundidade que o acordaria.
A visão de Marsali e Fergus – e provavelmente Germain – revezando-se em vigília na casa escura, observando o menino, talvez eles mesmos cambaleando de sono no frio e no silêncio, despertando, aterrorizados de que ele tivesse mudado de posição em seu sono e parado de respirar… Um nó de temor se formara sob minhas costelas ao ler a carta.
Laoghaire me observava, os olhos azuis fixos em mim por baixo da touca. Ao menos dessa vez, a raiva, a histeria e a suspeita com que sempre me observava não estavam presentes.
– Se você for – disse ela, e engoliu em seco –, eu desistirei do dinheiro.
Olhei para ela.
– Acha que eu… – comecei a dizer, incrédula, mas parei.
Bem, sim, ela acreditava que eu desejava ser subornada. Ela achava que eu abandonara Jamie depois de Culloden, retornando somente quando ele se tornara próspero outra vez. Lutei contra a ânsia de tentar dizer a ela… mas de nada adiantava, e era irrelevante agora. A situação era clara e cortante como caco de vidro.
Ela colocou as mãos sobre a escrivaninha, pressionadas com tanta força que suas unhas ficaram brancas.
– Por favor – pediu. – Por favor.
Eu tinha consciência de impulsos fortes e conflitantes: de um lado, esbofeteá-la; de outro, colocar a mão sobre a dela. Lutei contra ambos e me forcei a pensar com calma por um instante.
Eu iria, é claro; eu teria que ir. Não tinha nada a ver com Laoghaire ou com o que havia entre nós. Se eu não fosse e Henri-Christian morresse – ele poderia de fato –, eu nunca me perdoaria. Se chegasse a tempo, eu poderia salvá-lo; ninguém mais poderia. Era simples assim.
Meu coração esmoreceu à ideia de deixar Lallybroch agora. Que horror. Como eu poderia, sabendo que deixava Ian pela última vez, talvez também todos eles e o lugar. Mas, até mesmo enquanto esses pensamentos passavam por minha cabeça, a parte de minha mente que era médica já havia apreendido a necessidade de ir e começava a planejar a maneira mais rápida de voltar para a Filadélfia, considerando como eu poderia adquirir o que precisava quando chegasse lá, os possíveis obstáculos e complicações que poderiam surgir – toda a análise prática de como eu deveria fazer o que me havia sido solicitado.
Enquanto minha mente saltava entre essas questões, a implacável lógica dominando o choque, subjugando a emoção, comecei a ver que esse repentino desastre podia ter outros aspectos.
Laoghaire esperava, os olhos fixos em mim, a boca firme.
– Está bem – concordei, recostando-me na cadeira e lhe devolvendo o mesmo olhar direto. – Vamos chegar a um acordo, então?”
A segunda mudança dentro do acordo, essa algo que eu gostei, foi quanto a alteração no acordo entre Jamie e Laoghaire. No livro, a propriedade pertence a Laoghaire, como herança de seu falecido marido, porém ela dependia da pensão que recebia de Jamie para manter a propriedade. A jovem Joan, como na série, está decidida a ser freira, e quer que a mãe se case com seu amante, porém não quer deixar que ela passe necessidade, então pede a Jamie que use o dinheiro que transforme o dinheiro que seria seu dote em fundo para manutenção para propriedade. Eu particularmente gostei da questão de propriedade, e do Jamie transferir sua posse inteiramente para Laoghaire. Ambos chegaram ao mesmo objetivo. Confira a conversa entre Jamie e Ned Gowan (sim o advogado lá da S1, ainda vivo e ativo rs):
“Para minha grande surpresa, Ned Gowan ainda estava vivo. Que idade ele pode ter?, perguntei-me. Uns 85, 90 anos? Estava encarquilhado como um saco de papel amassado e sem nenhum dente, mas ainda lampeiro como um grilo e com sua sede de sangue intacta.
Ele havia redigido o acordo de anulação do casamento entre Jamie e Laoghaire, dispondo os pagamentos anuais a Laoghaire, os dotes de Marsali e Joan. Agora, sentava-se com a mesma alegria para desfazer tudo isso.
– Agora, a questão do dote da srta. Joan – disse ele, lambendo a ponta de sua pena. – O senhor especificou, no documento original, que essa quantia muito generosa deveria ser destinada à jovem na ocasião de seu casamento e passar a ser de sua única propriedade dali em diante, sem transferir para seu marido.
– Sim, isso mesmo – confirmou Jamie, sem paciência.
Ele tinha me dito em particular que preferia ser preso a uma estaca, nu, em um formigueiro a ter que lidar com um advogado por mais de cinco minutos, e estávamos lidando com as complicações desse acordo por mais de uma hora.
– E então?
– Bem, ela não está se casando – explicou o sr. Gowan, com a indulgência devida a alguém não muito inteligente, mas ainda assim merecedor de respeito, pelo fato de ser ele quem estava pagando seus honorários. – A questão é se ela pode receber o dote sob esse contrato…
– Ela está se casando – argumentou Jamie. – Está se tornando Noiva de Cristo, seu protestante ignorante.
Olhei para Ned um pouco surpresa, não tendo nunca ouvido falar que era protestante, mas ele não contestou a afirmação. O sr. Gowan, perspicaz como sempre, notou minha surpresa e sorriu para mim, os olhos piscando.
– Não tenho nenhuma religião, a não ser a lei, senhora – disse. – A observância de uma forma de ritual sobre outra é irrelevante; Deus para mim é a personificação da Justiça, e eu O sirvo nesse aspecto.
Jamie fez um ruído escocês no fundo da garganta em resposta a essa declaração.
– Sim, e isso lhe serve muito bem, que seus clientes aqui jamais percebam que não é um papista.
Os olhinhos escuros do sr. Gowan não pararam de piscar quando os voltou para Jamie.
– Tenho certeza de que não sugere algo tão desprezível quanto chantagem, não é, senhor? Ora, hesito até mesmo em mencionar essa nobre instituição escocesa, conhecendo como conheço a nobreza de seu caráter… e o fato de que não vai conseguir este maldito contrato sem mim.
Jamie suspirou e se acomodou na cadeira.
– Sim, ande logo com isso. O que tem o dote, então?
– Ah… – O sr. Gowan se voltou para a questão em pauta. – Conversei com a jovem a respeito de seus desejos no assunto. Como autor original do contrato, você pode, com o consentimento dos outros signatários, que, pelo que sei, foi concedido, alterar os termos do documento original. Já que, como eu disse, a srta. Joan não pretende se casar, você quer rescindir o dote, manter os termos existentes ou alterá-los de alguma forma?
– Quero dar o dinheiro a Joan – respondeu Jamie, com um ar de alívio ao ser colocado diante de uma pergunta concreta.
– Absolutamente? – perguntou o sr. Gowan, a pena parada no ar. – A palavra “absolutamente” tendo um significado na lei diferente de…
– Você disse que conversou com Joan. O que ela quer, então?
O sr. Gowan pareceu satisfeito, como sempre acontecia quando percebia uma nova complicação.
– Ela quer aceitar apenas uma pequena parte do dote original, para custear sua recepção em um convento; tal doação é costumeira, acredito.
– É mesmo? – Jamie ergueu uma das sobrancelhas. – E quanto ao resto?
– Ela quer que o resíduo seja dado a sua mãe, Laoghaire MacKenzie
Fraser, mas não dado “absolutamente”, se me compreende. Dado com condições.
Jamie e eu trocamos olhares.
– Quais condições? – perguntou ele.
O sr. Gowan ergueu a mão ressequida, dobrando os dedos enquanto enumerava as condições.
– Primeira: que o dinheiro não seja liberado até que haja um documento oficial do casamento de Laoghaire MacKenzie Fraser e Joseph Boswell Murray registrado na paróquia de Broch Mordha, testemunhado e atestado por um padre. Segunda: que um contrato seja assinado, reservando e garantindo a propriedade de Balriggan e todos os seus bens a Laoghaire MacKenzie Fraser, como proprietária exclusiva, até sua morte, sendo depois destinada como a supracitada Laoghaire MacKenzie Fraser assim dispuser em um testamento oficial. Terceira: o dinheiro não deverá ser dado “absolutamente”, mas retido por um curador e desembolsado na quantia de 20 libras por ano, pagas em conjunto à supramencionada Laoghaire MacKenzie Fraser e a Joseph Boswell Murray. Quarta: que esses pagamentos anuais sejam usados em questões relativas à manutenção e melhoria da propriedade de Balriggan. Quinta: o pagamento do desembolso de cada ano deverá ser condicionado à apresentação da documentação adequada relativa ao uso do desembolso do ano anterior.
Ele dobrou o polegar e abaixou o punho fechado, em seguida ergueu um dedo da outra mão.
– Sexta e última: que James Alexander Gordon Fraser Murray, de Lallybroch, seja o curador desses fundos. Concorda com as condições, senhor?
– Concordo – disse Jamie com firmeza, levantando-se. – Faça dessa maneira, sr. Gowan, por favor. E agora, se ninguém se importar, vou me afastar e tomar uma dose de uísque. Provavelmente duas.
O sr. Gowan colocou a tampa em seu tinteiro, arrumou suas anotações em uma pilha caprichada e se levantou devagar.
– Vou acompanhá-lo nessa dose, Jamie. Quero saber sobre essa sua guerra na América. Parece uma aventura extraordinária!”
Demais cenas foram bem fiéis, com pequenas adaptações. Incluindo quando Claire conta a verdade sobre sua origem para a família Murray, mas no livro ela juntos todos Murray adultos, Ian, Jenny e todos seus filhos, para contar sua história. E você pode se perguntar, eles acreditaram, Michael vai considerar a informação que recebeu? Para satisfazer essa curiosidade, recomendo a leitura de um conto intitulado “O espaço intermediário”, que faz parte do livro O Círculo da Sete Pedras, ele traz uma pouco da vida de Michael em Paris, assim como de Joan no convento. Mas já respondendo, a opinião sobre as palavras de Claire ficou divida entre os Murray, mas Michael leva o aviso a sério:
“Pensar em tia Claire lhe proporcionou uma leve sensação de conforto: contanto que ele não pensasse muito no que havia contado à família, em quem – ou no quê – ela era e em onde estivera quando passara aqueles vinte anos desaparecida. Os irmãos e as irmãs tinham conversado posteriormente sobre o assunto: o Jovem Jamie e Kitty não acreditavam numa só palavra, enquanto Maggie e Janet não tinham certeza. Mas o Jovem Ian acreditava, e isso para Michael contava muito. E ela havia olhado para ele, diretamente para ele, ao falar sobre o que iria acontecer em Paris. A lembrança lhe provocou o mesmo leve calafrio de horror.
O Terror. É assim que vai se chamar, e é isso que vai ser. Pessoas serão presas sem motivo e decapitadas na Place de la Concorde. O sangue vai correr pelas ruas. Ninguém, ninguém mesmo, estará seguro.
Olhou para o primo: embora ainda bastante vigoroso, Jared era um homem velho. Michael sabia que não havia como convencê-lo a ir embora de Paris e abandonar seu comércio de vinhos. Mas, se tia Claire tivesse razão, ainda iria demorar um pouco. Não era preciso pensar nisso agora. Mas ela parecera tão certa, como uma vidente, falando de um ponto de vista após tudo já ter acontecido, de uma época mais segura.
Mesmo assim, ela havia voltado dessa época segura para ficar com tio Jamie.”
E com isso encerramos o primeiro nosso livro vs série desse episódio. Eu amei esse retorno, sendo um meio de temporada, achei que trouxe muita coisa boa. E você, gostou do episódio? O que está achando da adaptação? Comente! ?
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