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Daily Line: Exemplo de cortes no texto original

POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana

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Alguns dias atrás, eu estava lendo uma discussão sobre o tamanho de um original no LitForum e um escritor trabalhando no seu primeiro romance perguntou: “se você acha que seu original está muito longo, como você decide quais palavras cortar?”

Ele conseguiu uma porção de respostas e comentários muito úteis, e eu também dei a minha resposta, mas como esta envolvia cortes em ABELHAS, eu pensei que, talvez, vocês também se interessassem pela técnica, assim como pelos próprios cortes. (Se você não está interessado na técnica mas quer ler o trecho em questão, role o cursor para baixo até “VERSÃO FINALIZADA”

(Resposta para a pergunta: “Como você decide quais palavras cortar?”)

Corte as palavras que você não precisa. A última coisa que faço antes de enviar um original para editores variados (nos EUA, no Reino Unido e na Alemanha) é aquilo que chamo de “corte-e-queima”. Eu vou de palavra em palavra entoando (em silêncio) “Eu preciso desta palavra? Eu preciso desta frase? Eu preciso deste parágrafo? Eu preciso desta cena?” Se a resposta for não, eu tiro (note que eu não jogo fora (eu valorizo meu trabalho, o que foi usado e o que não foi); eu simplesmente transfiro o que foi cortado para um arquivo chamado Memória de Textos e salvo tudo para o caso de mudar de ideia ou de perceber que o material é necessário porque está relacionado com um futuro elemento Y que não fará sentido se X não estiver em algum lugar, mesmo que não seja no lugar onde estava originalmente.

Note que faço o mesmo com as mídias; eu não deixo tudo para a última hora.

Eis uma passagem curta, os cortes para a Memória de Textos e sua versão finalizada (até agora).

(Trecho – sem spoiler – de VÁ DIZER ÀS ABELHAS QUE PARTI, Copyright 2019 Diana Gabaldon)

VERSÃO ORIGINAL

Durante as semanas seguintes, você não poderia dizer que eram “antagônicos”, ou mesmo “oponentes”, mas que certamente tinham uma visão “diferente” de Deus os adeptos que a Casa Comunitária havia coletado. Muitas pessoas ainda frequentavam mais de um culto religioso, fosse ele uma abordagem eclética do ritual, um interesse forte, mas indeciso, um desejo de pertencer a um grupo, se não uma orientação, ou simplesmente porque era mais interessante ir à igreja do que ficar sentado em casa lendo devotamente a Bíblia em voz alta para suas famílias.

Entretanto, cada culto possuía seu próprio núcleo de fieis que compareciam todos os domingos, além de um número variável de fieis avulsos e aqueles que apareciam a conta-gotas, e quando o tempo estava bom, muitas pessoas ficavam para passar o dia, fazendo piqueniques embaixo dos choupos e (olmos?), comparando os textos do culto Metodista com o Presbiteriano, e como as congregações eram na sua maior parte escocesas das Terras Altas, possuíam fortes opiniões pessoais e discutiam sobre tudo, desde a mensagem do sermão até as condições dos sapatos do ministro.

… [trecho omitido (excesso de spoiler)]

Depois de cada culto matinal, eu ocupava um lugar embaixo de uma enorme castanheira e prestava alguns serviços casuais durante mais ou menos uma hora, curando ferimentos leves, examinando gargantas e dando conselhos (acompanhados por uma garrafa de estimulante (afinal, era domingo), feito a partir de uma decocção de uísque puro mas aguado e açúcar misturada com várias substâncias à base de plantas adicionadas para o tratamento da deficiência de vitaminas, alívio para dor de dentes ou indigestão, ou ainda (nos casos onde eu suspeitava ser necessário) uma dose de terebintina para matar vermes.

Enquanto isso, Jamie – sempre com Ian a tiracolo – perambulava entre um grupo de homens e outro, cumprimentando a todos, conversando e ouvindo. Sempre ouvindo.

“Você não pode manter segredos em política, Sassenach,” ele havia dito. “Mesmo se quisessem, e a maioria deles não quer, eles não conseguem segurar a língua ou disfarçar aquilo que estão sentindo.”

“O que eles pensam em termos de princípios políticos, ou o que pensam sobre os princípios dos vizinhos?” Eu perguntei depois de captar os ecos dessas discussões entre as mulheres que formavam a maior parte da minha clínica pastoral de domingo.

Ele riu, mas não achou muita graça.

“Se eles te contarem o que os vizinhos pensam, Sassenach, não é preciso saber ler mentes para saber o que eles mesmos pensam.”

“Você acha que eles sabem o que você está pensando?” Eu perguntei, curiosa. Ele deu de ombros.

“Se não sabem, saberão em breve.”

MEMÓRIA DE TEXTOS (com explicações sobre as mudanças – ou não)

(Eu selecionei este material porque não era necessário e porque sua remoção melhorou o fluxo e a clareza das frases)

 – você não poderia dizer que eram “antagônicos”, nem mesmo, realmente “oponentes”, mas certamente tinham uma visão “diferente” de Deus

– forte, mas

– [choupos e (olmos?)] – hmm. Eu preciso especificamente… dar nomes às árvores, ou deveria ser simplesmente “fazendo piqueniques embaixo das árvores” para abreviar? (Além disso havia olmos nas montanhas da Carolina do Norte no século XVIII, e em caso afirmativo, eles cresciam perto de choupos?) Normalmente, eu forneço detalhes específicos porque ajuda a visualização da cena, mas não estou muito certa sobre este trecho… eu cito uma árvore em particular mais adiante na mesma passagem, então acredito que desta vez eu vá com “árvores”. A frase fica mais curta e tem seu ritmo e fonética melhorados. Este é o cenário que você encontrará no final da página, portanto, não é necessário florear além do necessário.

– feito a partir de (mais pontuação variada). Melhor clareza – e como este é o ponto de vista e narrativa de Claire, o fragmento da frase é aceitável.

(Eu considerei remover os trechos seguintes, mas não o fiz)

(se não orientação)

(devotamente) – idem. Eu preciso desta palavra? Sim, porque evoca uma imagem mental particular que somente “lendo a Bíblia” não consegue evocar. Também é um julgamento do ponto de vista de Claire, é assim que ela vê a atitude das pessoas enquanto leem a Bíblia, e é ela quem está falando.

(Pontuação e correções secundárias)

, e (os parágrafos aqui são muito longos e de aparência densa. Eu quero quebrar as frases e tornar sua leitura mais fácil).

Adicionar os parênteses faltantes depois de “vermes”.

Mudar “decocção” para “mistura” (a decocção é fervida, o que eliminaria o álcool do uísque e, obrigada, atento leitor que chamou minha atenção na postagem do original)

… (material omitido)

[Depois de cada culto matinal, eu ocupava um lugar embaixo de uma enorme castanheira e prestava alguns serviços casuais durante mais ou menos uma hora, curando ferimentos leves, examinando gargantas e dando conselhos (acompanhados por uma garrafa de estimulante (afinal, era domingo), feito a partir de uma decocção de uísque puro mas aguado e açúcar misturada com várias substâncias à base de plantas adicionais adicionadas para o tratamento da deficiência de vitaminas, alívio para dor de dentes ou indigestão, ou ainda (nos casos onde eu suspeitava ser necessário) uma dose de terebintina para matar vermes.]

[Neste momento, à primeira vista, o parágrafo me parece suficientemente sólido para ser dividido em frases curtas e para ter palavras eliminadas, mas eu não vou fazê-lo. É uma interpretação direta da maneira como Claire pensa: em camadas, fazendo referência entre elas e (o mais importante) fornecendo uma ideia de como o seu atendimento matinal embaixo da castanheira realmente é: um desfile de doenças variadas e o pronto tratamento que ela oferece dando o melhor da sua habilidade. Isso fica muito bom no livro; os leitores sem paciência para parênteses já terão abandonado o navio há muito tempo…]

Na parte final, eu não vou mudar nada. Eu lido bem com o diálogo e com seu alicerce à medida em que avanço, e é assim mesmo que deveria ser. Frases curtas e claras, mas eficientes em termos de informação e atitude.

Então…

VERSÃO FINALIZADA

Durante as semanas seguintes, as diferentes visões de Deus na Casa Comunitária, haviam coletado os seus próprios adeptos. Muitas pessoas ainda frequentavam mais de um culto religioso, fosse ele uma abordagem eclética do ritual, um interesse indeciso, um desejo de pertencer a um grupo, se não uma orientação, ou simplesmente porque era mais interessante ir à igreja do que ficar sentado em casa lendo devotamente a Bíblia em voz alta para suas famílias.

Entretanto, cada culto possuía seu próprio núcleo de fieis que compareciam todos os domingos, além de um número variável de fieis avulsos e aqueles que apareciam a conta-gotas, e quando o tempo estava bom, muitas pessoas ficavam para passar o dia, fazendo piqueniques embaixo das árvores e comparando os textos do culto Metodista com o Presbiteriano. E como os Escoceses das Terras Altas possuíam fortes opiniões pessoais, discutiam sobre tudo, desde a mensagem do sermão até as condições dos sapatos do ministro.

Depois de cada culto matinal, eu ocupava um lugar embaixo de uma enorme castanheira e prestava alguns serviços casuais durante mais ou menos uma hora, curando ferimentos leves, examinando gargantas e dando conselhos (acompanhados por uma garrafa de estimulante (afinal, era domingo), uma mistura de uísque puro mas aguado e açúcar com diversas substâncias à base de plantas adicionadas para o tratamento da deficiência de vitaminas, alívio para dor de dentes ou indigestão, ou (nos casos onde eu suspeitava ser necessário) uma dose de terebintina para matar vermes).

Enquanto isso, Jamie – sempre com Ian a tiracolo – perambulava entre um grupo de homens e outro, cumprimentando a todos, conversando e ouvindo. Sempre ouvindo.

“Você não pode manter segredos em política, Sassenach,” ele havia dito. “Mesmo se quisessem, e a maioria deles não quer, eles não conseguem segurar a língua ou disfarçar aquilo que estão sentindo.”

“O que eles pensam em termos de princípios políticos, ou o que pensam sobre os princípios dos vizinhos?” Eu perguntei depois de captar os ecos dessas discussões entre as mulheres que formavam a maior parte da minha clínica pastoral de domingo.

Ele riu, mas não achou muita graça.

“Se eles te contarem o que os vizinhos pensam, Sassenach, não é preciso saber ler mentes para saber o que eles mesmos pensam.”

“Você acha que eles sabem o que você está pensando?” Eu perguntei, curiosa. Ele deu de ombros.

“Se não sabem, saberão em breve.”

(Trecho de VÁ DIZER ÀS ABELHAS QUE PARTI, Copyright 2019 Diana Gabaldon. E meu agradecimento ao personagem Brock de Beatrix Potter pela adorável foto de abelha!)

Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 02/09/2019

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