4ª Temporada,  Caitriona Balfe,  Claire Fraser,  Jamie Fraser,  Sam Heughan,  Série

É claro que Outlander é a série mais sexy da TV, mas também é uma grande lição sobre como saber ouvir

Por Hank Stuever, crítico de TV

Há muitas razões para assistir o drama de época da Starz, Outlander, começando pelo sexo e, às vezes, terminando com sexo. Mas, por enquanto, eu gostaria de enaltecer o que acontece entre os principais personagens da série quando estão vestidos.

Está bem, é mentira. Mesmo o fã mais sério de Outlander está ao menos parcialmente conectado/sintonizado todas as noites de domingo na esperança de ver mais cenas de amor entusiasmadas (brilhantemente demonstradas pelos astros Caitriona Balfe e Sam Heughan) que conduzem essa aventura fabulosa. É difícil pensar em outra série de TV com conteúdo adulto onde a química entre os atores seja tão madura.

De qualquer forma, este artigo fala um pouco sobre como Outlander, agora na metade de uma quarta temporada muito satisfatória, é a única série no ar na qual um homem e uma mulher, um escocês das Highlands do séc. XVIII chamado Jamie Fraser (Heughan) e sua esposa viajante do tempo, uma médica inglesa do séc. XX chamada Claire Randal Fraser (Balfe, que acabou de receber uma indicação ao Globo de Ouro por sua atuação na série) encontraram uma maneira de se comunicar de verdade. O que mais poderíamos esperar de uma série de TV em 2018 além de ver dois adultos insistindo em ouvir um ao outro contra todas as expectativas?

É bom que fique claro que outros espectadores mais perspicazes encontram muita coisa para não gostar em Outlander, particularmente no que se refere à violência sexual, ou às suas ameaças constantes e imediatas. Até que para uma série tão tola, Outlander consegue despertar muitas conversas e discussões.

No entanto, o coração da série está quase sempre no lugar certo, assim eu descobri. Apesar de um início difícil e até mesmo abusivo do seu relacionamento, Jamie e Claire descobriram o tipo de amor que se beneficia da conversa, desde o compartilhamento de informações, bem como dos seus sentimentos mais profundos. É a única série onde duas pessoas vão literalmente parar no meio do ato para verificar suas emoções e acertar a velocidade.

 

Não que eles tenham muito tempo para isso. A cada semana, Claire e Jamie devem enfrentar todas as calamidades imagináveis para um casal heterossexual branco na década de 1770, no mínimo uma crise envolvendo risco de morte em cada episódio. Juntos e separados, eles sobreviveram até agora ao choque cultural da viagem no tempo, juntamente com guerras, tortura, aprisionamentos, tentativas de agressão sexual, um estupro (em uma reviravolta provocante, a vítima do estupro é Jamie e não Claire), paternidade, separação, travessias oceânicas, intrigas palacianas, doenças, ferimentos graves, piratas, bandidos, ladrões, contrabandistas, bruxas, um furacão e um naufrágio.

Na 4ª. temporada, Jamie e Claire estabelecem um pequeno povoado nas montanhas da Carolina do Norte, pouco antes da Revolução Americana. Além de precisar lidar mais uma vez com os desdenhosos casacas-vermelhas e com a agitação da rebelião antibritânica, há outros problemas exclusivamente americanos a enfrentar: multidões enfurecidas de donos de escravos feridos em um linchamento, tentativas de relacionamentos com a tribo Cherokee do outro lado do rio e vizinhos luteranos com um caso mortal de sarampo. A lista continua, às vezes, de forma ridícula.

Os melhores momentos de Outlander são esses momentos menores, mais isolados, nos quais Jamie e Claire veem o mundo através da perspectiva do outro. A TV está cheia de casais que confundem as coisas, aumentam os problemas, ignoram questões-chave, atribuem culpa, contam segredos a estranhos, deixam a desejar no quarto e saem de casa. O termo técnico para isso é conflito e a maioria dos escritores de histórias sobre relacionamentos ficaria perdida sem ele.

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E é por isso mesmo que, quanto mais você assiste Outlander, mais você percebe o quanto a série se distingue das frustrantes amostras de casais de temperamento tóxico na TV de prestígio, desde You’re the Worst até The Affair ou Camping. Jamie e Claire lidam com todos os tipos de perigos melodramáticos, mas juntos eles se parecem com lindos unicórnios. Eles não brigam. Eles não interrompem um ao outro. Ele não fala sobre proezas nos campos de batalha e ela não faz monólogos sobre a eletricidade ou o encanamento da casa.

Quando pensamos neles no presente, nos perguntamos: quando foi a última vez que alguém realmente ouviu o que eu estava dizendo?

Outlander é fielmente baseada nos best-sellers de Diana Gabaldon, uma combinação envolvente dos gêneros romance, fantasia e drama histórico, com um leve toque de ficção científica e uma visão moderna e renovada das relações que rejeitam a dinâmica habitual de Marte/Vênus.

Não é nenhuma surpresa que as mulheres compõem a maior parte da base de fãs da série (embora um ou outro Outmander também consiga fazer parte e o fato de que a série foi desenvolvida por um produtor, Ronald D. Moore). Eu já vi grupos de fãs de Outlander esperando do lado de fora das coletivas de imprensa em Los Angeles, sentados em silêncio, mas muito empolgados, no lobby, na esperança de ter um vislumbre dos membros do elenco ou da própria Gabaldon. É como se estivessem oferecendo uma proteção policial, certificando-se de que ninguém maculasse seus personagens e histórias, o que é perfeitamente compreensível. Toda essa devoção ajudou Outlander a manter uma audiência relativamente alta entre os dramas da TV a cabo, com cerca de 1,5 milhão de telespectadores assistindo novos episódios a cada semana.

Mesmo com todas as reviravoltas e cenas de amor, vale a pena acompanhar o desenvolvimento de Outlander. A rebeldia de Jamie pode levá-lo a cometer crimes (necessários) ocasionais, mas sua devoção a Claire o ajudou a evoluir e tornar-se um pensativo cavalheiro do Iluminismo.

E Claire sabe bem o que dizer a Jamie sobre o futuro. Enquanto observam a vista de cair o queixo do topo de uma montanha da Carolina do Norte, ela fala sobre o quanto o país vai crescer e sobre os imigrantes sonhadores que chegarão para povoá-lo. Ela o ajuda a enxergar a injustiça que é o comércio de escravos que prospera ao seu redor e lhe transmite a visão longa (e correta) dos direitos dos indígenas americanos. Ela faz valer seus próprios direitos como esposa e como profissional. Jamie sempre apresenta sua esposa a estranhos como uma curandeira de muito talento.

É fácil perceber uma pauta feminista aqui, como a que muitos espectadores já possuem: Jamie é um homem mudado porque conheceu uma mulher inteligente e de mente aberta que veio do futuro e que desafiou tudo o que ele conhecia.

Como ele poderia não evoluir com essa experiência – esse gigante, cheio de cicatrizes, um homem doce em um kilt, que um dia acreditou que possuía Claire só porque estavam casados? E como não enxergar neste espetáculo uma lição de reforma bruta?

Sim, mas eis a verdadeira beleza de Outlander: a mudança é mútua. Ela é tão modificada por ele quanto ele é por ela. Sua masculinidade é tão instrutiva quanto a sua feminilidade. Sua sabedoria complementa a dela. Mesmo quando as cenas de sexo à luz de velas são a principal atração, as partes do corpo que mais impressionam são seus ouvidos.

Pergunte a qualquer um que tenha viajado por algum tempo com alguém: ser ouvido como igual é tão importante, às vezes até melhor, do que sexo.

Fonte: The Washington Post em 13/12/2018

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