Fanfic – Histórias da Colina Fraser -Capítulo 05: M’annsachd

Já fazia quase um mês que havíamos partido de Paris e vindo para a casa de Louise em Fontainebleau. No começo, eu estava excitada e ansiosa com a chegada de Jamie, mas os dias foram passando e nem um sinal do meu marido. Nem uma mensagem ou mesmo um sinal de fumaça, às vezes viver no século XVIII me deixava muito irritada. Porque se eu estivesse em meu próprio tempo agora, bastaria ir até uma agência dos correios e enviar um telegrama ou simplesmente levantar o telefone e pedir para que a telefonista chamasse o encarregado do porto de Lisboa para que eu soubesse alguma informação de Jamie. Temia que algo de muito ruim tivesse acontecido com ele ou com Murtagh, pensava às vezes se Sua Majestade realmente cumpriu a sua palavra e soltou Jamie da Bastilha. Na verdade, a única certeza que tinha era que se Jamie estivesse livre, ele viria o mais depressa ao meu encontro. Por isso que a sua demora me angustiava tanto.

O desânimo foi tomando conta de mim, não comia quase nada e passava o meu tempo quase em total silêncio. Louise com certeza devia se sentir arrependida por ter me trazido para ser a sua companhia, pois eu falhara desgraçadamente neste quesito, mas como uma boa amiga, ela não falava nada. Meus únicos momentos mais ativos eram quando estava com Faith e Fergus que haviam se tornado companheiros inseparáveis. Havia muitos empregados para cuidar de tudo e inclusive de Faith, mas eu era irredutível e sempre cuidava de sua alimentação, limpeza e brincadeiras.
Depois de vários dias chovendo e com Louise já desesperada com a minha crescente apatia, ela teve a ideia de fazer um piquenique para nós nos jardins. Desde cedo, eu observava a correria dos empregados armando tendas, levando mesas e as enchendo de inúmeras guloseimas.
Louise fez um bom trabalho e tudo parecia bonito e saboroso, mas eu não tinha apetite e nem ânimo para brincadeiras. O dia estava nublado, a impressão era de que o sol queria sair, mas as nuvens pesadas impediam os raios de brilhar e estranhamente era assim que eu me sentia.
– Mà cherie, você está magra demais e eu posso contar daqui todos os ossos do seu rosto! – falou com impaciência Louise e fechando de uma só vez o seu leque. – Não e não… assim vai ficar doente e eu não posso permitir que adoeça em minha casa, Claire.
– Eu estou bem Louise… só estou sem apetite hoje. Mas depois que eu amamentar Faith vou comer algo, querida. – E olhei para a outra ponta da mesa onde Fergus brincava de fazer caretas para Faith que gargalhava para ele.
– Hum… sei. – Louise olhou fixamente para o meu rosto e vendo que eu mentia, balançou a cabeça em desagrado e bocejou. – Minha querida você está branca como uma assombração, mas… – ela colocou a mão sobre a boca para mais bocejo e continuou: – Vou entrar porque meu petit enfant Pierre já deve ter mamado e como estou cansada vou tirar a minha soneca da tarde. Me acompanha minha querida?
– Não Louise querida, quero tomar mais um pouco de ar puro e dar o peito para Faith, só depois eu entrarei.
Louise revirou os olhos e com um levantar de saias foi para a casa. Ela não conseguia entender porque eu fazia questão de dar banho, trocar e principalmente amamentar minha filha. Já que ela mesmo tendo um bebê de dois meses tinha empregadas para cuidar do asseio e até uma ama de leite para amamentá-lo. Ficando com ele só poucas horas do dia, enquanto o meu tempo era integralmente para minha filha.
Me aproximei de Fergus e Faith que continuavam com a brincadeira de caretas. Sorri ao vê-los rosados e felizes.
– Fergus vou fazer uma caminhada até o vinhedo. Será que você pode ficar com Faith?
– Sim milady, nós estamos competindo para ver quem é a gárgula mais horrenda. – Fergus falou para logo depois colocar a língua para fora e arregalar os olhos, no que Faith como se realmente estivesse participando da brincadeira batia as perninhas e mãozinhas, enquanto mostrava a sua língua rosada também.
Eu peguei uma das mãozinhas gordas e rosadas de Faith mexi e dei um beijinho.
– A menininha da mamãe vai cuidar do Fergus vai?
– Aguss… gusss… – Faith balbuciava e cuspia ao mesmo tempo.
Deixei os dois envolvidos com a brincadeira e caminhei até o vinhedo que logo alcancei com poucos passos, apesar da beleza do lugar, nada parecia despertar em mim algum encanto. Andei sem rumo até encontrar um banco de ferro branco embaixo de uma árvore. Sentei porque me sentia cansada. Não, na verdade eu me sentia esgotada e sem ânimo.
Fechei os olhos coloquei as mãos sobre a minha testa e comecei a fazer massagens porque sentia a minha cabeça doer. Tudo estava estranhamente quieto. Não havia nenhum som de pássaro ou mesmo das folhas sendo levadas pelo vento. Lembrei de quando estava no mosteiro com Jamie quase morrendo em uma cama e de madrugada entrei na capela. Depois conversando com o irmão Anselmo soube que eles chamavam aquele momento como a Hora da Vigília ao Santíssimo. Eu me sentava naquela capela simples e ficava completamente em silêncio, não me recordo de rezar, acho que sempre conversava com Deus em silêncio e acredito que sempre ele me ouvia e respondia também assim.
Tudo estava quieto e eu só pensava onde Jamie poderia estar. Pedia para que ele estivesse bem e que voltasse logo porque eu não sabia quanto tempo mais eu suportaria sem ele ao meu lado.
– Ah, James Fraser onde você está? – falei em voz alta.
– Aqui Sassenach.
Abri os olhos. Jamie estava parado em frente ao banco em que eu estava sentada. Ele estava muito magro e abatido, com as roupas sujas e havia um rasgo em seu casaco. Parecia que não comia e tomava banho há dias. Eu pensei que assim que o visse novamente simplesmente correria e me jogaria em seu braços, mas fiquei parada onde estava como se estivesse sobre algum encanto paralisante.
– Finalmente você veio… – eu falei.
– Sim… – ele falou e sentou ao meu lado. Olhou para mim intensamente como se me estudasse e hesitante segurou a minha mão. Seu toque era quente e aqueceu a minha mão que estava fria. – Demorei muito, mas cheguei.
– Como soube onde eu estava?
– Madre Hildegarde. Depois que me soltaram da Bastilha fui direto para o hospital e a madre me deu o seu bilhete.
– Ah, disseram como que você conseguiu a liberdade? – Eu senti Jamie retesar os músculos ao meu lado e respirar com força.
– Não. Só disseram que foi para a “satisfação” de Sua Majestade. – disse com ferocidade.
– Eu fui ver o rei e…
– Não! – ele levantou e chutou uma moita rasteira com força levantando uma nuvem de pequenos matinhos e lama. – Eu não quero saber como foi a sua reunião com o rei. Não quero saber como foi deitar com Sua Majestade. Ou será que você gostou tanto que quer me falar da performance real? – ele vociferou cheio de raiva.
– Ora seu egoísta desgraçado! – Eu levantei irritada.
– Você acha que eu não fiquei imaginando todos esses dias como foi? – Jamie disse me agarrando pelos braços. – Vendo as mãos imundas dele tocando em sua pele branca, ele beijando o seu pescoço, tocando em você e colocando o maldito pênis real… maldito seja e maldita seja você por permitir isso.
Ele era muito mais alto e forte do que eu, mas a indignação e revolta que eu senti fez com que eu tirasse as suas mãos de mim com um safanão e desse com toda a minha força um tapa em seu rosto. Isso o pegou de surpresa. Ele recuou e colocou a mão no lado em que bati e que agora estava com a marca nítida da minha mão.
– Seu maldito escocês! – eu falei com muita raiva. – Você quebrou a promessa que me fez, por sua causa eu quase morri e nossa filha também. Você provocou a morte de Frank. Foi preso por duelar, Murtagh poderia ser preso ou até morrer porque você estava preso e você vem cobrar por eu me deitar com o rei para conseguir a sua liberdade?
– Sim… Claire… eu…
– Cale a boca! – eu vociferei. – Não, eu não dormi com Sua Majestade, mas se eu precisasse abrir as minhas pernas mesmo sem querer ou gostar disso, eu faria. Ouviu bem seu maldito escocês? Eu faria isso para salvá-lo e não seria uma prostituta por isso, só uma mulher desesperada com uma filha recém-nascida desejando o marido dela são e salvo de volta.
Jamie parou olhando para mim e tentando entender tudo o que foi dito.
– Uma filha? Nós temos uma menina? – Ele passou as mãos pelos cabelos e pelo rosto olhando sem acreditar no que ouvia até finalmente sorrir. – Meu Deus, eu tenho uma filha!
– Madre Hildegarde não contou a você? – eu perguntei desconcertada.
– Não, só entregou o seu bilhete sobre Murtagh e disse que você estava aqui com Louise em Fontainebleau. – Jamie me abraçou com força e chorando falava sem parar: – Meu Deus uma filha!
– Eu achei que estivesse morta, mo duinne – ele falou depois baixinho ainda em meus braços. – No final eu a vi lá no chão em uma poça de sangue e você estava tão branca. Eu gritei seu nome… e tentei correr para você, mas a guarda chegou e me segurou. Lutei com eles, supliquei que me deixassem ficar com você, mas eles me levaram. Eu fiquei louco naquela cela, não tinha notícias de você e achei que estava morta… eu achei que a havia matado. Comecei a bater minha cabeça nas paredes e foi aí que eles me amarram. Depois um empregado de Jared trouxe notícias de que você havia sobrevivido, mas não falou nada sobre a criança e eu achei que ela havia morrido.
– Oh, Jamie eu sinto muito… – eu o abracei sentamos no banco e fiquei pressionando a minha mão com força em seu peito e sentia também as lágrimas que caíam pelo meu rosto. – Tudo está bem agora.
– Conte-me sobre nossa filha Claire e sobre tudo o que aconteceu.
Ficamos sentados naquele banco abraçados e chorando, enquanto eu falava sobre o nascimento de Faith, nossa quase morte, a aparição salvadora de mestre Raymond, a audiência com Sua Majestade, a atuação como La Dame Blanche e o fim do conde de St. Germain. Como consegui escapar de dormir com Sua Majestade e o meu desespero com a falta de notícias. Jamie falou sobre o que aconteceu no bordel com Fergus e eu disse que soube depois de tudo, o duelo, que ele havia ferido Black Jack Randall, a prisão, o que passou e sentiu naquela cela pensando que provocara a minha morte e da nossa filha, a culpa e tristeza que sentiu. A liberdade e a raiva em imaginar que o rei tivesse dormido comigo, o carregamento do porto salvo, que não precisou que Murtagh fingisse que estava com malária, pois ele passou tão mal com os enjoos que trocaram de lugar. Murtagh teve até que fazer vigília para que não o jogassem ao mar. Depois ele voltou a pé de Paris até Fontainebleau para acalmar os seus nervos e imaginando se algum dia ele seria perdoado e se conseguiríamos novamente ser felizes.
– Oh Jamie… – e finalmente nos beijamos. Um beijo apaixonado, salgado e molhado por nossas lágrimas. Tremíamos de emoção e também de desejo, depois de tanto tempo longe um do outro. Os nossos corpos sentiam a necessidade da junção e entrega, mas isso teria que esperar, antes havia alguém muito importante que Jamie precisava conhecer.
Saímos andando abraçados até onde Fergus e Faith estavam.
– Olhe, lá está a sua filha. Veja como ela é linda e perfeita. Faith. Foi assim que madre Hildegarde a chamou quando todos achavam que havia nascido morta e berrou lutando pela vida. Veja o grande milagre que é a nossa filha.
– Milorde! – Fergus viu Jamie saiu correndo e o abraçou chorando. – Me desculpe, milorde… eu não queria que fosse preso…
– Tudo bem Fergus – disse Jamie o abraçando e dando tapinhas em suas costas. – Tudo vai ficar bem.
Eu caminhei até o cesto onde Faith estava e sorrindo a peguei no colo, olhei para a sua carinha rosada e linda, fui ao encontro de Jamie e coloquei Faith em seus braços falando:
– Faith, este é o seu lindo, honrado e cabeça dura, pai. E Jamie, esta é Faith, a sua filha.
Jamie olhava emocionado para Faith em seus braços, passava com carinho o dedo pelo rosto de sua filha. Gravando cada detalhe da sua feição. Seus olhos que eram da mesma cor que os meus, mas com os mesmo formato de gato que os dele, a pele branca e macia, o pequeno nariz, a orelha redonda e delicada, a boquinha rosada e ao passar a mão pelos cabelos vermelhos dela, ele sorriu como uma criança.
– Faith, m’annsachd! – (Faith, minha benção) – .
– Jamie vamos entrar. Faith precisa de um banho e também ser amamentada. – falei sorrindo ao mesmo tempo que chorava. – Aliás, você também precisa de um banho e comer, está magro demais.
– Você também não fica longe, Sassenach – respondeu Jamie com um sorriso enorme. – Você parece um saco de ossos.
E fomos caminhando emocionados e felizes. Antes de chegarmos à porta, Jamie falou:
– Ficaremos pouco tempo porque logo voltaremos à Escócia, para nossa casa, para Lallybroch.
– Sim, para Lallybroch. – Eu falei sorrindo e depois de muito tempo, eu finalmente senti o meu apetite voltar.

Curta nossa página no Facebook, conheça nosso grupo, Apaixonados Por Outlander, nos siga no Twitter e Instagram. Inscreva-se no nosso canal do Youtube.
2 Comments
Binance????
I don’t think the title of your article matches the content lol. Just kidding, mainly because I had some doubts after reading the article.
binance open account
Your point of view caught my eye and was very interesting. Thanks. I have a question for you.