Daily Line: William vai para casa
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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William sentiu cheiro de fumaça. Não era fumaça de uma lareira ou de um incêndio: era apenas o cheiro de cinzas ao vento, misturadas com carvão, banha e – se respirasse mais profundamente… peixe. A fumaça não vinha da casa destruída; a chaminé tinha desmoronado levando parte do telhado com ela e uma grande trepadeira de folhas vermelhas espalhava-se pelas pedras e telhas despedaçadas. Também havia pés de álamo crescendo por entre as tábuas da pequena varanda; a floresta já tinha iniciado seu trabalho furtivo de recuperação da área. Mas, a floresta não defumava sua carne. Havia alguém ali.
Ele desmontou Bart e o amarrou em um galho de árvore. Então, caminhou em direção à casa, movendo-se com cuidado. Poderiam ser indígenas em uma caçada, ele supôs, defumando a carne da caça antes de carregá-la de volta para o lugar de onde vieram.
Ele caminhou através dos restos do pomar coberto pela vegetação, em direção ao cheiro da fumaça. Ele estava faminto mas conseguiu ignorar o ronco da sua barriga. Ele não pretendia brigar com caçadores, mas, se fossem posseiros tentando tomar conta da propriedade, eles deveriam pensar bem antes de fazê-lo. A plantação do Mount Josiah era o único lugar na terra que ele realmente sentia que lhe pertencia. Isobel havia deixado o lugar para ele, era a sua propriedade pessoal.
Por lei, ele imaginava que ainda era o nono Conde de Ellesmere. Ele completaria vinte e um em janeiro e, tecnicamente, já podia fazer o que bem entendesse da sua herança. Ele estava tentando não pensar no assunto.
Durante a maior parte da sua vida, aquele título parecia ser apenas um complemento do seu nome, não mais importante do que Clarence ou George. Agora, o título era como um peso fétido, como um gato morto amarrado com uma corda em volta do seu pescoço, inflado com todas as propriedades e inquilinos e fazendas e terras que lhe pertenciam. Que pertenciam ao título, não a ele.
Mas, aquele lugar pertencia a William Ransom.
William levava sua pistola carregada, mas a mantinha travada para um caso de acidente. Ele levou só um instante para travá-la e colocá-la de volta no coldre antes de caminhar ao redor da casa.
Eram indígenas, pelo menos um deles. Um homem seminu estava agachado na sombra de uma grande faia cuidando de uma pequena fogueira coberta com estopa úmida; William podia sentir o cheiro forte de pedaços de nogueira recém cortados misturado com o odor de sangue e carne queimada. O indígena que parecia ser jovem, embora fosse grande e bem forte, estava de costas para William e cuidadosamente tirava a pele de um pequeno porco, cortando sua carne em tiras irregulares e empilhando-as sobre um saco de juta que estava ao lado do fogo.
“Olá, ” disse William elevando a voz. O homem olhou ao redor piscando por causa da fumaça enquanto tentava tirá-la da frente do rosto. Ele levantou-se devagar, com a faca ainda nas mãos. William, no entanto, falou com ele de forma agradável pois o homem parecia não representar uma ameaça. E nem era um estranho. Ele saiu da sombra da árvore, a luz do sol brilhou nos seus cabelos e William ficou chocado ao reconhecê-lo.
Aparentemente, o jovem também ficou surpreso.
“Tenente? ” Ele disse, sem acreditar no que via. O índio olhou rapidamente para William de alto a baixo, notando a falta de uniforme e manteve seus grandes olhos escuros fixos no rosto de outro. “Tenente… Lord Ellesmere?”
“Eu costumava ser. Mr. Cinnamon, não é? ” Ele não conseguiu evitar um sorriso enquanto pronunciava aquele nome, ao mesmo tempo em que os lábios do outro homem tremiam diante do reconhecimento. O comprimento dos seus cabelos não ia além de uma polegada, mas somente se raspasse toda a cabeça ele poderia disfarçar o castanho-avermelhado e a sua ondulação tão característica. Um missionário órfão, a ele devia seu nome.
“John Cinnamon, sim. Seu criado… senhor.” O antigo batedor fez uma reverência apresentável, embora o “senhor” tenha sido pronunciado quase como uma pergunta.
“William Ransom, a seu serviço, ” disse William sorrindo e estendendo a mão. John Cinnamon era alguns centímetros mais baixo do que ele, era também um pouco mais largo. O batedor tinha crescido nos últimos dois anos e adquirido um aperto de mão bem firme.
“Espero que perdoe a minha curiosidade, Mr. Cinnamon, mas como diabos o senhor veio parar aqui? ” William perguntou. A última vez que tinha visto John Cinnamon fora no Canadá, onde tinha passado um longo inverno caçando e fazendo armadilhas de caça na companhia do batedor mestiço, o qual tinha quase a sua idade.
Por um momento imaginou se Cinnamon não tinha vindo à sua procura, mas aquilo seria um absurdo. Ele não acreditava que tinha sequer mencionado Mount Josiah enquanto estavam juntos e, se tinha, Cinnamon não poderia esperar encontrá-lo ali.
“Ah. ” Para completa surpresa de William, um rubor surgiu lentamente nas bochechas de Cinnamon. “Eu, er, eu… bem, estou a caminho do sul. ” O rubor aumentou.
William levantou uma sobrancelha. É verdade que Virgínia ficava ao sul de Quebec e que ainda havia uma boa porção de terras mais ao sul, mas Mount Josiah não estava no caminho de lugar algum. Não havia estradas lá. Ele mesmo tinha chegado em uma barcaça; depois, precisou pegar uma canoa em Richmond e remar acima dos Breaks, aquele trecho de quedas d’água turbulentas onde a terra de repente parece desmoronar. Ele tinha visto talvez umas três pessoas durante o tempo que esteve nos Breaks, e todas estavam indo na direção oposta.
De repente, os largos ombros de Cinnamon relaxaram e seu olhar parecia estar mais aliviado.
“Na verdade, eu vim encontrar meu amigo, ” ele disse enquanto acenava na direção da casa. William virou-se rapidamente e viu outro indígena abrindo caminho pelos pés de framboesa em uma área que um dia fora usada como um pequeno campo de croquet.
“Manoke! ” Ele disse. Então, ele gritou “Manoke!”, fazendo com que o velho homem olhasse para cima. O rosto do índio mais velho se iluminou de contentamento e uma alegria repentina invadiu o coração de William, lavando tudo como a chuva da primavera.
O índio continuava sendo ágil e livre como sempre tinha sido, seu rosto um pouco mais enrugado. Seu cabelo cheirava a madeira queimada quando William o abraçou, e a coloração acinzentada ainda mantinha a mesma tonalidade, mas os fios eram mais grossos e crespos do que nunca – ele podia ver com clareza, pois olhava para a cabeça do homem por cima enquanto Manoke pressionava o rosto contra o seu ombro.
“O que você disse? ” Ele perguntou, soltando Manoke.
“Eu disse, ‘Minha nossa, como você cresceu, rapaz.’” Manoke sorriu, “Você precisa de comida? ”
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 22/08/2018
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