Fanfic – Histórias da Colina Fraser – Capítulo 02: Faith
– Faith Janet Fraser Randall nasceu pelas mãos de madre Hildegarde no L’Hôpital dês Anges em uma manhã úmida de maio… – Claire ficou quieta e só percebeu que estava chorando quando Jamie enxugou as lágrimas que caíam dos seus olhos. – Naquele dia eu pensei que tudo estivesse perdido… eu, você, nossa filha, nós… mas o seu amor me trouxe de volta à vida.
Claire respirou fundo e olhando fixamente para o espelho pendurado na parede do quarto continuou a sua história. Jamie a olhou e pensou por um momento que ela não estivesse mais com ele na cama, no quarto ou na Colina Fraser, mas em outra época e lugar.
– Depois que eu encontrei a sua carta e soube que você havia desafiado Black Jack Randall para um duelo, eu saí atrás de você por Bois de Boulogne. A aurora surgira sombria e turva, devido ao céu carregado de nuvens escuras depois de uma noite de chuvas torrenciais.
– Eu me sentia muito mal. Não havia dormido nada durante a noite e estava muito cansada. E o meu peito parecia que ia explodir a qualquer momento, devido ao medo que eu sentia. Medo por você, por Frank, por mim, por nosso futuro… mas eu também estava com muita raiva de você, porque você havia me prometido e faltou com a palavra. – Claire fez um movimento com a mão para que ele não a interrompesse. – Sim, eu sei os motivos que o fizeram quebrar a sua promessa. – ela falou com impaciência e se sentou na cama abruptamente.
– Claire… aquele desgraçado tentou abusar de Fergus… e só não conseguiu porque eu cheguei a tempo… e… e ele falou que eu havia gostado tanto do que ele fez comigo que eu havia arranjado um menino para me satisfazer… eu não aguentei.
– Eu soube depois… mas lembrar me traz tudo de volta. – Claire respirou fundo e enxugou as lágrimas que caíam pelo seu rosto e continuou: – Depois de três paradas finalmente encontramos o local onde vocês estavam. Eu tinha a esperança de chegar antes, mas vocês já haviam começado. Primeiro ouvi o barulho do metal das espadas, depois vi vocês dois duelando na chuva, sem os casacos e com as camisas grudadas no corpo. Durante toda a noite, eu formulei várias frases para convencê-lo a desistir do duelo e suplicaria para que você parasse. Mas quando os vi, tão envolvidos no embate, ligeiros, flexíveis e com toda a atenção para desviar de qualquer ataque. Eu simplesmente paralisei com medo de que se o chamasse, você desviasse a atenção e Black Jack o atingisse mortalmente.
– Eu lutava melhor que ele, Sassenach.
– Eu os vi lutando Jamie. Ele era incrivelmente tão rápido quanto você. Quando então eu vi você desarmá-lo e antes que o atingisse, eu quis gritar para que você tivesse misericórdia, lembrasse de Frank e da promessa que havia me feito. Mas o grito que saiu da minha boca foi provocado pela intensa dor em minhas costas e da ruptura dentro de mim, como se algo tivesse partido de vez. Vi você desferir o golpe na cintura dele e ir descendo, o sangue surgindo repentinamente, assim como o meu sangue escorria quente pelas minhas pernas. A dor era imensa. Pontos escuros manchavam a minha visão. Eu sentia a chuva bater em meu rosto e acredito que minha boca estava aberta porque sentia o gosto da chuva misturada com o sal das minhas lágrimas. A minha razão dizia que eu estava tendo uma hemorragia, pela quantidade de sangue, provavelmente uma ruptura de placenta. Nosso filho… ainda era muito cedo. Eu estava de sete meses e na Paris do século 18, nenhum de nós dois conseguiria sobreviver. O cocheiro junto com os homens que me levaram até o bosque, me carregaram e algum deles usou o forro das minhas saias para estancar o meu sangue. Nunca agradeci e nunca soube quem foi… e foi isso que provavelmente me salvou naquele momento. Então, eu acho que ouvi você gritar o meu nome, mas eu não tinha certeza, não conseguia mais enxergar ou me mover…
– Eu gritei… e tentei desesperadamente chegar até você, mas a guarda real chegou e me levou. Eu fiquei desesperado na prisão sem ter notícias de você. Cheguei a bater a minha cabeça nas paredes me culpando por ser o causador da sua morte e do nosso filho, até que eles me amarram impedindo de esmagar minha cabeça.
Claire olhou para Jamie com tristeza e mesmo tendo sofrido muito, ela imaginou como foi terrível para ele ficar amarrado dentro de uma cela sendo castigado pela dor da culpa. Ela passou a mão pelo rosto dele e sorriu. Jamie segurou a mão de Claire e beijou, mas continuou com ela bem firme de encontro ao peito.
– Eu só tive forças para pedir que me levassem para o Hôpital des Anges, para a madre Hildegarde antes de desmaiar. O parto e tudo o que sucedeu depois foi uma sucessão de imagens confusas e distorcidas. Acordei depois de cinco dias, meu corpo estava todo dolorido e sensível. Parecia que havia sido surrada. Toquei com dificuldade a minha barriga, ela continuava inchada, mas não sentia mais a presença do meu bebê. Olhei para cima e vi o teto do hospital e chorei. Chorei por mim, por nosso filho, por você e por Frank…
– Estava fraca, com dor e tinha febre. Acordava para logo depois cair em um sono povoado com imagens de você enfiando a espada no peito de Frank. Depois eu me via com a barriga aberta pela mesma espada e com o sangue esvaindo do meu corpo. Eu segurava meu bebê no colo que lutava para ficar em meus braços, mas estava fraca demais e ele acabava indo… acordava gritando pelo meu bebê. Chamava por você, eu precisava de você… por alguma razão que só eu entendia, achava que somente você me traria a salvação.
– Madre Hildegarde com seus dedos longos e gentis me examinavam a todo momento. Ela rezava também a Nossa Senhora que era mãe, como ela insistia em lembrar e pedia para que a Virgem cuidasse de mim; e também de nossa filha. Sim, era uma menina e como madre Hildegarde me contou em um dos meus momentos de volta dos pesadelos, ela havia nascido quieta, sem respirar ou chorar. Já a haviam embrulhado em um pano para enterrar, mas eu mesmo desacordada gritei neste momento chamando-a: Meu bebê! – e ela começou a chorar no mesmo instante.
– Um milagre… foi assim que a madre Hildegarde descreveu. Mas eu estava muito fraca e a infecção tomava conta do meu corpo. Sentia muita dor, a febre machucava meus ossos com calafrios de frio e depois era como se meu corpo todo queimasse em brasas. Ela me explicou que trouxeram uma ama de leite para a minha bebê, mas ela parecia não aceitar bem o leite e ficava mais fraca a cada momento, assim como eu. Como a madre suspeitasse que nem eu ou a bebê sobreviveria até o raiar do outro dia, ela trouxe e a deixou aconchegada ao meu corpo.
– Faith, o nome dela é Faith porque só a fé pode explicar a existência de vocês duas, minha querida. – falou com bondade madre Hildegarde para mim.
– Ela vai viver? E o meu marido veio me procurar? – eu fraca consegui perguntar com esperança.
– Não sabemos nada de monsenhor Fraser, sinto muito minha querida. – E com os olhos cheios de tristeza ela tocou com delicadeza no tufo de cabelos vermelhos de nossa filha, para depois tocar em meu rosto e beijar em minha testa. – E quanto a vocês duas, Nosso Senhor Jesus Cristo irá cuidar e recebê-las.
– Eu sentia o corpinho quente de nossa filha junto ao meu. Não tinha forças para segurá-la. Pedi, rezei para que Deus fizesse um milagre e a salvasse. Implorei para que você chegasse e nos salvasse. Chorei até as lágrimas secarem, lutei para ficar forte por ela, mas… cansei, não tinha mais forças nem físicas ou psicológicas, então, fechei os olhos e esperei a morte me levar.
– Oh, Claire… eu sinto muito… – Jamie também chorava e queria falar, mas eu não deixei. Precisava soltar tudo aquilo que eu lutei tanto para guardar no fundo mais esquecido do meu coração.
– Acordei com alguém me chamando suavemente. Era uma das irmãs que ajudavam no hospital. Tentei focar no seu rosto e lembrar qual era o seu nome. Andreia, não, irmã Andressa. Ela me olhava aflita e falava com urgência.
– Madame? A senhora me ouve?
– Minha filha… NÃO…
– Não madame, ela ainda está viva assim como a senhora. Por favor, se acalme e fale baixo. Eu corro perigo se a madre ou outra irmã souber. Eu trouxe alguém para vê-la.
– Meu marido…
– Madame, por favor, quieta. Trouxe mestre Raymond. Ele tentou visitá-la mais cedo, mas a madre o enxotou. Falou que não podia permitir um charlatão herege tocar na senhora ou na criança. Mas eu o conheço e ele já ajudou muito meus irmãos e alguns conhecidos, mesmo não professando a fé de Nosso Senhor, ele é uma boa alma.
– Tudo ainda parecia um sonho até que percebi que aquele rosto irregular com a boca larga e com olhos grandes e escuros olhavam para mim com bondade.
– Madona, silêncio ma chère! Agora vou cuidar de você e de sua criança, mas preciso de silêncio e da sua ajuda, entendeu? – Eu balancei minha cabeça afirmativamente e fechei os olhos porque o gesto me provocou tonturas e muita dor.
– Esqueça de mim e salve minha filha!
– Silêncio e cuidarei das duas.
– Ele tirou as cobertas do meu corpo e afastou a camisola que eu vestia desfazendo os laços. Mesmo fraca me senti envergonhada por estar nua até a cintura com ele me tocando, mas nada em seus toques sugeriam malícia ou depravação. Mestre Raymond colocou as mãos em forma de concha sobre os meus seios. Os seus polegares eram grandes e pressionavam com delicadeza, mas com firmeza. – Senti Jamie enrijecer ao meu lado nesse momento e respirar mais fundo. Não dei atenção e continuei.
– Conforme ele me tocava, eu sentia calafrios e depois calor. Era como se o calor que eu sentia da febre passasse através de mim para ele. Olhei para os seus dedos e foi como se visse uma luz azul sair deles. A febre foi cedendo e meus seios agora estavam aquecidos sem calafrios ou o calor desagradável da febre. E assim ele continuou a fazer pelos meus ombros, braços, mãos, pernas, pés, costas. Tocava devagar e a cada toque a dor; e qualquer desconforto diminuíam dando lugar para uma paz. Eu sentia que era aquecida por essa luz azul-clara.
– Então, ele tocou em minha barriga inchada e dolorida, pressionando suas mãos e nesse momento eu sentia um calor entrando em meu organismo, como se as bactérias que destruíam meu corpo fossem sendo destruídas uma a uma. Eu me sentia quente como se dentro de mim um pequeno sol crescesse. Me assustei de repente, quando senti uma de suas mãos entrando em minhas partes íntimas. Ele fez sinal para que eu ficasse quieta e continuou a vasculhar cada vez mais fundo chegando ao meu útero inflamado, enquanto a outra mão pressionava por cima a minha barriga. Essa pressão me provocou um gemido de dor e fechei os olhos. Ele então falou:
– Chame-o. Vamos chame agora o seu homem ruivo. Chame-o para que ele a venha salvar. – Intensificando cada vez mais a pressão de suas mãos em mim.
– Então eu o busquei porque queria viver para você e para nossa filha.
– Jamie… Jamie!
– Foi como se um raio atravessasse a minha barriga, senti que não havia mais doença alguma. Senti que você estava ao meu lado e que viveria. – Eu falei um pouco envergonhada.
– Quando abri os olhos, ainda me sentia muito fraca e cansada, mas viva. Procurei desesperada por nossa filha para pegá-la em meus braços, mas ela não estava mais ao meu lado. Mestre Raymond a segurava e repetia os mesmos gestos que havia feito comigo nela. Encantada, eu observava a mesma luz azul-clara que antes ele enviou para mim passar das mãos dele para o corpinho de nossa filha.
– Mestre Raymond sorrindo veio até mim e deixou Faith em meus braços. Emocionada pude pela primeira vez olhar e segurar nossa filha. Ela era perfeita. Pequena e com a pele mais alva do que a minha. Tinha o mesmo formato dos seus olhos de gato e o mesmo tom avermelhado dos cabelos, mas a testa e a boca eram minhas. Faith então abriu os olhos e me olhou. Era como se eu olhasse para os meus olhos e mais uma vez chorei, mas agora de pura felicidade.
– Madona, eu tenho que ir antes que me descubram. A pequena Andressa irá cuidar de vocês duas. Vocês estão bem e a menina tem fome. – Falou com pressa mestre Raymond.
– Mas… eu não sei se consigo ou terei leite…
– Madona, tenha fé e deixe a natureza se encarregar do seu curso natural.
– Eu coloquei Faith perto do meio seio esquerdo com a ajuda da irmã Andressa e com um sobressalto me espantei quando ela começou a sugar com voracidade o meu seio. E fiquei mais impressionada ainda quando senti que o leite descia para saciar a minha filha.
– Mestre Raymond muito obrigada – eu disse enquanto chorava de emoção. – Nos veremos novamente?
– Acredito que sim Madona. Os iguais sempre encontram um meio de se acharem.
Aviso Legal
Os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a pessoas reais e personagens fictícios; e nenhuma das situações e personalidades aqui encontradas refletem a realidade, tratando-se esta obra, de uma ficção. História sem fins lucrativos feita apenas de fã para fã, sem o objetivo de denegrir ou violar as imagens dos artistas.
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3 Comments
Andrea Lemos de Oliveira
Estou amando ler essa versão da história de amor entre Claire e Jamie, estou encantada e aguardando ansiosa pelo próximo capítulo, o de número 9 e é claro, os que se seguirão. Parabéns Mari Barros pela iniciativa em reescrever a história dessa família por quem me apaixonei, e também por não ser tão prolixa e cansativa como a autora Diana Gabaldon rsrs, tornando sua leitura muito mais gostosa e aprazível. Abraços afetuosos!
Att. Andrea L. de Oliveira.
Mari Barros
Muito obrigada Andrea por ler e principalmente pelo carinho comigo. Siga Claire e Jamie nessa aventura comigo, beijos querida.
Daniele Dávi
Eu gostei! Não fugiu da história mas tirou a parte ruim que é a morte. Muito bom!