Contos Na Colina Fraser: O Malabarista
Estava saindo da despensa carregando em meu cesto queijo, geleia e algumas frutas secas para o nosso jantar, fechei a porta da despensa olhando bem todo o terreno à procura da porca, hoje eu realmente não estava com humor para ser surpreendida pela Maldita Porca, mas estava tudo calmo sem sinal da criatura do mal. Parei um pouco olhando a paisagem que estava maravilhosa, havia nevado durante a noite e agora a Colina Fraser parecia uma tela pintada dos Alpes Suíços com a neve tingindo de branco as árvores e os telhados das casas. Ouvi risadas e logo avistei perto da minha horta Jamie com Jem e Mandy. Jem sorria e olhava admirado para o seu avô e Mandy pulava batendo palmas, enquanto não cansava de falar: Vovô faz de novo, de novo…
Foi então, que vi que Jamie estava no banco que ele fizera para mim embaixo de um carvalho e fazia malabarismo com três maças. Quando percebi eu estava rindo também e caminhava ao encontro deles totalmente encantada com a cena.
– Vovó!!! – Mandy veio ao meu encontro correndo e abraçando as minhas pernas toda feliz.
Jamie pegou o meu cesto e me deu um beijo na testa sorrindo e corado de felicidade.
– Sassenach, estava ensinando uns truques para as crianças dos tempos de quando eu era um jovem nas ruas da França.
– Olhando para você e as crianças agora, lembrei de um conto que costumava ouvir antes do Natal. – disse sorrindo para eles.
– Conta vovó, conta, conta… – disseram ao mesmo tempo Jem e Mandy.
Jamie me levou até o banco para sentar e também falou rindo:
– Conta vovó, eu também quero ouvir.
Sentei no banco e logo Mandy pulou para o meu colo, Jamie sentou-se ao meu lado com Jem sentado em uma de suas pernas e passou os braços pelas minhas costas. Passei a mão pelos cabelos encaracolados e escuros de Mandy e comecei a história:
“Conta uma lenda medieval que no país que hoje conhecemos como Áustria, uma família composta de um homem, uma mulher, e um menino, costumavam animar as feiras de natal recitando poesias, cantando baladas de antigos trovadores, e fazendo malabarismos para divertir as pessoas. Evidente que nunca sobrava dinheiro para comprar presentes, mas o homem sempre dizia a seu filho:
– Você sabe por que a sacola de Papai Noel não se esvazia nunca, embora haja tantas crianças neste mundo? Porque embora ela esteja cheia de brinquedos, às vezes existem coisas mais importantes para serem entregues, os chamados “presentes invisíveis”.
Em um lar dividido, ele procura trazer harmonia e paz na noite mais santa. Onde falta amor, ele deposita uma semente de fé no coração das crianças. Onde o futuro parece negro e incerto, ele traz esperança. No nosso caso, quando Papai Noel vem nos visitar, no dia seguinte estamos todos contentes de continuarmos vivos e fazendo nosso trabalho, que é de alegrar as pessoas. Jamais esqueça isso.
O tempo passou, o menino transformou-se em rapaz e certo dia a família passou diante da imponente abadia de Melk, que acabara de ser construída. O jovem pela primeira vez manifestou sua vocação escondida, que era tornar-se padre. A família entendeu e respeitou o desejo do filho. Bateram na porta do convento, foram acolhidos com amor pelos sacerdotes que aceitaram o jovem como noviço.
Chegou a véspera do Natal e justamente naquele dia, um milagre especial aconteceu em Melk: Nossa Senhora levando o menino Jesus nos braços resolveu descer à Terra para visitar o mosteiro.
Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila e cada um postava-se diante da Virgem, procurando homenagear a Mãe e o Filho. No último lugar da fila o jovem noviço aguardava ansioso. Seus pais eram pessoas simples e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos.
Quando chegou a sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a sua Mãe.
Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, ele tirou algumas laranjas do bolso e começou a jogá-las para cima e segurá-las com as mãos, criando um belo círculo no ar, igual ao que costumava fazer quando ele e sua família caminhavam pelas feiras da região.
Foi só neste instante que o Menino Jesus começou a bater palmas de alegria no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a sua Mãe estendeu os braços, deixando que segurasse um pouco a criança, que não parava de sorrir.”
Quando terminei o conto as crianças bateram palmas e Mandy me abraçou e me deu beijo estalado na bochecha.
– Te amo vovó.
– Também amo vocês meus amores. – disse emocionada enquanto tocava em Jem e Mandy.
Jamie que até então estava calado levantou-se e ajudou-me a levantar, segurou minhas mãos e olhando-me nos olhos as beijou.
– Vocês viram crianças que avó linda e sábia vocês tem? – sorrindo para mim, levou a sua mão até o meu rosto e então me beijou. – E também ela é a dona do meu coração.
Ouvimos então um sonoro: Arghhh e quando olhamos Jem e Mandy estavam fazendo caretas para nós.
– Mandy, vamos entrar e brincar com o pião que o papai fez, porque como mamãe diz, quando o vovô e a vovó começam com isso não param nunca.
E saíram correndo felizes, deixando para trás um avô e uma avó totalmente apaixonados e felizes nessa manhã fria de Natal.
Para mais contos entre em Contos na Colina Fraser
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7 Comments
Daniele Dávi
Que lindo! Menina nunca deixe de escrever pois vc tem um dom. Amei!!!! <3 <3 <3
Mari Barros
Muito obrigada pelo carinho e amo escrever, bjs.
Júlia Bellini
Que lindo! Amei e vou levar para meu grupo com os devidos créditos. Muito obrigada.
Zilda Gomes
Lindo conto! Parabéns Mari!
Adorei…
Quero mais!!!
Mari Barros
Muito obrigada e fico feliz que esteja gostando, beijos.
Maize
Muito lindo esse conto narrado pela Claire. Ele ja existia ou faz parte da escrita do autor deste conto de Outlandet?
Mari Barros
Maize fico feliz que você tenha gostado. Este conto é de minha autoria inspirado em Outlander e principalmente em Claire e Jamie. Obrigada e fique de olho que estarei publicando mais contos, um abraço querida.