Daily Line: Terceiro Domingo do Advento
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
Este é o Terceiro Domingo do Advento, chamado “Domingo Gaudete” (Alegria). É quando fazemos uma pausa nas nossas reflexões solenes, acendemos uma terceira vela da nossa Coroa do Advento (a vela rosa) e percebemos com alegria e admiração aonde o processo nos leva: a realização da esperança e da promessa na grandeza do amor.
Eu me perguntava como Roger propôs seguir o ato do capitão Cunningham. A congregação se espalhou sob as árvores para se refrescar, mas todos os grupos por onde passei discutiam o que o capitão havia dito, com grande entusiasmo e absorção, como dera de se esperar. O encanto de sua história permaneceu comigo, uma sensação de admiração e esperança.
Bree parecia estar se perguntando a mesma coisa; eu a vi com Roger, à sombra de um carvalho chinkapin, em uma discussão acurada. Ele balançou a cabeça, mas sorriu e puxou o boné dela. Ela estava vestida como a modesta esposa de um ministro, e alisou a saia e o corpete.
– Dois meses, e ela estará indo para a igreja vestindo pele de animal – disse Jamie, seguindo a direção do meu olhar.
– Quais são as chances? – eu perguntei.
– Três para um. Você quer apostar, Sassenach?
– Apostas no domingo? Você vai direto para o inferno, Jamie Fraser.
– Eu não me importo. Você chegará lá antes de mim. Quais as chances…. Além disso, ir à igreja três vezes no mesmo dia deve aliviar alguns anos de purgatório.
Eu concordei.
– Pronto para a segunda rodada?
Roger beijou Brianna e saiu da sombra para o dia ensolarado, alto, moreno e bonito no seu melhor traje preto, bem, o seu único traje preto. Ele veio em nossa direção, com Bree em seus calcanhares, e eu vi várias pessoas dos grupos próximos notarem seus movimentos e começarem a guardar seus pedaços de pão, queijo e cerveja para se esconder atrás dos arbustos, para um momento de privacidade, e para ajeitar as crianças que estavam desalinhadas.
Eu esbocei uma saudação quando Roger veio até nós.
– Um pouco demais?
– Gerônimo – ele respondeu brevemente, visivelmente dando de ombros, virando-se para cumprimentar seu rebanho e conduzi-los para dentro da igreja.
Lá dentro estava visivelmente quente, mas não muito, graças a Deus. O aroma do pinheiro novo era suave, amortecido pelo farfalhar dos tecidos feitos em casa, pelos leves aromas de culinária e agricultura e pela bagunça crescente das crianças em uma névoa agradavelmente doméstica.
Roger deixou que eles se acomodassem por um momento, mas não o suficiente para que as conversas recomeçassem. Ele entrou com Bree no braço, deixou-a no banco da frente e virou-se para sorrir para a congregação.
– Há alguém aqui que ainda não me conhece? – perguntou ele. Houve um leve murmúrio de risinhos.
– Sim, bem, o fato de vocês me conhecerem e mesmo assim estarem aqui é reconfortante. Às vezes, são as coisas que sabemos que fazem a diferença, em parte porque conhecemos bem e entendemos sua força. Podem ficar de pé para que façamos a Oração do Senhor juntos.
Eles se levantaram gentilmente e o seguiram na oração, alguns, eu notei, falando em gaélico, embora a maioria em inglês com um sotaque variado.
Quando nos sentamos novamente, ele pigarreou com força e eu comecei a me preocupar. Eu tinha certeza de que sua voz estava melhor do que antes, fosse pela cura natural ou pelos tratamentos, ou algo muito simples e, ao mesmo tempo, tão peculiar como a imposição das mãos do Dr. MacEwan, dignificada pelo seu nome (eu recomendava uma vez por mês), mas já fazia muito tempo que ele não falava muito em público (quanto mais pregar ou cantar) e o estresse da expectativa era muito grande.
– Alguns de vocês vêm das Ilhas, eu sei, e do Norte. Então, vocês saberão o que é canto alinhado.
… (lendo o Salmo)
Mais vozes, mais confiança e, na terceira frase, nós já compartilhávamos da felicidade de Roger, passando para as palavras e seus significados.
Era um salmo razoavelmente curto, mas eles estavam se divertindo tanto que ele o leu duas vezes e, finalmente, parou, contorcendo-se pelo suor e corando com o calor do esforço. Com “Vida para sempre! ” ainda tocando no ar.
– Isso foi bom – disse ele, em um grasnido, e eles riram, embora gentilmente. – Jamie, você poderia ler para nós o Antigo Testamento?
Eu olhei para Jamie com surpresa, mas aparentemente ele estava pronto para isso, pois pegou sua pequena Bíblia verde, que havia trazido com ele, e foi para a frente da sala. Ele vestia o melhor dos seus dois kilts, com o único casaco de aparência sóbria que possuía, e tirando os óculos do bolso, colocou-os e olhou severamente por cima deles para os meninos no fundo, que instantaneamente pararam de sussurrar.
Evidentemente satisfeito de que o olhar severo seria suficiente, ele abriu o livro e leu no Gênesis a história dos anjos que visitaram Abraão e, recebendo sua hospitalidade, garantiram a ele que quando viessem novamente, sua esposa Sara teria dado à luz a um menino… Consequentemente, Sara riu por dentro e pensou: “Depois de velha, terei eu prazer, sendo o meu senhor também velho? ”
Ele olhou brevemente para aquela linha e seus olhos encontraram os meus. Ele disse: “Mphm”, no fundo da garganta, voltou a olhar para a página e terminou com: “Alguma coisa é difícil demais para o Senhor? No tempo determinado, voltaremos e, de acordo com a época, Sara terá um filho. ”
Eu ouvi um risinho vindo de algum lugar atrás de mim, mas foi imediatamente abafado pelo verso final: “Então Sara negou, dizendo ‘Eu não ri’, pois ela estava com medo. E ele disse ‘Não, mas tu riste’”.
Jamie fechou o livro com uma decisão clara; ele curvou-se para Roger e sentou-se ao meu lado, dobrando os óculos.
– Eu não sei como as pessoas podem pensar que Deus não tem um senso de humor perverso – sussurrou ele para mim.
(Trecho de VÁ DIZER ÀS ABELHAS QUE PARTI, Copyright 2020 Diana Gabaldon.)
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 13/12/2020
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