Livro vs Série – 5×07 – The Ballad of Roger Mac
Pessoas lindas e apaixonadas por essa série maravilhosa, que episódio lindo, perfeito, maravilhoso, sem defeitos foi esse! No capítulo anterior, eu disse que não sabia me expressar, mas de forma negativa. Agora, houve algumas mudanças, aqui e ali, mas não houve nenhuma alteração significativa na narrativa.
Nós já batemos nessa tecla várias vezes, mas a presença de Murtagh tem sido uma das principais mudanças da temporada. Ele se destaca como líder dos reguladores. No livro, há outras lideranças. A que se destaca é de Hermon Husband, um quacre. Ele luta fervorosamente pelos direitos de seus colegas, porém é um homem por princípios e por sua religião não recorre a violência como recurso. É para argumentar com ele que Jamie envia Roger para o campo inimigo. O governador, muito presente ao longo da temporada, só é visto no livro em seu primeiro encontro com Jamie, no livro 4, e agora no campo de batalha. E ele se demonstra mais suscetível a um acordo pacífico quando Jamie o sugere, mesmo que esse seja improvável. Confira o trecho que Jamie fala da missão de Roger, e sua conversa com o governador:
“– Pedi a Roger Mac que fosse logo de manhã encontrar Husband – disse ele, comendo o ensopado com apetite renovado – e que o trouxesse até aqui… para falar cara a cara com Tryon. Se ele não conseguir convencer Tryon, e não vai conseguir, talvez Tryon convença Husband de que ele está falando sério. Se Hermon perceber que isso vai significar um derramamento de sangue, então talvez ele convença seus homens a desistir.
– Você acha mesmo?
Havia caído uma chuva fina à tarde, e montes de nuvens ainda cobriam o céu a leste. As bordas delas tinham um tênue brilho vermelho – não por causa dos raios do sol que se punha, mas devido às fogueiras dos reguladores, acampados fora do alcance da vista na margem oposta do Alamance.
Jamie esvaziou a tigela e deu uma última mordida no pão, balançando a cabeça.
– Não sei – disse ele simplesmente. – Mas não temos mais o que tentar, temos?
[…]
– Acredito que seus agentes também tenham lhe informado que os reguladores não têm um líder propriamente dito.
– Pelo contrário, sr. Fraser. Tenho a impressão de que Hermon Husband é e tem sido, há um tempo considerável, um dos principais agitadores do movimento. James Hunter também é um nome que vejo com frequência mencionado em cartas de reclamação e nas intermináveis petições que chegam a mim em New Bern. E há outros: Hamilton, Gillespie…
Jamie fez um gesto de impaciência, afastando uma nuvem de mosquitos do rosto.
– Em algumas circunstâncias, senhor, eu estaria disposto a discutir se a caneta é mais poderosa do que a espada, mas não à beira de um campo de batalha, que é onde estamos. A coragem para escrever panfletos não capacita um homem para liderar tropas, e Husband é um cavalheiro quacre.
– Eu fui informado – disse Tryon. Ele fez um gesto em direção ao rio distante, erguendo uma das sobrancelhas em desafio. – E, ainda assim, ele está aqui.
– Ele está aqui – concordou Jamie.
Fez uma pausa, sondando o humor do governador antes de continuar. O homem estava tenso; não havia como ignorar o retesamento de seu corpo e o brilho de seus olhos. No entanto, a batalha ainda não era iminente e a tensão estava bem controlada. O governador ainda podia ouvi-lo.
– Eu alimentei o homem em minha própria casa, senhor – disse Jamie com cautela. – Eu comi na casa dele. Ele não faz segredo sobre suas opiniões nem sobre seu caráter. Se ele veio até aqui hoje, tenho certeza de que o fez com a mente atormentada.
Jamie respirou fundo. Estava pisando em terreno perigoso.
– Mandei um homem até a outra margem do rio, senhor, para encontrar Husband e implorar que ele aceitasse falar comigo. Pode ser que eu consiga convencê-lo a usar sua considerável influência para fazer com que esses homens, esses cidadãos – ele fez um gesto breve em direção ao rio e aos homens invisíveis além – abandonem o desastroso plano de ação, que só pode acabar em tragédia. – Ele olhou diretamente nos olhos de Tryon. – Posso pedir, senhor, posso implorar que, se Husband vier, o senhor fale diretamente com ele?
Tryon ficou em silêncio, alheio ao chapéu tricorne empoeirado que ele girava sem parar nas mãos. Os ecos da comoção recente tinham se dissipado; um pássaro cantava nos galhos do olmo acima de nós.
– Eles são cidadãos desta Colônia – disse o governador por fim, inclinando a cabeça na direção do rio. – Não gostaria que nenhum mal lhes acontecesse. As injustiças que eles sofrem têm seu mérito. Eu mesmo reconheci isso, publicamente, e tomei medidas para repará-las.
Ele olhou na direção de Jamie, como se para verificar se sua declaração tinha sido aceita. Jamie ficou em silêncio, esperando.
Tryon respirou fundo e bateu com o chapéu na perna.
– Ainda sou o governador desta Colônia. Não posso permitir que a paz seja perturbada, que a lei seja desrespeitada, que tumultos e derramamento de sangue ocorram livremente e sem punição! – Ele olhou com frieza para mim. – Não vou permitir.
Ele voltou a atenção para Jamie outra vez.
– Acho que ele não virá, senhor. O curso deles já foi determinado. – Ele gesticulou mais uma vez em direção às árvores que margeavam o rio Alamance. – E o meu também. Ainda assim… – Ele hesitou por um momento, então se decidiu e balançou a cabeça. – Não. Se ele realmente vier, então, sem dúvida, argumente, e se ele concordar em mandar seus homens para casa em paz… traga-o até mim e acertaremos os termos. Mas não posso contar com essa possibilidade.”
Uma mudança que vale ser mencionada é forma como Brianna aparece no campo de batalha, para levar uma informação histórica da qual se recordou, ficando então para ajudar a mãe. No livro, Bree estava em Hillsborough a trabalho, pintando um retrato para uma família da cidade. Ao ouvir que batalha não era longe dali ela resolveu se juntar aos pais e ajudar. Ela não encontra Roger, que já havia partido em sua missão. Outra diferença, ela diz que não há qualquer registro histórico da batalha da Carolina do Norte, então ela não ocorreu ou foi insignificante demais para registro. Confira os trechos de sua chegada e a conversa sobre a batalha:
“– Mamãe!
Ela me abraçou, com o vestido cheirando a sabão, cera de abelha e terebintina. Havia uma mancha pequena de tinta azul-cobalto em seu rosto.
– Oi, querida. De onde você está vindo?
Eu beijei seu rosto e dei um passo para trás, animada por vê-la, apesar de tudo.
Ela estava vestida de modo bastante simples, com o vestido marrom que usava na Cordilheira dos Frasers, mas as roupas estavam limpas e lavadas. Seus longos cabelos ruivos estavam presos para trás em uma trança e um grande chapéu de palha jazia em suas costas, pendurado pelo cordão.
– Hillsborough – respondeu ela. – Alguém que foi jantar na casa dos Sherstons ontem à noite nos contou que a milícia estava acampada aqui… então eu vim. Trouxe comida… – ela fez um gesto indicando os alforjes volumosos do cavalo – e algumas ervas da horta dos Sherstons que achei que talvez você pudesse usar.
– Ah? Ah, sim, que ótimo. – Eu estava um pouco incomodada com a presença de Jamie em algum lugar atrás de mim, mas não me virei para olhar. – Ah, não quero dar a impressão de que não estou feliz por vê-la, querida, mas possivelmente vai haver uma batalha aqui em breve, e…
– Eu sei disso.
Seu rosto ainda estava corado, e a vermelhidão se intensificou ao ouvir aquilo. Ela elevou ligeiramente a voz.
– Tudo bem; não vim para lutar. Se tivesse, teria vestido minhas calças.
Ela lançou um olhar para trás do meu ombro, e eu ouvi um resmungo alto vindo daquela direção, seguido por gargalhadas dos irmãos Lindsays. Ela abaixou a cabeça para esconder um sorriso, e eu também não consegui evitar e sorri.
– Vou ficar com vocês – disse ela, baixando a voz também e tocando meu braço. – Se for preciso cuidar de alguém… depois… posso ajudar.
[…]
Bree se destacava por sua imobilidade em meio à movimentação. Estava sentada
na pedra, sem nenhum movimento, exceto uma brisa casual em suas saias, os olhos
fixos nas árvores distantes. Ouvi quando ela disse algo, baixinho, e me virei.
– O que você disse?
– Não está nos livros.
Ela não tirou os olhos das árvores, e suas mãos estavam unidas no colo, apertadas, como se, assim, pudesse fazer Roger aparecer em meio aos salgueiros. Ela levantou a cabeça, meneando-a em direção ao campo, às árvores, aos homens ao nosso redor.
– Isto – disse ela. – Não está nos livros de história. Li sobre o Massacre de Boston. Eu o vi lá, nos livros de história, e o vi aqui, no jornal. Mas nunca li uma palavra sequer a respeito do governador Tryon, da Carolina do Norte. Então, nada vai acontecer. – Ela falava com intensidade, desejando que fosse verdade. – Se tivesse ocorrido uma grande batalha aqui, alguém teria escrito alguma coisa a respeito. Ninguém escreveu… então nada vai acontecer. Nada!
– Espero que esteja certa – falei, e senti um leve calor na parte inferior das costas.
Talvez ela estivesse certa. Definitivamente não poderia ser uma grande batalha, pelo menos. Estávamos a menos de quatro anos do início da Revolução; até mesmo as menores escaramuças que antecederam aquele conflito eram bem conhecidas.”
Outra adaptação, uma que gostei, foi a forma como descobrem sobre o que houve com Roger. No livro, todos estão muito ocupados pós batalha, e Claire ouve sobre o enforcamento de alguns líderes reguladores em meio as histórias de batalha, mas não há o que fazer a respeito. Eles descobrem que Roger está entre os condenados pois Morag vê acontecer e corre para avisá-los. A adaptação proporcionou uma grande surpresa, além de ampliar a carga dramática para encerrar o episódio. Confira os trechos sobre a notícia dos enforcamentos e do aviso de Morag:
“– Isso, sim, é um soldado! – disse uma voz, seguida pelo burburinho dos que concordavam com ele.
– Então, atiramos – continuou o narrador, como se desse de ombros. – Não demorou muito depois que começamos. O primo Millard se mostrou bastante rápido, ao que parece, quando começou a correr. O desgraçado escapou sem deixar rastro.
Mais risos quando ele disse isso, e eu sorri, dando tapinhas no ombro de David.
Ele também estava ouvindo, e a conversa era uma distração bem-vinda.
– Não, senhor – concordou outro. – Parece que Tryon quer ter certeza da vitória dessa vez. Ouvi dizer que ele vai enforcar os líderes da Regulação no campo de batalha.
– Ele o quê?
Eu me virei ao ouvir isso, com a bandagem ainda na mão.
O pequeno grupo de homens piscou para mim, surpreso.
– Sim, senhora – confirmou um dos homens, puxando a aba do chapéu. – Um rapaz da brigada de Lillington foi quem me disse; ele estava partindo para assistir à diversão.
– Diversão – murmurou outro dos homens, e se benzeu.
– Uma pena se ele enforcar o quacre – opinou outro, com o rosto sério. – O velho Husband é um terror em se tratando de impressos, mas não é um facínora. Nem James Hunter ou Ninian Hamilton.
– Talvez ele enfoque o primo Millard – sugeriu outro, cutucando o vizinho com um sorriso. – Então, você estará livre dele e sua esposa pode culpar o governador!
Ouviu-se um coro de risos, mas o tom era cauteloso. Eu voltei ao meu trabalho, concentrando-me firmemente para apagar a imagem do que estava acontecendo agora no campo de batalha.
A guerra em si já era ruim o bastante, mesmo quando necessária. Vingança a sangue-frio por parte dos vitoriosos estava um grau além. No entanto, do ponto de vista de Tryon, aquilo podia ser necessário, também. No que dizia respeito a batalhas, aquela tinha sido rápida e relativamente sem importância em termos de perdas. Eu tinha apenas vinte e poucos homens sob meus cuidados, e tinha visto apenas uma morte. Certamente havia mortos em outros pontos, claro, mas pelos comentários das pessoas próximas, tinha sido uma confusão, mas não um massacre, e a maioria dos homens da milícia não parecia nada entusiasmada em relação a matar seus conterrâneos, primos ou não.
Isso significava que a maioria dos homens da Regulação sobrevivera incólume.
Eu acreditava que o governador talvez achasse que um gesto drástico se fazia necessário para selar sua vitória, intimidar os sobreviventes e acabar de uma vez por todas com o pavio de combustão longa daquele perigoso movimento.
[…]
– O que foi?
Eu me virei para olhar e vi uma jovem mulher, em um estado terrível, vindo em nossa direção em um trote meio cambaleante. Ela era franzina e mancava muito – tinha perdido o sapato em algum lugar –, mas ainda assim tentava correr, apoiada de um lado por Murdo Lindsay, que parecia protestar contra ela ao mesmo tempo que a ajudava.
– Fraser – eu a ouvi dizer. – Fraser!
Ela se livrou de Murdo e passou pelos homens que esperavam, observando os rostos enquanto passava, procurando. Seus cabelos castanhos estavam despenteados e cheios de folhas, o rosto arranhado e sangrando.
– James… Fraser… preciso… Você é…?
Ela estava ofegante, o peito subindo e descendo e o rosto tão vermelho que parecia estar prestes a ter uma apoplexia.
Jamie deu um passo à frente e a segurou pelo braço.
– Sou Jamie Fraser, moça. É comigo que quer falar?
Ela assentiu, arfando, mas não tinha fôlego para as palavras. Enchi um copo com água e lhe ofereci, mas ela balançou a cabeça com violência, erguendo os braços com agitação, gesticulando sem parar em direção ao rio.
– Rog… er – ela conseguiu dizer, engolindo o ar como se fosse um peixe fora d’água. – Roger… MacKen… zie.
Antes de a sílaba final sair de sua boca, Brianna estava ao lado da jovem.
– Onde ele está? Está ferido?
Ela segurou o braço da mulher, tanto para conseguir respostas quanto para oferecer apoio.
A garota sacudiu a cabeça de forma desvairada e disse:
– Enforcando… Eles… Eles estão… enforcando ele! O gover…. nador!
Brianna a soltou e correu em direção aos cavalos. Jamie já estava lá, desatando as rédeas com a mesma veloz intensidade que demonstrara quando a luta começara.
Sem dizer uma palavra, ele se abaixou, com as mãos formando um apoio, onde Brianna pisou para montar na sela, golpeando o cavalo com as pernas para que ele se movimentasse antes mesmo de Jamie chegar a sua montaria. Gideon alcançou a égua momentos depois, no entanto, e os dois animais desapareceram em meio aos salgueiros, como se tivessem sido engolidos.”
Para encerrar, vamos falar sobre Jamie. Vemos ele explodindo com o governador após a batalha, chocado com a morte de Murtagh. Esse temperamento explosivo também é mostrado no livro, mas ele ocorre devido ao enforcamento de Roger, algo que abalou muito nosso coronel. Vale destacar que Jamie e Roger tem uma relação mais consolidada no livro, algo que ainda está se desenvolvendo na série, por isso, faz sentido terem mantido Murtagh até aqui, justificando o estouro de Jamie. Confira o trecho original do conflito entre Jamie e governador:
“– Ousa colocar as mãos em mim, senhor?
O pânico fora embora de uma vez, substituído pela fúria.
– Ah, pode apostar que sim. Assim como colocou as mãos em meu filho.
Eu não achava que Jamie pretendia machucar o governador. Por outro lado, aquele não era, de modo nenhum, apenas um ato de intimidação; eu podia sentir a ira dentro dele, podia vê-la ardendo fria em seus olhos. Assim como Tryon.
– Foi um erro! E um erro que vim remediar, de todas as maneiras que puder! – Tryon estava firme, a mandíbula travada ao olhar para cima.
Jamie emitiu um som de desdém no fundo da garganta.
– Um erro. Então a perda da vida de um homem inocente não passa disso para o senhor? O senhor mata e fere, em nome da sua glória, e não se importa com a destruição que causa, desde que o registro de suas façanhas seja ampliado. Como as coisas vão ser contadas nos relatórios que enviar à Inglaterra… senhor? Que apontou o canhão para seus próprios cidadãos, armados com nada além de facas e porretes? Ou vai estar escrito que o senhor pôs fim à rebelião e preservou a ordem? Vai relatar que em sua pressa de se vingar, enforcou um inocente? Vai dizer que cometeu um “erro”? Ou vai alegar que puniu a perversidade e fez justiça em nome do rei?
Os músculos do rosto de Tryon se salientaram e seus membros tremeram, mas ele manteve a calma. Respirou fundo pelo nariz, inspirou e expirou, antes de falar.
– Sr. Fraser. Vou lhe dizer algo que algumas pessoas já sabem, mas que ainda não é de conhecimento público.
Jamie não respondeu, mas ergueu a sobrancelha, brilhando vermelha sob a luz. Seus olhos estavam frios, sombrios e impassíveis.
– Fui nomeado governador da colônia de Nova York – disse Tryon. – A carta de nomeação chegou há mais de um mês. Devo partir até julho para assumir o novo cargo; Josiah Martin será o novo governador da Carolina do Norte. – Ele olhou para Jamie e para mim. – Então, entendam: não tive nenhum interesse pessoal nisso; nenhuma necessidade de glorificar minhas proezas, como diz.
Sua garganta se moveu quando ele engoliu em seco, mas o medo tinha sido substituído por uma frieza similar à de Jamie.
– Fiz o que fiz no cumprimento do meu dever. Não deixaria esta colônia em um estado de desordem e rebelião para que o meu sucessor lidasse com o problema, como poderia ter feito.
Ele respirou fundo e deu um passo para trás, forçando-se a relaxar as mãos, fechadas em punhos cerrados.
– O senhor tem experiência na guerra, sr. Fraser, e no cumprimento do dever. E, se for um homem honesto, vai saber que erros são cometidos, com frequência, em ambos os aspectos. Não pode ser diferente.
Ele olhou diretamente nos olhos de Jamie, e eles ficaram ali, se encarando.”
Com isso, vamos encerrar o nosso livro vs série da semana. O episódio trouxe uma bela e fiel adaptação, com mudanças justificáveis e adequadas a narrativa da série. E você Sasse, o que achou do episódio? Comente!
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