3ª Temporada,  Série

Livro vs Série – 3×11 – Uncharted

Sassenachs, desembarcamos no décimo primeiro episódio da terceira temporada. Um episódio no qual Claire passa por diversas provações, até estar finalmente reunida com Jamie. Um belo episódio, muito bem produzido, porém, em termos de adaptação alcançamos um ponto na temporada onde a história começa ser encurtada e alguns fatos adaptados em ordem um pouco diferente do livro. No final, a narrativa nos guia pela mesma história central, o que é o mais importante. Então, vamos começar nossa análise.

A série começou apresentando a chegada de Claire a ilha, na qual passou diversas provações por cerca de três dias antes de encontrar ajuda. No livro, a aventura solo de Claire é um pouco diferente. Ela passa sim por alguns perrengues, a parte da ilha em ela se encontra, por exemplo, é um mangue, o que dificulta sua locomoção. Logo no fim do primeiro dia, ela enfrenta uma grande tempestade tropical, sendo salva por ter subido em uma árvore. É nesse ponto, após a tempestade, que ela encontra ajuda. No entanto, quem a encontra é um doutor em filosofia natural (naturalista), o alemão Lawrence Stern. Ele que sugere buscar ajuda do padre Fogden, seu amigo e residente da ilha.

A série optou por focar mais na jornada de Claire e trazer apenas a presença do padre maluquinho (sim ele é igualzinho no livro). Confira um pequeno trecho desses acontecimentos:

A maré estava no meio da minha coxa quando a chuva caiu. Com um ronco que abafou o barulho do chacoalhar das folhas, a tempestade desabou em cortinas torrenciais que me encharcaram até a alma em questão de segundos. No começo, perdi tempo tentando inutilmente inclinar minha cabeça para trás, procurando dirigir os filetes de água que escorriam pelo meu rosto para dentro de minha boca aberta. Em seguida, o bom senso predominou; tirei o lenço amarrado em volta dos ombros, deixei a chuva encharcá-lo e o torci diversas vezes para remover os vestígios de sal. Então, deixei-o absorver a chuva outra vez, ergui o tecido embolado acima da minha boca e sorvi a água. Tinha gosto de suor, algas marinhas e algodão rústico. Era deliciosa. […]
Mais quatro ondas, mais quatro empurrões para a frente, mais quatro esforços de me agarrar com todas as forças a um mangue conforme a força da maré me puxava para trás, e eu estava na margem lamacenta de uma pequena calha, onde um riacho corria pelo manguezal na direção do mar. Arrastei-me para cima, escorregando e cambaleando, à medida que escalava o tronco e me refugiava no abraço acolhedor da árvore.
De uma posição segura a quase quatro metros de altura, eu podia ver toda a extensão do manguezal atrás de mim e, além dele, o mar aberto. Mudei de ideia mais uma vez sobre a sensatez de ter deixado o Porpoise; por pior que fosse a situação em terra firme, era bem pior lá fora.
[…]
Meu salvador observava-me com um olhar curioso — o que não era de admirar, imagino. Ensopada de água do mar e secada ao sol, coberta de placas de lama seca e manchada de suor, com os cabelos desgrenhados caindo no rosto, eu parecia uma mendiga, e provavelmente uma mendiga louca.
— Doutora? — disse ele em inglês, provando que seus pensamentos haviam caminhado na direção que eu suspeitava. Observou-me atentamente, de um modo muito semelhante ao do enorme pássaro negro que eu encontrara anteriormente. — Doutora em quê, se me permite a pergunta?
— Medicina — eu disse, parando brevemente entre dois goles.
Ele possuía sobrancelhas negras e unidas. Elas se levantaram até quase a raiz dos cabelos.
— Verdade? — disse ele, após uma pausa considerável.
— Verdade — eu disse, e ele riu.
Ele inclinou a cabeça para mim numa reverência formal.
— Neste caso, doutora, permita-me apresentar-me. Lawrence Stern, doutor em filosofia natural, do Gesellschaft von Naturwissenschaft Philosophieren, Munique.
Pisquei os olhos, fitando-o.
— Um naturalista — complementou ele, indicando a sacola de lona sobre o ombro.
— Eu estava indo na direção dos alcatrazes na esperança de observar esses pássaros no período da procriação, quando a ouvi, hã…
— Conversando com um peixe — concluí. — Sim, bem… eles têm mesmo quatro olhos? — perguntei, na esperança de mudar de assunto. […]
— Tenho que encontrar uma maneira de chegar à Jamaica — eu disse. — Acha que pode me ajudar?
Ele encarou-me, franzindo ligeiramente a testa, como se eu fosse um espécime que ele não soubesse muito bem como classificar, mas depois balançou a cabeça. Ele tinha uma boca larga que parecia feita para sorrir; um dos cantos curvou-se para cima e ele estendeu a mão para me ajudar a levantar.
— Sim — respondeu ele. — Posso ajudar. Mas acho que primeiro temos que encontrar alguma coisa para você comer e talvez roupas, não é? Tenho um amigo que não mora muito longe aqui. Vou levá-la até lá, está bem?

Outra mudança diz respeito no reencontro com Jamie. Lembram que no último episódio falamos que Jamie segue Claire até o Porpoise, depois se joga no mar como ela? A diferença é que ele vai parar em outra parte da ilha. Lá se apresenta como um soldado naufragado e vira o capitão de um regime ali localizado. Quando Claire encontra os marinhos na praia, Jamie não está ali. Ele aparece depois, com seu regimento e faz um teatro para ajudar a desencalhar o navio e salvar a tripulação dos soldados, que pretendiam tomar o Artemis. Tudo é bem sucedido, e seguimos com o casamento (no livro foi ideia de Marsali, que queria se unir logo a Fergus). Nesse espaço de tempo, temos uma conversa muito sensual entre e Jamie e Claire, a qual a série deixou para o seu finale. No episódio, vamos direto para sopa de tartaruga, porém de maneira um tanto diferente do livro.

Na adaptação, vemos Claire ferindo o braço em sua corrida pela mata. No livro, após saírem da ilha, nossa tripulação segue viagem e aportam em outra, na qual fazem alguns negócios e salvam/compram um escravo (cena do próximo capítulo rs). Depois de volta no navio, nossos tripulantes são atacados por piratas. Claire é perseguida por um, que a fere no braço com sua espada. O ferimento é muito mais grave do que o apresentado na TV, realmente assusta Jamie. Durante sua recuperação, temos todo o evento da sopa da tartaruga. A série cortou os piratas e amarrou o resto da trama, conseguindo encaixar a história principal ali. Confira alguns trechos sobre o ataque e sobre o ferimento de Claire:

— O que em nome de Deus… — Jamie começou a dizer. Uma colisão dilacerante abafou suas palavras e ele foi arremessado para o lado, os olhos arregalados de susto, quando a cabine inclinou-se. O banco em que eu estava caiu, atirando-me ao chão. O lampião a óleo foi lançado de seu suporte, felizmente apagando-se antes de atingir o assoalho. O lugar ficou às escuras.
— Sassenach! Você está bem? — A voz de Jamie veio da escuridão próxima, aguda de ansiedade.
— Sim — eu disse, arrastando-me debaixo da mesa. — E você? O que aconteceu? Alguém bateu em nós?
Sem parar para responder a nenhuma dessas perguntas, Jamie já havia alcançado a porta e a abria. A babel de vozes, exclamações e pancadas vinha do convés acima, pontuada pelo repentino pipocar de tiros de armas pequenas.
— Piratas — disse ele sucintamente. — Fomos abordados. […]
Irrompi do porão em cima do convés no meio de um completo caos. O ar era denso de fumaça negra de pólvora e pequenos grupos de homens empurravam-se e puxavam-se, xingando e tropeçando por todo o convés.
Eu não podia perder tempo olhando ao redor; ouviu-se um urro rouco da escotilha atrás de mim e eu me lancei na direção da balaustrada. Hesitei por um instante, equilibrada no estreito corrimão de madeira. O mar passava vertiginosamente lá embaixo, numa estonteante agitação negra. Agarrei-me ao cordame e comecei a subir. […]
Ele me acompanhou, facilmente, sibilando por um riso pernicioso, quase desdentado. Não importava qual língua ele estava falando; o significado era perfeitamente claro. Segurando-se com uma das mãos, retirou o alfanje da faixa em sua cintura e girou-o num golpe maligno que por pouco não me atingiu.
Eu estava apavorada demais até para gritar. Não havia nenhum lugar para onde fugir, nada a fazer. Cerrei os olhos com força e desejei que tudo acabasse rápido. E acabou. Ouvi um ruído surdo, um grunhido agudo e um forte cheiro de peixe.
Abri os olhos. O pirata desaparecera. Ping An estava sentado no vau, a um metro de distância, a crista em pé de irritação, as asas semiabertas para manter o equilíbrio. […]
Aterrissei desajeitadamente, com um baque que fez Jamie endireitar-se e abrir os olhos. O olhar de alívio em seus olhos puxou-me até ele pelos poucos metros que nos separavam. Senti-me melhor, com o músculo sólido e quente de seu ombro sob minha mão.
— Você está bem? — eu disse, inclinando-me sobre ele para olhar.
— Sim, nada mais do que um pequeno golpe — disse ele, erguendo o rosto com um sorriso para mim. Havia um pequeno corte junto à linha do seu couro cabeludo, onde algo como a coronha de uma pistola o atingira, mas o sangue já coagulara. Havia manchas de sangue escuras, quase secas, na frente de sua camisa, mas a manga de sua camisa também estava ensanguentada. Na verdade, estava quase encharcada, com sangue vivo e vermelho.
— Jamie! — exclamei, agarrando seu ombro, minha visão obscurecendo nas bordas.
— Você não está bem, olhe, está sangrando!
Meus pés e mãos estavam dormentes e quase não senti suas mãos agarrarem-me pelos braços conforme ele se levantava, subitamente alarmado. A última coisa que vi, entre lampejos de luz, foi seu rosto, que ficou pálido sob a pele bronzeada.
— Santo Deus! — exclamou ele com a voz assustada, na escuridão em redemoinho.
— Não é meu sangue, Sassenach, é seu! […]
— Olhe para mim! — disse ele enfaticamente, e eu o fiz, contra a própria voz da razão.
Os olhos azuis perfuraram os meus, apertados de raiva.
— Você sabe que quase morreu? — perguntou ele. — Você tem um corte no braço, fundo até o osso, da axila ao cotovelo, e se eu não tivesse amarrado um pano em volta, você estaria alimentando os tubarões a esta hora!
Um enorme punho cerrado abateu-se com toda a força no lado do beliche, sobressaltando-me. O movimento fez meu braço doer, mas não emiti nenhum som.
— Droga, mulher! Você nunca vai fazer o que eu mandar?
— Provavelmente, não — eu disse timidamente.
Virou-se para mim com uma carranca ameaçadora, mas pude ver o canto de sua boca torcer-se sob os pelos acobreados da barba. […]
— Quanto sangue você disse que uma pessoa tem no corpo? — perguntou.
— Uns nove litros — disse, intrigada. — Por quê?
Ele depositou o bule sobre a mesa e fitou-me.
— Porque — disse ele com grande precisão —, a julgar pela quantidade que você deixou no convés, talvez tenham lhe restado uns quatro agora. Tome mais um pouco de chá. — Ele encheu minha xícara outra vez, colocou o bule sobre a mesa e saiu com passadas largas e pesadas.
— Receio que Jamie esteja um pouco aborrecido comigo — observei melancolicamente para o sr. Willoughby.
— Aborrecido, não — disse ele, procurando me consolar. — Tsei-mi ficar muito apavorado. — O pequeno chinês pousou a mão em meu ombro direito, com a delicadeza de uma borboleta. — Doer muito?
Suspirei.
— Para ser franca, sim, dói.
O sr. Willoughby sorriu e deu uns tapinhas de leve em meu ombro.
— Eu ajudar — disse ele, procurando me tranquilizar. […]
Havia um jarro de água no armário no outro lado da cabine. Senti-me fraca e zonza quando atirei as pernas por cima da borda do beliche e meu braço registrou um forte protesto contra o fato de ser perturbado. Devo ter feito algum barulho, porque a escuridão no assoalho da cabine moveu-se de repente e a voz de Jamie soou sonolenta da região dos meus pés.
— Está sentindo dor, Sassenach?
— Um pouco — eu disse, não querendo ser dramática. Cerrei os lábios e ergui-me nos pés de forma instável, segurando o cotovelo direito com a mão esquerda.
— Ótimo — disse ele.
— Ótimo? — eu disse, minha voz erguendo-se de indignação. Ouviu-se uma risadinha na escuridão e ele se sentou, a cabeça tornando-se visível ao se erguer acima das sombras e entrar no luar.
— Sim, é. Quando um ferimento começa a incomodar, significa que está sarando. Você não sentiu nada quando aconteceu, sentiu?
— Não — admiti. Certamente, eu o sentia agora. O ar estava muito mais fresco no mar aberto e a sensação no meu rosto do vento salgado que entrava pela janela era agradável. Eu estava úmida e pegajosa de suor e a camisola fina grudava-se em meu corpo.
— Eu vi que não sentiu. Foi isso que me assustou. A gente nunca sente um ferimento fatal, Sassenach — disse ele brandamente.
Dei uma pequena risada, mas travei quando o movimento teve um efeito devastador em meu braço.
— E como você sabe disso? — perguntei, tateando com a mão esquerda para colocar água no copo. — Não é o tipo de coisa que se aprende em primeira mão, quero dizer.
— Murtagh me disse.

Para esclarecimentos, Ping An é um pelicano que sr. Willoughby captura e treina. A ave acaba virando um fiel companheiro do chinês. Ajuda que o sr. Willoughby dá a Claire, como na série, é com os pontos, porém antes de costurar nossa viajante, ele utiliza as agulhas de acupuntura para aliviar a dor do braço. Toda a narrativa que envolve esse episódio é muito rica e cheia de detalhes. Se você gostou desses pequenos trechos, leia o livro, pois será uma nova viagem. Ele não desmerece a série, mas aprofunda, e muito, as histórias ali contadas.

E com isso, terminamos o Livro vs Série dessa semana. E você, Sasse, curtiu o episódio? Faria algo diferente? Comente!

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