3ª Temporada,  Série

Livro vs Série – 3×02 – Surrender

Prontas para mais um episódio da nossa retrospectiva? Vamos para o comparativo do segundo episódio da terceira temporada, Surrender. Um episódio cuja história central foi muito fiel ao livro, porém com uma série de pequenas adaptações, as quais vamos analisar agora.

Podemos começar com nosso querido Jamie. Na série, vemos nosso highlander como uma espécie de fantasma do que um dia foi, evidenciando sua depressão. No livro, suas visitas a casa eram mensais e sempre que chegava passava por uma transformação, deixando a isolação e pensamentos sombrios para traz, aproximando de seu lado mais humano para desfrutar daqueles momentos junto a sua família. Em contrapartida, acompanhamos os pensamentos de nosso ruivinho durante parte de sua estadia na caverna, entendo sua situação.

Confira o trecho Jamie chegando em casa para uma de suas visitas:

Ele descia até a casa uma vez por mês para se barbear, quando um dos garotos vinha lhe dizer que era seguro. Sempre à noite, movendo-se silenciosamente como uma raposa pela escuridão. Parecia necessário, de certa forma, um pequeno gesto em favor do conceito de civilização.
Ele deslizava como uma sombra pela porta da cozinha, era recebido pelo sorriso de Ian ou o beijo de sua irmã e sentia a transformação começar. A bacia de água quente estaria preparada e a navalha recém-afiada à sua espera em cima da mesa, com o que houvesse de sabão para se barbear. De vez em quando, era sabonete de verdade, se o primo Jared tivesse mandado algum da França; mas em geral era apenas sebo transformado em sabão rústico, que fazia os olhos arderem com a solução alcalina desinfetante.
Ele podia sentir o começo da transformação com o primeiro cheiro da cozinha — tão forte e aromático, após os cheiros, diluídos pelo vento, de lago, charneca e floresta —, mas era somente depois de terminar o ritual da barba que ele se sentia completamente humano outra vez.
Haviam aprendido a não esperar que ele falasse enquanto não terminasse de se barbear; as palavras brotavam com dificuldade, após um mês de solidão. Não que ele não tivesse nada a dizer; era apenas que as palavras dentro dele formavam uma obstrução em sua garganta, digladiando-se para sair no curto tempo de que ele dispunha. Ele precisava daqueles poucos minutos de meticulosos cuidados pessoais para separar e escolher o que iria dizer primeiro e para quem.
Havia notícias para ouvir e sobre as quais indagar — de patrulhas inglesas na região, de política, de prisões e julgamentos em Londres e Edimburgo. Essas podiam esperar. Era melhor conversar com Ian sobre as terras, com Jenny sobre as crianças. Se lhes parecesse seguro, as crianças eram trazidas de seus quartos para cumprimentar o tio, para lhe dar abraços sonolentos e beijos molhados antes de saírem cambaleando de volta para suas camas.

Outra pequena mudança, no livro, quem mata o corvo que aparece durante o parto de Jenny é Jamie, que anda armado pensando em sua segurança caso encontre ingleses, ainda sendo um soldado, fugitivo e procurado, mas um soldado. Confira:

— O que foi? — Jamie girou nos calcanhares, a mão dirigindo-se automaticamente para a pistola que carregava sempre que deixava a caverna, mas não havia, como ele temera, uma patrulha inglesa no terreiro do estábulo. — O que aconteceu?
Em seguida, olhando na direção apontada pelo Jovem Jamie, ele os viu. Três pontinhos negros sobrevoando o amontoado marrom dos pés de batata mortos no campo.
— Corvos — disse ele devagar, sentindo os cabelos da nuca se eriçarem.
Esses pássaros de guerras e matadouros virem a uma casa durante um nascimento eram a pior espécie de mau agouro. Uma das malditas aves estava na realidade pousando no telhado quando ele olhou.
Sem pensar duas vezes, tirou a pistola da cintura e apoiou o cano sobre o braço, mirando com todo o cuidado. Era um longo tiro, da porta do estábulo à viga da cumeeira, e ainda mirando para cima. Mesmo assim…
A pistola deu um tranco em sua mão e o abutre explodiu numa nuvem de penas pretas. Seus dois companheiros saltaram no ar como se tivessem sido impulsionados pela explosão e bateram em retirada freneticamente, seus gritos roucos desaparecendo rápido no ar de inverno.
— Mon Dieu! — exclamou Fergus. — C’est bien, ça!
— Sim, belo tiro, senhor. — Rabbie, ainda vermelho e com falta de ar, recuperara-se a tempo de ver o tiro. A seguir, fez um sinal com a cabeça, apontando o queixo para a casa. — Veja, senhor, aquela não é a parteira?
Era. A sra. Innes enfiou a cabeça pela janela do segundo andar, os cabelos louros voando, soltos, enquanto ela se inclinava para fora para espiar o terreiro embaixo. Talvez tivesse sido atraída pelo barulho do tiro, temendo algum problema. Jamie saiu para o pátio e acenou para a janela, a fim de tranquilizá-la.
— Está tudo bem — gritou ele. — Só um acidente. — Não quis mencionar os corvos, com receio de que a parteira fosse contar a Jenny.
— Suba! — gritou ela, ignorando suas explicações. — A criança nasceu e sua irmã quer vê-lo!

Ainda no parto, houve uma cena que foi cortada da série, envolvendo o Jovem Jamie. Ao ver sua mãe sendo interrogada pelos soldados ingleses e pensando que seu irmãozinho recém-nascido havia morrido, o menino perde o controle ataca os soldados, partindo em defesa de sua mãe. Tal atitude deixa o capitão dos Dragões consternado. Veja o trecho:

— A criança está morta — disse ela.
A parteira ficou boquiaberta, em estado de choque, mas felizmente a atenção do capitão concentrava-se em Jenny.
— Oh? — disse ele devagar. — Foi…
— Mamãe! — O grito de angústia veio da porta quando o Jovem Jamie libertou-se das mãos de um soldado e lançou-se na direção de sua mãe. — Mamãe, o bebê morreu? Não, não! — Soluçando, caiu de joelhos e enterrou a cabeça nas cobertas da cama. […]
— Foi você! — O Jovem Jamie ficou de pé, o rosto molhado e inchado de lágrimas e ódio, e avançou para o capitão, a cabeça de cachos negros abaixada como a de um carneiro selvagem. — Você matou meu irmão, inglês desgraçado!
O capitão pareceu desconcertado por esse ataque inesperado e chegou mesmo a recuar um passo, pestanejando para o garoto.
— Não, menino, você está enganado. Ora, eu apenas…
— Miserável! Desgraçado! A mhic an diabhoil! — Completamente fora de si, o Jovem Jamie atacava o capitão, gritando todos os palavrões que já ouvira, em gaélico ou inglês.
— Enh — disse o bebê Ian no ouvido do Jamie mais velho. — Enh, enh!
Aquilo soava muito como o ruído preliminar de um grande berreiro e, em pânico, Jamie largou a adaga e enfiou o polegar na abertura macia e úmida de onde saíam os sons. As gengivas desdentadas do bebê agarraram-se ao seu polegar com uma ferocidade que quase o fez soltar um grito.
— Saia daqui! Saia daqui! Saia ou eu vou matá-lo! — O Jovem Jamie gritava para o capitão, o rosto contorcido de raiva. O inglês olhou desamparadamente para a cama, como se pedisse a Jenny para calar aquele inimigo pequeno e implacável, mas ela permaneceu deitada como morta, os olhos fechados.
— Vou esperar pelos meus homens lá embaixo — disse o capitão, com a pouca dignidade que conseguiu reunir, e saiu, fechando a porta apressadamente atrás de si. Privado de seu inimigo, o Jovem Jamie desabou no chão e entregouse a um choro convulsivo.
Pela fresta na porta, Jamie viu a sra. Innes olhar para Jenny, a boca abrindose para fazer uma pergunta. Jenny deu um salto para fora das cobertas como Lázaro, com uma expressão ferozmente ameaçadora, o dedo pressionado sobre os lábios para impor silêncio. O bebê Ian agarrava-se cruelmente ao polegar de Jamie, rosnando diante da sua incapacidade de fornecer qualquer alimento.

Dando continuidade, Fergus perde sua mão em um confronto com soldados ingleses. Porém, no livro, a história é um pouco diferente. Ele estava a caminho da caverna, levando um barril de cerveja para o seu senhor, quando encontrou uma patrulha. Recusando-se a entregar sua carga ou dar qualquer outra informação, entra conflito com os ingleses e acaba perdendo a mão. A história fica conhecida como o salto do barril, virando uma lenda escocesa, e se torna uma das pistas sobre Jamie que Brianna, Roger e Claire encontram no futuro. Outra diferença, Jamie assiste tudo, mas não pode fazer nada. Os próprios soldados socorrem Fergus e levam de volta para a casa. Não há nenhum cabo provocativo como na série. Veja o trecho original:

Um grito atraiu sua atenção de volta ao caminho embaixo e ele quase perdeu o equilíbrio na rocha. Os soldados haviam se reunido em volta de uma figura pequena, curvada sob o peso de um pequeno barril que carregava no ombro. Fergus, subindo com um barril de cerveja recém-produzida. Droga, mil vezes droga. Bem que gostaria de um pouco de cerveja; fazia meses que não bebia nenhuma.
O vento mudara de direção outra vez, de modo que ele só ouvia fragmentos de palavras, mas a figura pequena parecia estar discutindo com o soldado à sua frente, gesticulando violentamente com a mão livre. […]
Você não pode, dizia-lhe, um tênue sussurro sob a fúria e o horror que o dominavam. Ele fez isso por você; não pode tornar sem sentido o que ele fez. Não pode, dizia-lhe, fria como a morte sob a dilacerante onda de fracasso que o inundava. Você não pode fazer nada.
E ele não fez nada, nada além de observar, quando a lâmina completou seu movimento vagaroso e atingiu o alvo com um pequeno barulho, surdo e quase insignificante. O barril disputado caiu e foi rolando pelo declive do riacho, o derradeiro barulho da batida na água perdendo-se no gorgolejar alegre da água marrom bem mais abaixo.
A gritaria cessou repentinamente num silêncio chocado. Ele mal ouviu quando recomeçou; era igual ao ruído em seus ouvidos. Seus joelhos cederam e ele percebeu vagamente que estava prestes a desmaiar. Sua visão escureceu e ficou de um negro-avermelhado, salpicado de estrelas e raios de luz — mas nem mesmo a opressora escuridão foi capaz de esconder a visão derradeira da mão de Fergus, aquela mão pequena, ágil e inteligente de um batedor de carteiras, imóvel na lama da trilha, a palma voltada para cima numa súplica.
Ele esperou quarenta e oito longas e arrastadas horas antes de Rabbie MacNab assoviar no caminho abaixo da caverna.
— Como ele está? — perguntou ele sem preliminares.
— A sra. Jenny diz que ele vai ficar bem — Rabbie respondeu. Seu rosto jovem estava pálido e abatido; obviamente, ele ainda não se recuperara do choque do acidente com seu amigo. — Ela diz que ele não tem febre e não há sinal de inflamação no… — engoliu em seco audivelmente — … no toco.
— Os soldados o levaram para casa, não foi? — Sem esperar resposta, ele já descia a colina.
— Sim, eles ficaram transtornados… eu acho. — Rabbie parou para desprender sua camisa de um galho e teve que correr para alcançar seu patrão.
— Eu acho que eles lamentaram o que aconteceu. Pelo menos, foi o que o capitão disse. E ele deu uma moeda de ouro para a sra. Jenny, por Fergus.
— É mesmo? — disse Jamie. — Muito generosos. — E não voltou a falar até chegarem em casa.

Vamos agora para o futuro. Como comentamos, a história de Claire é contada através de flashbacks, durante os quais vemos que vida de nossa viajante com seu marido não era perfeita, havia dias bons e ruins. Em dado momento, como na série, eles voltam a se entender como marido e mulher. Uma diferença é que eles nunca passaram a dormir em camas separadas como na TV. A cena que os dois se voltam a ficar juntos também é diferente (não estamos falando da cena do toalha, essa foi fiel rs). Tudo acontece após um dia ruim, eles brigam, Claire se refugia na igreja, onde faz Adoração Perpétua, algo que lhe traz paz desde seu tempo no mosteiro na França (finale season 1). Frank a segue, e escuta a esposa pedindo pela alma de Jamie. Eles conversam e fazem as pazes, depois ficam juntos aquela noite.

Confira:

Ela esvaziara apenas um dos seios, mas já estava satisfeita. A boca frouxa foi largando o mamilo devagar, cingida de leite, e a cabecinha ruiva deixou-se afundar pesadamente em meu braço. Nenhuma sacudida delicada ou palavra sussurrada foi capaz de acordá-la para mamar no outro lado. Por fim, desisti e ajeitei-a de novo no berço, batendo de leve em suas costas até que um arroto fraco e satisfeito ergueu-se do travesseiro, seguido da respiração pesada da saciedade absoluta.
— Pronta para passar a noite, não? — Frank puxou o cobertor do bebê, decorado com coelhos amarelos, cobrindo-a.
— Sim. — Recostei-me em minha cadeira de balanço, demasiado cansada física e mentalmente para me levantar outra vez. Frank aproximou-se por trás de mim; pousou a mão de leve sobre meu ombro.
— Ele está morto, então? — perguntou ele delicadamente.
Eu já lhe disse, comecei a dizer. Depois, parei, fechei a boca e apenas assenti com um movimento da cabeça, balançando a cadeira de leve, fitando o berço escuro e seu minúsculo ocupante.
Meu seio direito ainda estava doloridamente inchado de leite. Por mais cansada que eu estivesse, não poderia dormir enquanto não cuidasse disso. Com um suspiro de resignação, peguei a bombinha de sucção, um dispositivo de borracha desajeitado e ridículo. Usá-lo era inconveniente e desconfortável, mas era melhor do que acordar dentro de uma hora com uma dor explosiva, encharcada de leite.
Sacudi a mão para Frank, mandando-o embora.
— Pode ir. Só vou levar uns minutos, mas tenho que…
Em vez de sair ou responder, ele tomou a bombinha da minha mão e colocou-a sobre a mesa. Como se tivesse vontade própria, sem obedecer a ele, sua mão ergueu-se lentamente pelo ar escuro e quente do quarto e envolveu delicadamente a curva inchada do meu seio. Sua cabeça inclinou-se e seus lábios fecharam-se suavemente sobre meu mamilo. Gemi, sentindo a dolorida ferroada do leite correndo pelos minúsculos canais. Coloquei a mão em sua nuca e pressionei-o ligeiramente contra mim.
— Com mais força — murmurei. Sua boca era macia, suave em sua pressão, em nada semelhante à voracidade implacável das gengivas duras e desdentadas do bebê, que se agarram com sofreguidão, ansiosas e exigentes, liberando a fonte generosa imediatamente, em resposta à sua avidez.
Frank ajoelhou-se diante de mim, a boca suplicante. Seria assim que Deus se sentia, imaginei, vendo os adoradores diante Dele — Ele, também, se encheria de ternura e compaixão? A névoa de fadiga me fazia sentir como se tudo acontecesse em câmera lenta, como se estivéssemos submersos em água. As mãos de Frank moviam-se devagar como plantas marinhas, oscilando nas correntes, movendo-se pelo meu corpo com um toque tão suave como o roçar de algas, erguendo-me com a força de uma onda e deitando-me na praia do tapete do quarto. Fechei os olhos e deixei que a maré me levasse.

Vamos ficando por aqui, Sasses. E vocês, gostaram o episódio? Curtiram as adaptações? Comentem!

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