Daily Line: A Bruxa Malvada do Oeste
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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Enquanto me inclinava com o gancho em uma das mãos, eu vi uma figura alta e escura se apressando em direção à frente da casa, com as saias e a capa esvoaçando ao vento.
“Você e também o seu cachorrinho,” eu murmurei e arrisquei uma olhada para a floresta no caso de haver alguns macacos voadores *. Uma rajada de vento entrou pela porta do meu consultório, sacudindo os vidros e folheando as páginas do Manual Merck que eu tinha deixado aberto sobre o balcão. Por sorte, eu havia tomado a precaução de remover a página de direitos autorais…
“O que você disse?” Fanny tinha vindo atrás de mim e estava parada na porta com Bluebell bocejando atrás dela.
“A senhora Cunningham está chegando,” eu disse, deixando as venezianas abertas e fechando os vidros. “Vá até ela e deixe-a entrar, sim? Acomode-a na sala e diga que eu já irei vê-la, talvez ela tenha vindo buscar o pó de olmo escorregadio que eu lhe prometi.”
Para Fanny, a senhora Cunningham era, provavelmente, a própria Bruxa Malvada do Oeste, e a maneira como a convidou para entrar refletia bem isso. Para minha surpresa, eu ouvi a senhora Cunningham recusando-se a esperar na sala e, em poucos segundos, ela estava na porta do consultório, como se tivesse voado como um morcego e tão pálida quanto manteiga fresca.
“Eu preciso de…” mas ela já estava desfalecendo enquanto falava e caiu nos meus braços antes mesmo de dizer “ajuda”.
Fanny prendeu a respiração mas conseguiu segurá-la pela cintura e, juntas, nós a colocamos em cima da mesa. A senhora Cunningham segurava o xale preto bem apertado em uma das mãos de forma desesperadora. Ela o protegera do vendo com tanta força que seus dedos tinham travado e foi um sacrifício fazê-la soltar o xale.
“Caramba”, eu disse, porém com uma certa suavidade ao realizar qual era o problema. “Como você fez isso? Fanny, traga o uísque.”
“Eu caí,” ela respondeu, começando a recuperar o fôlego. “Tropecei no balde, como uma perfeita tola.” Seu ombro direito estava seriamente deslocado, o úmero estava curvado e o cotovelo alojado entre as costelas, deformidade que contribuía muito para a sua aparência de bruxa.
“Não se preocupe,” eu disse enquanto tentava encontrar uma maneira de soltar seu corpete para que pudesse reduzir o deslocamento sem rasgar o tecido. “Eu posso consertar isso.”
“Eu não teria me arrastado através dos arbustos por três quilômetros ladeira abaixo se não achasse que poderia,” ela replicou, sentindo o calor da sala começando a revivê-la. Eu ri, peguei a garrafa das mãos da Fanny, tirei a rolha e a ofereci à Eslpeth, que a levou aos lábios e deu vários goles profundos, fazendo uma pausa para tossir entre um gole e outro.
“O seu marido … conhece bem … o seu ofício,” ela disse com a voz rouca, devolvendo a garrafa para Fanny.
“Muitos deles,” concordei. Eu consegui soltar o corpete mas não consegui liberar a alça das barbatanas e decidi cortá-la com um golpe Damocleciano do meu bisturi. “Segure-a com força na altura do peito, Fanny, por favor.”
Elspeth Cunningham sabia exatamente o que eu estava tentando fazer e, rangendo os dentes, deliberadamente relaxou os músculos o máximo que podia, o que não era muito sob tais circunstâncias, mas qualquer coisa já ajudava. Imaginei que ela já tinha visto aquilo sendo feito nos navios de Sua Majestade e que aquela teria sido a fonte da linguagem que usava enquanto eu colocava o úmero no ângulo certo. Fanny riu muito com “filho de uma p… arrombada!” quando eu girei o braço e a cabeça do úmero voltou ao lugar certo.
“Já faz tempo que não ouço esse tipo de linguagem,” disse Fanny, com os lábios trêmulos.
“Quando você precisa lidar com marinheiros, minha jovem, você aprende tanto as suas virtudes quanto os seus vícios.” O rosto de Eslpeth ainda estava pálido e brilhava como osso polido sob a camada de suor, mas a sua voz estava firme e sua respiração voltando ao normal. “E, onde, se me permite a pergunta, você ouviu esse tipo de linguagem?”
Fanny olhou para mim, eu assenti e ela disse simplesmente: “Eu morei em um bordel por algum tempo, senhora.”
“É verdade.” A sra. Cunningham levou o punho para longe de mim e sentou-se, ainda instável, mas apoiando-se com a mão boa sobre a mesa. “Eu imagino que prostitutas também devam ter virtudes e vícios.”
“Eu não sei nada sobre virtudes,” disse Fanny, meio indecisa. A menos que considere a habilidade para ordenhar um homem em dois minutos, contados no relógio.”
Eu mesma tomei um gole do uísque e me engasguei com ele.
“Acredito que isso seria classificado como uma habilidade, e não uma virtude,” a sra. Cunningham disse a Fanny. “Embora seja uma habilidade bem valiosa, eu diria.”
“Bem, todos nós temos nossos pontos fortes,” eu disse em uma tentativa para mudar o rumo da conversa antes que Fanny dissesse mais alguma coisa. Meu relacionamento com Elspeth Cunningham havia se fortalecido depois da morte de [X], mas apenas até certo ponto. Nós nos respeitávamos, mas não chegamos a ser amigas, devido à percepção mútua, mas não reconhecida, de que em algum momento a realidade política poderia obrigar meu marido e seu filho a tentar se matar.
N. do T.* Flying monkeys ou macacos voadores, em português, aparecem na obra O Mágico de Oz como agentes da Bruxa Malvada do Oeste para cometer as mais terríveis malvadezas contra Dorothy.
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 15/11/2019
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