2ª temporada,  Série

Livro vs Série – 2×11 – Vengeance Is Mine

E como tempo passa rápido, não é mesmo, Sassenachs? Entramos na reta final da segunda temporada, e com um episódio escrito por ninguém menos que Diana Gabaldon. ‘Então o episódio foi extremamente fiel, se foi a autora que o escreveu!’… Não exatamente, o conteúdo ali apresentado foi fiel, porém houve mudanças da história original sim, alguns cortes e adaptações para a narrativa ter sentido e fluir bem na TV. Vamos começar nosso comparativo apontando as principais mudanças.

Algo que já tínhamos apontado é a ordem dos fatores. A trama que envolve o Duque de Sandringham é uma das últimas narrativas do livro e divide uma outra história ao meio (vamos falar melhor sobre isso no próximo episódio hehe). Após Prestonpans, outras conquistas são mencionadas, e depois nossos revolucionários ficam sediados em Edimburgo, é lá que eles reencontram os MacKenzie, e também é nessa altura da história nosso casal é enviado para recrutar os homens de Lord Lovat, retornando com a nova adição para Edimburgo. Depois de um tempo ali, temos uma nova batalha, que é o cenário que encontramos nosso episódio.

É em meio a batalha de Falkirk que os homens de Dougal e Jamie são separados do restante do exército e ficam presos na igreja, e não uma emboscada durante uma missão como na série. A história foi resumida para dar sentido a narrativa. Originalmente, Claire, buscando abrigo, entra na igreja e coloca-se a ajudar os homens feridos, dentre eles Rupert. No entanto, o ferimento do tenente de Dougal foi fatal no livro, e cabe a seu líder dar um fim ao seu sofrimento. Jamie também está presente, indo encontrar a esposa no santuário. Na série, a perda foi no episódio anterior, com Angus. Confira um trecho da igreja:

A bala atingira-o em um dos pulmões, pelo menos, provavelmente ambos, e seu peito enchia-se de sangue. Ele poderia durar algumas horas nestas condições, talvez um dia se um dos pulmões continuasse em funcionamento. Se o pericárdio tivesse sido perfurado, ele morreria mais rápido. Entretanto, somente a cirurgia de um tipo que eu não tinha como fazer poderia salvá-lo.
Senti uma presença cálida às minhas costas e ouvi uma respiração normal quando alguém veio tateando até chegar perto de mim. Estendi o braço para trás e senti minha mão ser agarrada com força. Dougal MacKenzie.
Continuou avançando até posicionar-se a meu lado e colocou a mão no corpo inerte de Rupert.
— Como está, companheiro? — perguntou ele à meia-voz. — Consegue caminhar? — Minha outra mão ainda estando sobre Rupert, pude sentir sua cabeça balançar em resposta à pergunta de Dougal. Os homens atrás de nós na igreja começaram a falar em sussurros entre si.
A mão de Dougal pressionou meu ombro.
— Do que precisa para ajudá-lo? Sua caixa? Está no cavalo? — Ele já havia se levantado antes que eu pudesse lhe dizer que não havia nada na caixa que pudesse ajudar Rupert.
[…]
Senti a mão de Dougal no meu cotovelo e sentei-me sobre os calcanhares, virando-me para fitá-lo. Eu o fitara assim uma vez, sobre o corpo de um homem mortalmente ferido por um javali. Ele me perguntara na ocasião: “Ele vai sobreviver?”, e vi a lembrança desse dia cruzar seu rosto. A mesma pergunta estampava-se em seus olhos novamente, mas desta vez em olhos vidrados de medo pela minha resposta. Rupert era seu melhor amigo, o parente que cavalgara e lutara ao seu lado direito, como Ian fizera por Jamie.
Desta vez eu não respondi; Rupert o fez por mim.
— Dougal — disse ele, sorrindo quando seu amigo inclinou-se ansiosamente sobre ele.
Ele cerrou os olhos por um instante e respirou o mais profundo que pôde, reunindo forças para o momento. — Dougal — repetiu ele, abrindo os olhos. — Não lamente por mim, companheiro.
O rosto de Dougal contorceu-se à luz da tocha. Pude ver a negação da morte aflorar aos seus lábios, mas ele a conteve e a afastou.
— Sou seu chefe, amigo — disse ele, com um sorriso trêmulo. — Não pode me dar ordens; vou lamentar sua perda, sim. — Agarrou a mão de Rupert, inerte sobre o peito, e ficou segurando-a com força.
Ouviu-se uma risadinha fraca e chiada de Rupert e outro acesso de tosse.
— Bem, chore por mim se assim você quiser, Dougal — disse ele, ao terminar. — E fico contente por isso. Mas não pode sentir pesar por mim enquanto eu estiver vivo, não é? Quero morrer em suas mãos, mo caraidh, não na mão de estranhos.
Dougal deu um solavanco, e Jamie e eu trocamos olhares horrorizados pelas suas costas.
— Rupert… — começou Dougal, com voz desamparada, mas Rupert interrompeu-o, agarrando sua mão e sacudindo-a delicadamente.
— Você é meu chefe, companheiro, é seu dever — sussurrou ele. — Vamos. Faça-o agora. Estou sofrendo, Dougal, e gostaria de acabar com isso. — Seus olhos moveram-se nervosamente, pousando em mim.
— Pode segurar minha mão enquanto eu parto, dona? — perguntou ele. — Eu gostaria muito.
Não parecia haver mais nada a fazer. Movendo-me devagar, sentindo como se tudo aquilo fizesse parte de um sonho, tomei a mão grande de pelos negros entre as minhas, pressionando-a como se eu pudesse transmitir meu calor à carne cada vez mais fria.
Com um grunhido, Rupert ergueu-se ligeiramente sobre um dos lados e ergueu os olhos para Jamie, sentado junto à sua cabeça.
— Ela devia ter se casado comigo, rapaz, quando teve escolha — disse com a respiração ruidosa. — Você é um palerma, mas faça o melhor que puder. — Um dos olhos se fechou numa piscadela significativa. — Dê-lhe uma boa vida por mim, rapaz.
Os olhos negros giraram de volta para mim e um sorriso final se propagou pelo seu rosto.
— Adeus, bela moça — disse ele à meia-voz.
A adaga de Dougal pegou-o sob o esterno, direta e com firmeza. O volumoso corpo sacudiu-se com um espasmo, virando-se de lado com uma golfada de ar e sangue, mas o breve som de agonia veio de Dougal.
O chefe do clã MacKenzie permaneceu paralisado por um instante, os olhos fechados, as mãos cerradas em torno do cabo da adaga. Em seguida, Jamie levantou-se, segurou-o pelos ombros e afastou-o dali, murmurando alguma coisa em gaélico. Jamie olhou para mim, eu assenti e estendi os braços. Ele conduziu Dougal delicadamente até mim e eu o tomei em meus braços, enquanto nós dois nos prostrávamos no chão, abraçando-o enquanto ele chorava.

Dali por diante, seguimos como na série, ingleses intervindo, Claire se colocando de refém para que os homens a troquem por sua liberdade, sendo enviada dali para casa do duque de Sandringham (no livro também temos um desvio de caminho e nossa viajante preocupada em como avisar Jamie). Uma vez na casa do duque, ela reencontra Mary, que tinha visto por último na verdade em Edimburgo (cenas do próximo capítulo). É aqui, numa conversa sincera com o duque, que Claire descobre que sua excelência esteve por trás dos ataques que aconteceram em Paris, e que ele era um dos grandes apoiadores do príncipe, o misterioso S, que no livro só foi relevado aqui. Todas as maquinações são suas ideias, tendo em vista seus interesses, e não envolvem mais ninguém. É só aqui que vemos Sandringham como um verdadeiro vilão, algo que não transparecia no livro como foi na série. Confira a conversa entre o duque e Claire:

— Muito bem — disse ele, com tanta firmeza quanto possível para um homem que soava como o Mickey Mouse. — Deixe-me começar, sra. Fraser… posso chamá-la assim? Obrigado. Deixe-me começar dizendo que eu já sei muito a seu respeito. Pretendo saber mais. Fará bem em me responder de maneira completa e sem hesitações. Devo dizer, sra. Fraser, que é uma pessoa surpreendentemente difícil de matar — inclinou-se um pouco em minha direção, o sorriso ainda nos lábios —, mas tenho certeza de que isso poderá ser feito, desde que se tenha suficiente determinação.
Encarei-o, sem me mexer; não por algum sangue-frio inato, mas por simples estupefação. Adotando outro dos maneirismos de Louise, ergui as duas sobrancelhas inquisitivamente, bebi um pequeno gole do chá, depois sequei meus lábios delicadamente com o guardanapo bordado com um monograma.
— Receio que me ache estúpida, Excelência — disse educadamente —, mas não faço a menor ideia do que está dizendo.
— Não mesmo, minha cara?
Os olhos azuis, pequenos e alegres, não piscaram. Estendeu a mão para a sineta de prata sobre a bandeja e tocou-a uma única vez.
O homem devia estar esperando no aposento ao lado pela convocação, pois a porta abriuse quase imediatamente. Um sujeito magro e alto, com as vestimentas escuras e a camisa de linho de boa qualidade de um criado de alto escalão, aproximou-se do duque e fez uma profunda reverência.
— Excelência? — Ele falava inglês, mas o sotaque francês era inconfundível. O rosto era francês, também; nariz longo e branco, com lábios finos e cerrados e um par de orelhas que se destacavam de sua cabeça como uma pequena asa de cada lado, as pontas fragorosamente vermelhas. O rosto delgado ficou ainda mais pálido quando ele ergueu os olhos e me viu. Instintivamente, deu um passo para trás.
Sandringham observou-o com uma carranca de irritação, depois voltou sua atenção para mim.
— Não o reconhece? — perguntou ele.
Eu estava começando a balançar a cabeça quando a mão direita do sujeito contorceu-se de repente contra o tecido de suas calças. O mais discretamente possível, ele fazia o sinal de chifres, os dedos médio e anular dobrados, o indicador e o dedo mínimo apontados para mim. Compreendi, então, e no instante seguinte tive a confirmação do que já sabia — um pequeno sinal, uma pinta falsa usada para embelezamento, acima da forquilha do polegar.
Não tive a menor dúvida; era o homem da camisa de manchas escuras que atacara a mim e a Mary em Paris. E obviamente a mando do duque.
— Seu miserável filho da mãe! — exclamei. Levantei-me num salto, virando a mesinha de chá, e agarrei o objeto mais próximo, um jarro de tabaco de alabastro esculpido. Arremesseio na cabeça do sujeito, que se virou e fugiu precipitadamente, o pesado jarro errando o alvo por apenas alguns centímetros e indo espatifar-se contra o batente da porta.
A porta bateu quando comecei a correr atrás do sujeito e eu parei bruscamente, arfando. Olhei furiosa para Sandringham, as mãos nos quadris.
— Quem é ele? — perguntei.
— Meu camareiro — disse o duque calmamente. — Seu nome é Albert Danton. Um bom sujeito ao lidar com echarpes e meias, mas um pouco excitável, como são tantos franceses. Incrivelmente supersticioso, também. — Franziu o cenho e olhou com ar de desaprovação para a porta fechada. — Malditos papistas, com todos esses santos e incensos e coisas semelhantes. Acreditam em qualquer coisa.
Minha respiração abrandou-se, embora meu coração ainda martelasse contra as barbatanas do meu espartilho. Tive dificuldade para respirar fundo.
— Seu imundo, nojento, desgraçado… pervertido!
O duque pareceu entediado com minha reação e meneou a cabeça negligentemente.
— Sim, sim, minha cara. Tudo isso, tenho certeza, e mais ainda. Um pouco azarado também, ao menos naquela ocasião.
— Azarado? É assim que chama a isso? — Tropegamente, voltei para o canapé e senteime. Minhas mãos tremiam de nervoso e eu as entrelacei no colo, escondendo-as sob as pregas da minha saia.
— Por diversos motivos, minha cara senhora. Veja bem. — Espalmou as mãos em sinal de súplica. — Enviei Danton para dar cabo de você. Ele e seus companheiros resolveram se divertir um pouco primeiro; até aí, tudo bem, mas no processo eles a olharam com mais atenção, saltaram inexplicavelmente à conclusão de que você era algum tipo de bruxa, perderam completamente a cabeça e fugiram. Porém, não antes de deflorar minha afilhada, que estava presente por acaso, assim arruinando todas as chances de um excelente casamento que eu tive muito trabalho em arranjar para ela. Considere a ironia da situação!
Os choques vinham avassaladores e rápidos e eu nem conseguia saber a qual reagir primeiro. No entanto, havia uma declaração particularmente surpreendente naquele discurso.
— O que quer dizer com “dar cabo de mim”? — perguntei. — Está querendo dizer que você tentou mesmo me matar? — O aposento pareceu oscilar um pouco e tomei um grande gole de chá como se fosse um tônico fortificante. Não foi muito eficaz.
— Bem, sim — disse Sandringham afavelmente. — Era isso que eu estava tentando dizer. Diga-me, minha cara, gostaria de tomar um pouco de xerez?
Fitei-o com os olhos semicerrados por um instante. Tendo acabado de afirmar que ele tentara mandar me matar, ele agora esperava que eu aceitasse um copo de xerez de suas mãos?
— Conhaque — disse. — Muito conhaque.
Ele deu uma risadinha naquele tom estridente outra vez e dirigiu-se ao bufete, observando por cima do ombro.
[…]

— Por que quis me matar? — perguntei bruscamente, virando-me para encará-lo. Passei os olhos brevemente pela coleção de objetos em uma mesinha redonda, à cata de uma boa arma de defesa, para o caso de ele ainda nutrir tais sentimentos.
Não parecia. Em vez disso, inclinou-se com grande esforço e pegou o bule de chá — milagrosamente intacto —, colocando-o de novo em pé sobre a mesinha de chá agora restabelecida à sua posição original.
— Pareceu-me vantajoso na época — disse ele calmamente. — Eu soubera que você e seu marido estavam tentando frustrar um negócio particular no qual eu mesmo estava interessado. Pensei em eliminar seu marido, mas pareceu-me perigoso demais, considerando-se seu parentesco próximo a duas das maiores famílias da Escócia.
— Considerou eliminá-lo? — Uma luz acendeu-se em minha mente, uma das muitas que espocavam em meu crânio como fogos de artifício. — Foi você quem enviou dois marinheiros que atacaram Jamie em Paris?
O duque meneou a cabeça, confirmando.
— Pareceu-me o método mais simples, ainda que um pouco grosseiro. Por outro lado, Dougal MacKenzie apareceu em Paris e eu me perguntei se na verdade seu marido não estaria trabalhando a favor dos Stuart. Fiquei sem saber de que lado ele estava.
O que eu me perguntava era exatamente de que lado o duque estava. Esse estranho discurso fazia parecer que ele na verdade era um jacobita secreto — e se assim fosse, havia conseguido fazer um trabalho de mestre em guardar seus segredos.
— Depois — continuou ele, delicadamente colocando a tampa no bule outra vez —, havia sua crescente amizade com Louis da França. Mesmo que seu marido fracassasse com os banqueiros, Louis poderia fornecer a Charles Stuart o que ele precisasse, desde que você mantivesse seu lindo nariz fora disso.
Franziu a testa para o pãozinho que segurava, removeu com um peteleco uns fiapos de sua superfície, em seguida concluiu que era melhor não comê-lo e atirou-o de volta na mesinha.
— Quando ficou claro o que estava realmente acontecendo, tentei atrair seu marido de volta à Escócia com a oferta de um perdão. Tal solução provou-se muito cara. E tudo para nada, outra vez! Mas então me lembrei da aparente devoção de seu marido por você… muito tocante — disse ele, com um sorriso benevolente que eu particularmente detestava. — Imaginei que sua morte trágica poderia muito bem distraí-lo do esforço no qual estava engajado, sem provocar o tipo de interesse que seu próprio assassinato teria envolvido.
Lembrando-me de algo, virei-me para olhar para a espineta no canto da sala. Várias folhas de partituras adornavam o suporte, escritas numa caligrafia elegante e clara. Cinquenta mil libras, na ocasião em que Sua Alteza colocar o pé na Escócia. Assinado S. “S”, é claro, de Sandringham. O duque riu, aparentemente encantado.
— Isso foi muito inteligente de sua parte, minha cara. Deve ter sido você; eu tinha ouvido falar da infeliz incapacidade de seu marido com música.
— Na verdade, não foi — retruquei, afastando-me do piano. A mesa ao meu lado não ostentava nada útil como abridores de cartas ou objetos rombudos, mas apoderei-me apressadamente de um vaso e enterrei o rosto no aglomerado de flores de estufa que ele continha. Fechei os olhos, sentindo o roçar das pétalas frias contra minhas faces repentinamente quentes. Não ousava levantar os olhos, por medo de que meu rosto revelador me entregasse.
Porque, atrás do ombro do duque, eu vira um objeto redondo, curtido como couro, no formato de uma abóbora, emoldurado pelas cortinas de veludo verde como um dos exóticos objetos de arte do duque. Abri os olhos, espreitando cautelosamente por entre as pétalas, e a boca larga, de dentes quebrados, abriu-se num riso como uma lanterna de abóbora do Dia das Bruxas. […]
O duque olhava-me com interesse.
— É mesmo? Não Gerstmann, sem dúvida. Eu não imaginaria que ele tivesse uma mente suficientemente tortuosa.
— E acha que eu tenho? Estou lisonjeada. — Mantive o nariz nas flores, falando distraidamente para o centro de uma peônia. […]
— Então você é um jacobita? — perguntei.
— Não necessariamente — respondeu o duque, animado. — A pergunta é, minha cara: você é? — Completamente à vontade, tirou a peruca e coçou a cabeça loura e meio calva antes de colocá-la de novo.
— Você tentou frustrar o esforço de restituir o rei James ao poder quando estava em Paris. Tendo fracassado, você e seu marido parecem agora ser os mais leais partidários de Sua Alteza. Por quê? — Os pequenos olhos azuis não demonstravam mais do que um ligeiro interesse, mas não foi um ligeiro interesse que fez com que tentasse mandar me matar.
Desde que descobrira quem era meu anfitrião, eu tentava com todas as forças lembrarme do que Frank e o reverendo Wakefield haviam falado a respeito dele. Seria realmente um jacobita? Até onde eu conseguia me lembrar, o veredito da história — nas pessoas de Frank e do reverendo — era inconcludente. O meu também.
— Acho que não vou lhe contar — disse, devagar.
Com uma sobrancelha loura arqueada bem alta, o duque pegou uma pequena caixa esmaltada do bolso e retirou uma pitada do conteúdo.
— Tem certeza de que essa é uma decisão sábia, minha cara? Danton ainda está ao alcance da voz, sabe.
— Danton não me tocaria nem com uma vara de três metros — disse asperamente. — Aliás, nem você. Não — acrescentei apressadamente, vendo sua boca se abrir — pela mesma razão. Mas se você quer tanto saber de que lado estou, não vai me matar antes de descobrir, não é?
O duque engasgou-se com sua pitada de rapé e tossiu estrondosamente, batendo no peito de seu colete bordado. Levantei-me e fitei-o friamente de cima a baixo enquanto ele espirrava e lançava perdigotos.
— Está tentando me assustar para me fazer falar e contar-lhe o que sei, mas não vai funcionar — disse, com muito mais confiança do que realmente sentia.
Sandringham enxugou delicadamente os olhos lacrimejantes com um lenço. Por fim, inspirou fundo e expirou por entre os lábios carnudos, franzidos, enquanto olhava-me, furioso.
— Muito bem, então — disse ele, com muita calma. — Imagino que meus criados a essa altura já tenham terminado de preparar os seus aposentos. Vou mandar vir uma criada para levá-la ao seu quarto.
Devo ter olhado para ele com um ar pasmo e estúpido, porque ele sorriu desdenhosamente enquanto levantava-se com esforço.
— De certa forma, sabe, não importa — disse ele. — O que quer que você seja ou qualquer informação que possa ter, você possui um atributo de valor incalculável como hóspede da casa.
— E qual é? — perguntei. Ele parou, a mão na sineta, e sorriu.
— Você é a mulher de Jamie, o Ruivo — disse ele serenamente. — E ele gosta de você de verdade, minha cara, não é?

Por fim, uma diferença feliz que nossa querida DG optou por fazer foi poupar Hugh Munro. Tanto na série, quanto no livro, nosso pequeno mendigo é de grande auxílio apontando a direção correta para Jamie, a diferença é que, no livro, ele é capturado explorando a propriedade e enforcado. Jamie leva o corpo do amigo para sua esposa e enteados. Nós também não vemos a morte do duque. Descobrimos o que lhe aconteceu na casa da viúva Munro, onde Murtagh entrega a cabeça de Sandringham como vingança pelo o que ele fez contra as três mulheres (Claire, Mary e a sra. Munroe). Confira um breve trecho sobre isso:

— Não era um mendigo — disse. — Ou melhor, era um mendigo, mas era também um amigo. Ele estava indo ao encontro de Jamie para dizer-lhe que eu estava aqui. Sabe o que aconteceu depois que os guardas o levaram?
Mary virou-se bruscamente para mim, o rosto uma mancha pálida sob as sombras das cortinas da cama. Mesmo nessa luz fraca, pude ver que os olhos escuros arregalaram-se.
— Ah, Claire! Sinto muito!
— Bem, eu também — disse, com impaciência. — Mas sabe onde está o mendigo? — Se Hugh tivesse sido preso em algum lugar acessível, como os estábulos, havia uma pequena chance de Mary facilitar sua fuga de algum modo pela manhã.
O tremor de seus lábios, fazendo sua gagueira normal parecer compreensível em comparação, devia ter me alertado. Mas as palavras, uma vez que ela as pronunciou, trespassaram meu coração, afiadas e repentinas como uma adaga arremessada.
— E-eles o en-en-forcaram — disse ela. — No p-portão do p-parque.
[…]
Murtagh colocou o alforje no chão, aos meus pés, depois se aprumou e olhou de mim para Mary, para a viúva de Hugh Munro e finalmente para Jamie, que parecia tão intrigado quanto eu. Tendo dessa forma se assegurado da atenção de sua plateia, Murtagh inclinou-se numa mesura formal para mim, uma mecha de cabelos escuros e molhados caindo livremente sobre sua testa.
— Trago-lhe sua vingança, senhora — disse ele, de uma forma tão serena como eu nunca o ouvira falar. Endireitou-se e inclinou a cabeça para Mary e para a sra. Munro. — E justiça pelo mal que lhes causou.
Mary espirrou e limpou o nariz apressadamente com uma dobra de seu xale. Olhava fixamente para Murtagh, os olhos arregalados e atônitos. Abaixei o olhar para o alforje bojudo, sentindo um calafrio profundo e repentino, que nada tinha a ver com o tempo lá fora. Mas foi a viúva de Hugh Munro quem caiu de joelhos e, com mãos firmes, abriu a sacola e retirou de dentro a cabeça do duque de Sandringham.

Como pudemos observar mudanças sempre ocorrem, sendo necessárias para adequar a narrativa e trazer sentido a história, mesmo quando é a própria autora escrevendo. Hehe.

Com isso terminamos nosso livro vs série dessa semana. E você Sasse, o que achou do episódio? Sabia que tinha sigo escrito pela Diana? Gostou da adaptação? Comente!

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