Livro vs Série – 4×12 – Providence
Guenta coração que chegamos ao penúltimo episódio da temporada, e que episódio senhoras e senhores, fortes emoções. Adaptações ocorram, como sempre. Vamos ao nosso papo semanal sobre as principais mudanças narrativas. Para facilitar entendimento, vamos dividir o texto em dois blocos, Bree e Roger.
A narrativa de Brianna foi bem fiel ao livro incluindo, os diálogos. As adaptações ocorreram no local da prisão, no livro foi em Cross Creek, que é a cidade em que fica River Run, e na sequência de fuga da cadeia. Na série, após confrontar Bonnet, Bree encontra Fergus e companhia resgatando Murtagh. Da confusão, todos escapam ilesos. No livro, apenas Bonnet está preso, o plano de resgate é para ele, feito por um sargento corrupto. A prisão na realidade é um depósito no cais. A intenção do sargento é nocautear Brianna e a deixar junto John Grey, já inconsciente, para morrer na explosão. Se dando conta da situação, Bree age por instinto tomando a arma do sargento e nocauteando-o no lugar (lembrando que a Brianna do livro tem 1,80m de altura). Dali Bonnet explica o que está acontecendo sobre a mira da arma, e tenta convencer a Bree a sair dali o mais rápido possível, mas ela o obriga a salvar Lord John antes. Após saírem, ele deixa uma joia com ela, para criar o filho (como na série), e foge. Veja a um trecho resumido da fuga:
“— Você o matou — ela sussurrou. Seus lábios estavam entorpecidos do choque e um terror mais profundo do que a náusea penetrou-a até os ossos. — Oh, meu Deus, você o matou.
— Matou quem? — Bonnet levantou a lanterna, espreitando os cabelos louros espalhados, manchados de sangue. — Quem é ele?
— Um intrometido — Murchison retrucou. — Depressa, homem!
Não há tempo a perder. Já cuidei de Hodgepile e os estopins estão acesos……
— Espere! Bonnet olhou do sargento para Brianna, franzindo o cenho.
— Não há tempo, eu já disse. — O sargento ergueu a arma e verificou o carregamento. — Não se preocupe, ninguém os achará.
Brianna pôde sentir o cheiro de enxofre da pólvora no mosquete. O sargento encaixou a coronha da arma no ombro e virou-se para ela, mas o local era muito apertado; com sua barriga no caminho, não havia espaço para levantar o longo cano da arma. O sargento grunhiu de irritação, virou a arma e ergueu-a no alto, para golpear Brianna com a coronha.
Sua mão já estava em volta do cano antes que ela se desse conta de que erguera o braço para agarrar a arma. Tudo parecia estar se movendo muito lentamente, Murchison e Bonnet, ambos parados, paralisados. Ela própria se sentia completamente distante, como se estivesse no canto, observando.
Ela arrancou o mosquete das mãos de Murchison como se fosse uma vassoura, girou-o no alto e abateu-o com toda força. O tranco repercutiu pelos seus braços, pelo seu corpo, como se alguém tivesse acionado um interruptor e enviado uma corrente elétrica através dele. […]
— O que disse? Um lampejo de impaciência atravessou seu rosto.
— Eu disse que não temos nenhum tempo a perder! Você não ouviu os sujeitos dizer que os estopins estão acesos?
— Que estopins? Por quê? — Ela viu os olhos dele saltarem rapidamente para a porta atrás dela. Antes que ele pudesse se mover, ela deu um passo para trás entrando no vão da porta e erguendo o cano da arma. Ele recuou, afastando-se dela instintivamente, batendo as costas das pernas no banco de madeira. Ele caiu para trás e bateu nas correntes presas à parede; algemas vazias tilintaram contra os tijolos. […]
— O armazém está repleto de pólvora e estopins — ele disse, alando depressa e enfaticamente, ansioso para acabar com aquilo. — Não sei quanto tempo vai levar, mas vai pelos ares com uma enorme explosão. Pelo amor de Deus, deixe-me sair daqui! […]
Ela podia ouvir seus passos se afastando, rápidos e ressoando nos tijolos.
Com o corpo inteiro tremendo do choque da ação e reação, ficou paralisada por um instante, fitando o corpo de John Grey. Uma profunda tristeza dilacerou-a e seu útero contraiu-se com força. Não havia dor, mas cada fibra havia se contraído. Seu ventre esticou-se como se ela tivesse engolido uma bola de basquete. Sentiu falta de ar, não conseguia se mover.
Virou-se bruscamente na direção das escadas, mas não — os passos vinham do outro lado, de trás dela.
Girou e deparou-se com a figura de Stephen Bonnet assomando da escuridão.
— Corra! — ele gritou para ela. — Pelo amor de Deus, por que não foi embora daqui? […]
— Eu não vou sem ele. — Umedeceu os lábios secos, indicando o corpo no chão.
— O sujeito está morto!
— Não está! Pegue-o!
Uma extraordinária mistura de emoções atravessou o rosto de Bonnet; fúria e perplexidade sobressaindo-se entre elas.
— Pegue-o! — ela repetiu ferozmente. Ele ficou parado, fitando-a.
Em seguida, bem devagar, agachou-se e, pegando o corpo inerte de John Grey nos braços, colocou a ponta do ombro no abdômen de Grey e levantou-o.
— Vamos, então — ele disse, e sem olhar novamente para ela, começou a desaparecer na escuridão. Ela hesitou por um segundo, depois pegou a lanterna e o seguiu. […]
Teve que parar por um instante; Bonnet desaparecera no nevoeiro à frente. No entanto, ele certamente notara a diminuição da luz da lanterna — ouviu-o berrar, de algum lugar adiante.
— Mulher! Brianna!
— Estou indo! — gritou, apressando-se o mais que podia, bamboleando grotescamente, descartando qualquer pretensão de graciosidade. A fumaça estava muito mais densa e ela podia ouvir um leve estalido, em algum lugar ao longe — em cima? A frente deles?
Ela respirava pesadamente, apesar da fumaça. Sorveu um gole entre-cortado de ar e sentiu o cheiro de água. Umidade e lama, folhas mortas e ar fresco, cortando a escuridão enfumaçada como uma faca. […]
Sentiu a mão de alguém em seu ombro, virou a cabeça bruscamente e olhou para cima, para o rosto de Bonnet.
— Tenho um navio à minha espera — ele disse. — Um pouco acima no rio. Quer vir comigo?
Ela sacudiu a cabeça. Ainda segurava a arma, mas não precisava mais dela. Ele não era nenhuma ameaça para ela.
Ainda assim, ele não foi embora, mas demorou-se, fitando-a, uma pequena ruga entre as sobrancelhas. Seu rosto estava magro, abatido e sombreado pelo fogo distante. A superfície do rio estava em chamas agora, pequenas línguas de fogo tremeluzindo da água escura, conforme uma mancha de terebintina se espalhava.
— É verdade? — ele perguntou abruptamente. Não pediu permissão, mas colocou as mãos em sua barriga. Ela retesou-se sob seu toque, iniciando mais uma de suas dolorosas e ofegantes contrações, e um olhar de perplexidade atravessou seu rosto.
Ela afastou-se bruscamente do toque de suas mãos, fechando a capa sobre o corpo, e balançou a cabeça, sem poder falar.
Ele segurou seu queixo e espreitou seu rosto — avaliando se ela estava dizendo a verdade, talvez? Em seguida, soltou-a, enfiou o dedo dentro da boca, tateando dentro dos recessos de sua bochecha.
Segurou sua mão e colocou alguma coisa molhada e dura em sua palma.
— Para o sustento dele, então — ele disse, rindo para ela. — Cuide bem dele, querida.
E então desapareceu, galgando a margem do rio em grandes passadas, sua figura cortada em silhueta como a de um demônio na luz bruxuleante. A terebintina que fluía para dentro do rio pegou fogo e ondas encrespadas de luz vermelha lançavam-se no ar, pilastras flutuantes de fogo que iluminavam a margem do rio como se fosse dia.
Ela ergueu o mosquete, o dedo no gatilho. Ele não estava a mais de vinte metros de distância, um tiro perfeito. Não pelas suas mãos.
Abaixou a arma e o deixou partir.”
A adaptação aqui se justifica para dar sentido a narrativa da série, incluindo o núcleo de Wilmington, com Fergus, Marsali e Murtagh. Um dos principais objetivos da narrativa ocorreu, que era Brianna confrontar seu agressor. As demais sequências foram aproveitadas de forma diferente. Vale destacar também que, seguindo a história da série, agora teremos Fergus e Marsali em Fraser’s Ridge. 🙂
Indo para o norte agora, chegamos Shadow Lake, onde Roger continua contando os dias de seu cativeiro, e sofrendo para se adaptar a sua nova vida. Logo os índios o colocam de “castigo” por não estar se adaptando. Ali ele conhece o padre jesuíta, que se torna um amigo, e os dois trocam confidências. Roger tem a chance de escapar mas volta para acabar com o sofrimento do amigo, e vemos um momento muito triste de dor e sacrifício do episódio. No livro, os acontecimentos são um pouco diferentes, assim como a timeline. Vamos por partes. Roger já está no vilarejo há três meses quando conhece o padre jesuíta, está adaptado a seu serviço de escravo da casa, por assim dizer, e até entende um pouco dialeto local. Veja um trecho sobre a vida do Roger no vilarejo:
“Ele já estava na aldeia moicana há quase três meses, pelo que podia apreender dos nós de sua linha. No começo, não sabia quem eram eles; apenas que se tratava de um tipo de índios diferente de seus captores — e que seus captores tinham medo deles. […]
Após sua recepção, os moicanos tratavam-no com indiferença geral, mas sem grande crueldade. Ele era o escravo da cabana comunal, para servir qualquer um que morasse ali. Se não entendesse uma ordem, eles lhe mostravam como fazer — uma vez. Se se recusasse ou fingisse não entender, batiam nele, e ele não se recusava mais. Ainda assim, ele compartilhava igualmente a comida da tribo e recebeu um lugar decente para dormir, no fundo da cabana.
Como era inverno, o principal trabalho era apanhar lenha e ir buscar água, embora de vez em quando um grupo de caça o levasse com eles para ajudar a limpar a caça e carregar a carne. Os índios não faziam muito esforço para se comunicar com ele, mas ouvindo atentamente ele aprendeu um pouco da língua. […]
Roger podia andar livremente pela aldeia; ele estava fora quando os cachorros começaram a latir e gritos das sentinelas indicaram a chegada e visitantes. As pessoas começaram a se reunir e ele as acompanhou, curioso.
Os recém-chegados eram um grande grupo de moicanos, homens e mulheres, todos a pé, sobrecarregados com os fardos costumeiros de utensílios de viagem. Aquilo era estranho; os visitantes que tinham vindo à aldeia antes eram pequenos grupos de caça. O que era mais estranho era que os visitantes traziam com ele um homem branco — o pálido sol de inverno brilhava em seus cabelos louros.
Roger aproximou-se, ansioso para ver, mas foi empurrado para trás por alguns dos índios da aldeia. Mas não antes de ver que o homem era um padre.”
Então, seguindo a narrativa do livro, só algum tempo depois da chegada dos visitantes que Roger é confinado na cabana junto ao padre. O motivo é diferente. Descobrimos um pouco mais a frente que os Frasers haviam chegado ao vilarejo, e então os moicanos decidiram ocultar a presença de Roger enquanto sua possível liberdade era negociada. A empatia e amizade com padre também ocorrem no livro, apesar de Roger não se abrir para o jesuíta, como acontece na série. Os diálogos são um pouco diferentes também, na série vemos Roger expor seus sentimentos e dar concelhos. No livro, ele escuta e cuida dos ferimentos do padre, que pede que Roger escute sua confissão. Como na série, o padre é sacrificado em uma pira de fogo, só que Roger não está presente, ele apenas escuta. Sua amada o segue nas chamas também, o gera uma grande confusão entre os índios. Roger fica sabendo do ocorrido depois por outra pessoa. Confira o trecho que Roger é levado para a cabana, conhece o padre e uma das poucas falas que expressa seu sentimento no livro:
“Mais de uma semana depois, Roger saiu com um grupo de caça. O tempo estava frio, mas limpo, e eles percorreram uma grande distância, té finalmente encontrarem e matarem um alce. Roger ficou perplexo, não só com o tamanho do animal, mas com sua estupidez. Podia entender a atitude dos caçadores: não havia nenhuma honra em matar um alce; era apenas carne.
Era muita carne. Ele estava sobrecarregado como um burro de carga e o peso extra maltratou seu pé machucado; quando finalmente retornaram à aldeia, ele mancava tanto que não conseguiu acompanhar o grupo de caçadores, e foi ficando bem para trás, tentando desesperadamente não perdê-los de vista, com receio de ficar perdido na floresta.
Para sua surpresa, vários homens o aguardavam quando ele se aproximou das paliçadas da aldeia. Eles o agarraram, aliviaram-no de sua carga de carne e conduziram-no apressadamente para dentro da aldeia. Não o levaram para a sua própria cabana, mas para uma pequena cabana que ficava na extremidade oposta da clareira central.
Seus conhecimentos de moicano não eram suficientes para fazer perguntas e não achava que seriam respondidas, de qualquer modo. Empurraram-no para dentro da cabana e o deixaram lá.
Havia uma pequena fogueira acesa, mas o interior era tão escuro depois da claridade do dia lá fora que ele ficou momentaneamente cego.
— Quem é você? — perguntou uma voz surpresa em francês.
Roger piscou várias vezes e divisou uma figura delgada levantando-se de seu assento ao lado da fogueira. O padre.
— Roger MacKenzie — ele disse. — Et vous? — Experimentou uma repentina e inesperada onda de felicidade ao simples fato de pronunciar seu nome. Os índios não se importavam em saber seu nome; chamavam-no de cara de cachorro quando precisavam dele.
— Alexandre. — O padre aproximou-se, parecendo ao mesmo tempo satisfeito e incrédulo. — Père Alexandre Ferigault. Vous êtes anglais?
— Escocês — Roger respondeu, e sentou-se bruscamente, ao sentir a perna manca ceder.
— Um escocês? Como chegou aqui? É um soldado?
— Prisioneiro. […]
— Como você se tornou um prisioneiro?
Roger hesitou, sem saber realmente como responder.
— Fui traído — disse finalmente. — Vendido. O padre balançou a cabeça solidariamente.
— Existe alguém que possa pagar um resgate por você? Eles vão tomar cuidado em mantê-lo vivo se tiverem alguma esperança de resgate.
Roger sacudiu a cabeça, sentindo-se oco como um tambor.
— Não há ninguém.”
A adaptação aqui se dá principalmente para valorizar a narrativa de Roger junto com os moicanos, assim como a história do padre, que o marca. Separar os núcleos foi um jeito de explorá-los de forma mais detalhada. A série também optou por externar os sentimentos de Roger, algo que sem recursos literários fica difícil interpretar. Seria interessante já ter a introdução dos Frasers nesse episódio? Sim. Mas, nos resta aguardar e conferir que surpresas eles reservaram para o finale.
Por hoje é isso. Agora é aguardar o episódio final (socorro tá acabando). E você, Sasse, diz pra gente o que achou desse episódio! Sentiu falta de alguma cena? Não gostou de alguma adaptação? Comente!
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