Sophie Skelton desconstrói a cena do abuso angustiante sofrido por Brianna
Eu queria dizer, “Bree, não foi sua culpa. Não é que você não lutou o suficiente, foi o seu corpo que te neutralizou. Você ficou sem ação.”
Por Julie Kosin
Aviso: Este artigo traz discussões profundas sobre abuso sexual. Recomendamos cautela ao leitor.
Esta temporada de Outlander marca a chegada de Brianna Randall Fraser (Sophie Skelton) como uma personagem completamente desenvolvida. Ela deixou de ser simplesmente a “filha de Claire”, e passa a ser o destaque do episódio da semana passada – a chegada de Bree no século XVIII – e primeiro episódio da série no qual nem Claire (Caitriona Balfe) ou Jamie (Sam Heughan) aparecem na tela. Mas, a viagem de Brianna através das pedras traz mais surpresas , tanto alegres quanto apavorantes, do que se esperava. O episódio seguinte, “Wilmington”, marca um dos pontos mais altos e também um dos mais baixos da sua vida.
O episódio se inicia com muita esperança no futuro. Brianna havia chegado a um acordo com o legado do seu pai adotivo, Frank, no episódio anterior e, nesta semana, chega às colônias determinada a encontrar seus pais, ver seu pai biológico pela primeira vez na vida e alertá-los sobre a provável morte dos dois. Porém, o aparecimento de Roger em Wilmington deixa sua missão em segundo plano e Bree, sentindo-se muito feliz por encontrá-lo, concorda com um pacto de casamento. Eles dormem juntos mas a fase de lua de mel termina antes mesmo de começar assim que Brianna descobre que Roger conhecia o destino dos seus pais e não disse nada a ela. Bree declara não querer vê-lo novamente e ele parte, furioso. O fato em si já é perturbador, é claro, mas não significa necessariamente que o relacionamento esteja terminado. Como a própria Skelton afirma, Bree e Roger não são Claire e Jamie. “(O relacionamento dos dois é) mais real em alguns sentidos,” ela diz à BAZAAR.com. “A comunicação entre eles é horrível. Eles discutem o tempo todo. “É como, ah, esses relacionamentos,” ela diz.
Mesmo assim, Brianna passa por maus momentos quando retorna à taverna onde está hospedada e descobre que Stephen Bonnet, um estranho para ela, está apostando o anel de casamento que pertencia à sua mãe. Acreditando que poderia comprar o anel de volta, Bree segue Bonnet até uma sala nos fundos. Lá, ele a ataca e de forma violenta, a estupra. Outlander é baseada em uma série de livros que expõe muitas cenas de estupro e a série de TV já recebeu muitos elogios e críticas pelas cenas no passado. Desta vez, a produção decidiu deixar literalmente o ataque atrás das portas e focar na indiferença dos clientes da taverna (alguns até se divertindo) com os gritos e choro de Brianna vindos dos fundos. É uma cena horripilante que revela os perigos constantes da vida de uma mulher no século XVIII, mas sem muita exploração. Como disse a produtora executiva Maril Davis à The Hollywood Reporter sobre este ponto da trama, “Nós não temos a intenção de trabalhar sem bases. Estamos tentando demonstrar as coisas como realmente eram naquela época.”
Para a sua participação, Skelton passou um longo tempo se preparando para a cena e para as suas consequências, “Se você vê alguém passando por algo e pode vê-lo superando o problema e saindo dele não totalmente ileso, mas bem, você tem esperanças de que também poderá fazê-lo,” ela diz. Continue lendo para saber mais sobre o trabalho de Skelton para o episódio.
HB: Você disse muitas vezes durante o período que antecedeu o episódio que você queria fazer justiça aos sobreviventes de estupro da vida real. Como era isso para você? Que tipo de pesquisas você fez e, você ouviu alguma coisa sobre os leitores que sabiam o que estava por vir?
SS: Algumas fãs do livro vieram até mim e disseram que estavam com muito medo de assistir o episódio. Obviamente, elas não deram muitos detalhes do que haviam passado, mas disseram que tinham sobrevivido a coisas semelhantes. É de cortar o coração que as pessoas: A) tenham passado por isso e B) que se sintam dessa forma. Uma coisa maravilhosa sobre filmes e séries de TV é que você conhece essas pessoas, você entra na cabeça delas e, de alguma forma, elas acabam te ajudando na sua vida pessoal. Se você vê alguém passando por algo e pode vê-lo superando o problema e saindo dele não totalmente ileso, mas bem, você tem esperanças de que também poderá fazê-lo.
Uma coisa sobre Bree, da qual eu queria ter certeza (e nós mostramos), é que o estresse pós-traumático depois de um estupro não desaparece. Ela não consegue esconder muito bem. Ela veste sua armadura quando encontra a família mas, durante o jantar, você percebe que tudo o que ela quer é correr para o quarto e ficar sozinha, para não precisar mais disfarçar. Pequenas coisas (também), como quando Bree caminha em direção à taverna na manhã seguinte ao estupro, ela se encolhe ao passar pelas pessoas. Eu queria incluir tudo isso para mostrar de quantas formas diferentes (o trauma) pode afetar as pessoas.
Eu assisti muitas entrevistas com mulheres que tinham sido violentadas. Assisti a muitos julgamentos onde elas confrontavam seus estupradores. Li muitas entrevistas, mas uma que me marcou muito foi a de uma menina que dizia querer arrancar a pele do seu corpo, que ela não mais pertencia àquele corpo e que queria deixá-lo. Eu sempre pensava nisso quando interpretava Bree.
Nós realmente filmamos a cena completa, mas, no final, decidimos deixá-la a portas fechadas. Na minha pesquisa, descobri algo que até então desconhecia: a reação da vítima chamada de imobilidade tônica que surge em muitas mulheres quando estão sendo estupradas. Elas enxergam tudo escuro e ficam completamente paralisadas. Então, não sentem nada durante o ataque. Elas não estão presentes. Quando Bree volta a si depois do estupro, ela está tremendo e seus nervos dando sinais de vida, é quando ela começa a sentir os efeitos daquilo que tinha passado. Aparentemente, as mulheres que reagem com essa imobilidade tônica experimentam um estresse pós-traumático pior porque precisam superá-lo também. Eu queria que isso ficasse bastante evidente quando Bree diz à Jamie, “Por que eu não lutei?” Eu queria dizer, “Bree, não foi sua culpa. Não é que você não lutou o suficiente, foi o seu corpo que te neutralizou. Você ficou sem ação.” Ela permaneceu com o olhar vidrado e completamente sem ação.
HB:A série teve alguma repercussão com relação à exibição de estupros nas temporadas passadas. Como você se sentiu ao saber da decisão de deixar a cena do estupro de Bree a portas fechadas?
SS: Como atriz, você se sente destruída porque trabalhou muito na cena. Eu queria que as mulheres vissem a Bree passar por tudo aquilo. Acredito que se o público vivencia alguma coisa com um personagem desde o início, ele pode sentir os efeitos do final, os efeitos do lugar onde chegamos. Eu também acho que quando as pessoas ouvem dizer que alguém foi violentado, é fácil dizer, “eu teria lutado mais”. Eu acho que muita gente não sabe sobre essa imobilidade tônica, e acredito que seria uma coisa muito importante para realmente entender o que aconteceu com Bree.
Mas, ao mesmo tempo, como uma pessoa, nas atuais circunstâncias, acho que os roteiristas tomaram uma decisão muito sensata. É como você disse, há comentários sobre excesso de estupros na série. Mas, eu acredito que nos dias de hoje, nesse clima de #MeToo e tudo o mais, e também pelo fato de que estupros têm sido mais proeminentes em séries como The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia), os produtores queriam ter a certeza de que não estavam exagerando. Eu realmente acredito que Outlander tenha sempre sido muito correta com relação a isso. Não é simplesmente alguém ser estuprado e pronto, vira a página. Você sempre passa pelo estresse pós-traumático com o personagem, como o que aconteceu com Jamie (1ª. temporada). Eu acho que a série respeita as vítimas. É como eu sempre digo, é uma daquelas coisa que naquela época, infelizmente, era muito comum. Acontecia, e as pessoas meio que aceitavam que acontecia. Eles não poderiam remover completamente a estória da Brianna, o estupro, porque o resto da temporada é todo baseado nisso.
HB: Este episódio traz muita dor de cabeça para Brianna. No início, ela ainda é uma criança. Então, inesperadamente se casa com o homem que ama para depois descobrir que tinha sido traída por ele e eles têm uma briga terrível. Ainda por cima, ela é brutalmente violentada. É muita coisa para se absorver em 53 minutos.
SS: Quando faz a travessia, ela ainda é uma criança. Foi um bom começo o que vimos no episódio 7, nós realmente compreendemos o quanto ela estava machucada pelas experiências com Frank. Quando ela e Roger brigam, é bem parecido com o que acontece mais tarde na temporada quando ela briga com Jamie. Não exatamente pelo que fazem, mas pelas palavras que cortam tão profundamente. É quase como um insulto à sua personalidade. Bree acha que tantas pessoas já saíram da sua vida que ela sente dificuldade para deixar outras pessoas entrarem. Ela está começando a fazer isso agora e se sente traída por estas pessoas. Ela passa por tanta coisa em 53 minutos. Ela chega ao ponto mais alto da sua vida: casamento, perda da virgindade, todos esses marcos da vida e, então, dá uma volta de 180 graus e tem a pior noite da sua vida. É como uma montanha-russa.
HB: Bree recebe uma série de críticas variadas por parte dos fãs da série. O que você acha que há em Brianna que a torna uma personagem tão dividida?
SS: Bree, de uma certa maneira, é uma versão mais jovem de Claire, mas eu também acho que ela traz algo masculino com ela, que ela é uma mulher moderna e muito forte, ao mesmo tempo em que apresenta todas essas qualidades dos Frasers e de Jamie, e que representa uma nova versão de um personagem feminino. Eu a vejo como uma mistura dos seus pais, também. Ela é muito impetuosa, muito teimosa, como Claire, mas é também muito fiel, como Claire. É também muito calculista e nós sempre vemos Claire criando problemas por mergulhar diretamente para dentro deles. Mas eu ainda acho que Brianna é um pouquinho mais lógica em alguns sentidos.
Estou muito entusiasmada para ver a jovem audiência que Brianna vai trazer. Eu tenho aqui algumas mensagens de garotas relacionadas à Brianna, não necessariamente sobre as dificuldades que Bree vai enfrentar. Obviamente, nesta temporada ela enfrenta muitos obstáculos, mas eu sinceramente acredito que as pessoas vão começar a se referir à Brianna como ela mesma.
HB: Como foi ser o ponto central de um episódio inteiro, “Down the Rabbit Hole”?
SS: Nós tivemos uma breve introdução de Bree durante os últimos anos, então eu estava preparada para pegar o material e me dedicar completamente a ele, para mostrar mais aspectos da personalidade de Bree e vê-la nesta situação completamente diferente. A 4ª. temporada é a minha favorita. No que se refere à personagem de Bree, é a temporada que eu esperava. Eu tenho aguardado este momento por um tempo. (Com Tobias Menzies, que interpreta Frank) eu apenas tive aquele curto flashback da cena do aniversário com ele, no aniversário de 16 anos de Brianna, na 3ª. temporada. É tão bom contracenar com ele. Ele e Cait possuem estilos muito semelhantes. Eles ficam tão concentrados nas cenas. É uma introdução perfeita para a série. Ter algumas cenas com Tobias é como dizer, “E, agora, Outlander”.
Esta entrevista foi editada e condensada para melhor compreensão.
Fonte: Harper’s Bazaar em 23/12/2018
Curta nossa página no Facebook, conheça nosso grupo, Apaixonados Por Outlander, nos siga no Twitter e Instagram. Inscreva-se no nosso canal do Youtube.