Daily Line: Carpe Diem
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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Manoke era pai do seu amigo; Lord John nunca o havia chamado por outro nome. O índio ia e vinha de acordo com sua vontade, normalmente sem ser notado, embora passasse mais tempo no Mount Josiah do que em outro lugar. Não era um empregado ou uma pessoa contratada para fazer algum serviço mas, quando estava lá, cozinhava e lavava, cuidava das galinhas, sim, ainda havia galinhas – William podia ouvi-las cacarejando e se movendo enquanto se acomodavam entre as árvores perto da casa, e ele também ajudava quando havia caça a ser limpa e cortada.
“Seu leitão?” William perguntou a Cinnamon, com um breve aceno de cabeça na direção da fogueira. Eles haviam decidido jantar na varanda em ruínas enquanto aproveitavam o ar agradável da noite e vigiavam a carne seca, caso algum guaxinim aparecesse.
“Oui, lá em cima,” disse Cinnamon acenando sua grande mão em direção ao norte. “Duas horas de caminhada. Alguns porcos na floresta, não muitos.”
William concordou com a cabeça. “Você tem um cavalo?” ele perguntou. Era um leitão relativamente pequeno, talvez pesasse uns vinte e poucos quilos, mas era pesado demais para ser carregado por duas horas, principalmente se Cinnamon desconhecesse a distância que teria que caminhar. Ele havia dito a William que nunca tinha estado em Mount Josiah antes.
Cinnamon concordou com a boca cheia e apontou com o queixo a direção do celeiro de tabaco abandonado. William se perguntava há quanto tempo Manoke estava vivendo ali: o lugar parecia estar abandonado há anos, mas ainda havia galinhas…
O cacarejar e os gritos das aves o fizeram se lembrar instantaneamente de Rachel Hunter e, no momento seguinte, ele podia sentir o cheiro da chuva, das galinhas ensopadas e da menina molhada.
…”a que meu irmão chama de Meretriz da Babilônia. Nenhuma galinha possui inteligência mas esta é mais perversa do que o normal.”
“Perversa?” Evidentemente ela havia percebido que ele estava considerando as possibilidades de tal descrição, e que estava se divertindo com elas, pois ela bufou pelo nariz e inclinou-se para abrir o baú das cobertas.
“A criatura está sentada em um pinheiro de seis metros de altura, no meio de uma tempestade. Perversa.” Ela apanhou uma toalha de linho e começou a secar o cabelo com ela.
O som da chuva mudou de repente, o granizo caía como cascalho batendo nas janelas.
“Hmph,” disse Rachel, lançando um olhar sombrio para a janela. “Espero que ela seja derrubada pelo granizo e que seja devorada pela primeira raposa que aparecer, é o que ela merece.” Ela dobrou a toalha e continuou secando o cabelo. “Não é nada demais. Eu ficarei muito satisfeita se nunca mais colocar os olhos naquelas galinhas novamente.”
“O cheiro do cabelo molhado de Rachel estava bem forte na sua memória, assim como a visão dele, escuro e despenteado caindo pelas suas costas. A roupa molhada estava transparente em alguns lugares, exibindo a sombra da sua pele macia e pálida por baixo dela.
“O quê? Quero dizer, pode repetir?” Manoke disse alguma coisa e o perfume da chuva desapareceu, sendo substituído pelo odor da fumaça da nogueira, farinha de milho e peixe frito.
Manoke olhou para ele de forma divertida, mas obrigou-se a repetir o que havia dito.
“Eu disse, o senhor veio para ficar? Porque se veio, talvez queira consertar a chaminé.”
William deu uma olhada por cima do ombro; os escombros cobertos pela trepadeira ainda podiam ser vistos além dos limites da varanda.
“Não sei,” ele disse, dando de ombros. Manoke concordou com a cabeça e voltou a conversar com Cinnamon: os dois homens falavam em francês. William não conseguiu ouvir, sentindo-se subitamente cansado até os ossos.
Tinha a intenção de ficar? Ele não sabia o que pretendia indo até lá; aquele era apenas o único lugar que conseguia pensar onde não era obrigado a dar explicações.
Ele tinha uma vaga noção daquilo que estava pensando. Tentava dar sentido às coisas e decidir o que fazer. Ele tinha de levantar-se e tomar uma atitude, fazer a coisa certa.
“Está bem,” ele disse em voz baixa. “ O Inferno e a morte.” Não havia nada o que fazer. Uma espinha de peixe ignorada parou na sua garganta e ele engasgou, tossiu e engasgou de novo.
Manoke lhe deu uma olhada rápida, mas William acenou e o índio retomou sua conversa com John Cinnamon. Ele levantou-se e, tossindo, contornou a casa em direção ao poço.
A água estava doce e gelada; com um pouco de esforço, ele conseguiu expelir a espinha e beber um pouco. Depois, jogou um pouco de água na cabeça. Assim que limpou a poeira do rosto, William sentiu uma sensação de calma tomar conta dele. Não era uma sensação de paz, nem de resignação, mas a constatação de que se as coisas não pudessem ser ajeitadas naquele momento… talvez não precisassem ser. Ele só faria vinte e um anos em janeiro. A propriedade ainda era administrada por advogados; todos aqueles arrendatários e fazendeiros ainda estavam sob a responsabilidade de alguém.
Ele iria ficar, ele pensou enquanto limpava a mão no rosto molhado. Sem preocupações. Sem confrontos. Simplesmente ficaria quieto por um tempo.
O crepúsculo começava a despontar; era a sua hora favorita do dia. A floresta se acalmava com a diminuição das luzes, mas o ar esfriava substituindo o calor do dia, como um espírito gelado passando por entre as folhas murmurantes, tocando sua própria pele aquecida com sua paz.
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 08/08/2015
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