DailyLines,  Diana Gabaldon

Daily Line: Mais Importante que Comida

POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana

#FelizaniversarioClaire #VaDigaAsAbelhasQueEuMeFui  #livro9

[Aqui encontramos Jamie e Claire, sentados ao lado de uma fogueira se apagando. Os Mackenzies acabaram de chegar e, após um jantar celebratório, eles desceram o morro para passar a noite na cabana – Jamie e Claire elegidos para cuidar que o fogo se apagasse, e depois dormir em uma manta sob as estrelas. Eles conversam um pouco a respeito do que aconteceu, e o espanto e surpresa de terem sua família de volta. Mas, da maneira que acontece com pessoas casadas há muitos anos, a conversa de vez em quando se desdobra em si própria, culminando em recordações…]

“… a noite que fizemos Faith.”
Levantei minha cabeça, supresa.
“Você sabe quando ela foi concebida? Eu não sei.”
Ele passou sua mão lentamente por minhas costas, seus dedos pausando para massagear minha lombar. Se eu fosse uma gata, eu teria balançado meu rabo gentilmente debaixo de seu nariz.”
“Sim, bem, eu suponho que eu poderia estar errado, mas eu sempre pensei que foi a noite em que eu fui até a sua cama, no mosteiro.”

Por um momento, eu tateei entre minhas memórias. Aquela época no Mosteiro de Santa Anna, quando ele tinha chegado tão perto de uma morte escolhida, era uma que eu raramente revisitava. Foi um momento terrível de medo, confusão, aflição e desespero. Ainda assim, quando eu olhava para trás, eu encontrava um punhado de imagens vívidas, destacando-se como as letras iluminadas em uma página de Latim antigo. O rosto de Padre Anselm, pálido à luz de velas, seus olhos cálidos de compaixão e depois o crescente brilho de espanto à medida que ele ouvia minha confissão. As mãos do abade, tocando a testa de Jamie, seus olhos, lábios, palmas da mão, delicado como o toque de um beija-flor, ungindo seu sobrinho com o santo crisma da Extrema Unção. O silêncio da capela escura onde eu havia rezado por sua vida, e ouvido minha oração respondida.
E entre esses momentos estava a noite em que eu acordei de meu sono para encontrá-lo de pé, um fantasma pálido ao lado da minha cama, nu e congelando de frio, tão fraco que mal podia caminhar, porém mais uma vez cheio de vida e da teimosa determinação que nunca o deixaria.

“Então você se lembra dela?”. Minha mão descansava levemente sobre meu ventre, relembrando. Ele nunca a vira, ou a sentira como algo a mais que chutes e empurrões aleatórios vindos de dentro de mim.
“Você sabe que sim. Não sabe?”
“Sim. Eu só queria que você me contasse mais.”
“Oh, eu pretendo contar mais.”
Ele se acomodou em um cotovelo e me trouxe para perto dele para que eu pudesse compartilhar de sua manta.

“Você se lembra disso também?” Eu perguntei, puxando para baixo a dobra de tecido que ele tinha usado para me cobrir. “Dividir sua manta comigo, na noite em que nos conhecemos?
“Para que você não congelasse? Sim.” Ele beijou minha nuca. “Era eu que estava congelando, no mosteiro. Eu tinha me cansado tentando caminhar, e você não me deixava comer nada, então eu estava morrendo de fome, e…”
“Ah, você sabe que isso não é verdade! Você -”
“Eu mentiria pra você, Sassenach?”
“Sim, você mentiria, porra! Você faz isso o tempo todo. Mas deixa isso pra lá agora. Você estava congelando e faminto, e decidiu de repente que ao invés de pedir ao Irmão Roger pra lhe dar um cobertor, ou uma tigela de algo quente para comer, você deveria cambalear nu por um corredor de pedra escuro e deitar-se comigo.”
“Algumas coisas são mais importantes do que comida, Sassenach.” Sua mão firmou-se bem em minha bunda. “E descobrir se eu conseguiria me deitar com você novamente era mais importante do que qualquer coisa naquele momento. Eu pensei que se eu não pudesse, eu caminharia até a rua, na neve e não voltaria mais.”
“Naturalmente não lhe ocorreu esperar algumas semanas a mais e recuperar sua força.”
“Bem, eu tinha quase certeza de que conseguia caminhar aquela distância me segurando nas paredes, e o resto eu faria deitado mesmo, pra que esperar?” A mão em minha bunda agora a acariciava ociosamente. “Você se lembra da ocasião.”
“Foi como fazer amor com um bloco de gelo.”
Foi mesmo. Mas também havia torcido meu coração de ternura e me enchido com uma esperança que eu achava que nunca mais conheceria de novo.
“Além do mais, você descongelou depois de um tempo.”

Somente um pouco, primeiramente. Eu o havia embalado contra meu corpo, tentando tanto quanto possível gerar calor corporal. Eu havia levantado minha camisola, querendo com urgência manter o máximo de contato pele a pele possível. Eu me lembro da curva dura e aguda de seu quadril, os ossos de sua coluna e os sulcos das cicatrizes frescas sobre eles.
“Você não era muito mais do que pele e ossos.”
Eu me virei, puxei-o para bem perto de mim, querendo a confirmação de seu calor presente contra o calafrio da memória. Ele estava quente. E vivo. Muito vivo.
“Você pôs sua perna sobre mim para que eu não caísse da cama, eu me lembro disso.” Ele massageou minha perna lentamente, e eu podia ouvir o sorriso em sua voz, embora seu rosto estivesse escuro com o fogo por trás, faiscando em seu cabelo.
“Era uma cama pequena.”
Fora uma cama pequena – um berço de monastério, estreito, apenas o suficiente para uma pessoa de tamanho normal. E mesmo emaciado como ele estava, ele ocupava muito espaço.

“Eu queria ter lhe deitado de costas, Sassenach, mas estava com medo de nos jogar ambos no chão, e… bem, eu não tinha certeza se conseguiria me erguer sozinho.”
Ele estivera tremendo de frio e fraqueza. Mas agora, eu me dei conta, provavelmente de medo também. Peguei a mão que descansava sobre meu quadril e a levantei até minha boca, beijando os nós de seus dedos, que estavam frios com ar da noite e se contraíram com o calor dos meus.
“Você deu conta do recado,” eu disse suavemente, e rolei sobre minhas costas, trazendo-o comigo.
“Mal e mal”, ele murmurou, achando seu caminho entre as camadas de coberta, manta, camisa e camisola. Ele soltou um suspiro longo, e eu também. “Oh, Jesus, Sassenach.”
Ele se moveu, só um pouco.
“Como eu me senti,” ele sussurou. “Então. Pensar que eu nunca poderia tê-la novamente, e depois…”
Ele tinha dado conta do recado, e tinha sido mal e mal.
“Eu pensei – eu faria aquilo nem que fosse a última coisa que eu fizesse…”
“Quase foi, eu sussurei de volta, e segurei suas nádegas, firmes e redondas. “Eu realmente achei que você tivesse morrido, por um momento, até você começar a se mexer.”
“Eu pensei que eu fosse morrer,” ele disse, com o sopro de uma risada. “Meus Deus, Claire…”.
Ele parou por um momento, abaixou-se e pressionou sua testa contra a minha. Ele tinha feito a mesma coisa naquela outra noite, a pele fria e feroz com desespero, e eu tinha sentido como se eu estivesse soprando minha propria vida para dentro dele, sua boca tão macia e aberta, cheirando levemente a cerveja misturada com ovo, que era tudo o que ele conseguia segurar no estômago.

“Eu queria…” ele sussurrou. “Eu queria você. Tinha que tê-la. Mas assim que eu entrei em você, eu queria…”
Ele suspirou, então, profundamente, e moveu-se ainda mais fundo.
“Eu achei que eu morreria disso, ali, naquele momento. E eu queria. Eu queria ir-me – enquanto eu estava dentro de você.” Sua voz tinha mudado, ainda suave mas um pouco distante, desconectada – e eu entendi que ele tinha deixado o momento presente, ido de volta à pedra fria e ao pânico, o medo e a necessidade esmagadora.
“Eu queria me derramar dentro de você e deixar aquilo ser a última coisa que eu soubesse, mas então eu comecei, e soube que não era para ser assim – mas que eu me manteria dentro de você para sempre. Que eu estava lhe dando um filho.”
Ele tinha voltado à fala, voltado ao agora e para dentro de mim. Eu o segurei bem apertado, grande, sólido e forte em meus braços e, tremendo, desamparado à medida que ele se entregava. Eu senti lágrimas cálidas incharem e escorregarem frias em meus cabelos. Depois de um tempo, ele se mexeu e se deitou de lado. Sua grande mão ainda descansava leve sobre minha barriga.
“Eu dei conta do recado, né?” ele disse, e sorriu um pouco, a luz do fogo suave em sua face.
“Sim, você deu,” eu disse, e puxando a manta de volta por sobre nós dois, eu deitei com ele, contente à luz da chama que se apagava e das estrelas eternas.

Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 19/10/2016

Curta nossa página no Facebook, conheça nosso grupo, Apaixonados Por Outlander, nos siga no Twitter e Instagram. Inscreva-se no nosso canal do Youtube.

One Comment

Deixe uma resposta