Daily Line: Nuvens de Tempestade
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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John Gray parou na parte alta da Bay Street, observando as nuvens de tempestade subindo o rio em sua direção, carregadas de chuva negra e cintilando com relâmpagos. Ele não era um homem religioso, mas qualquer homem que tivesse sido baleado em um campo de batalha, especialmente aquele que fora explodido por um canhão, deveria estar preparado, ao menos, para algumas conversas casuais com Deus.
– Cuide de Willie, por favor – disse ele, os olhos ainda fixos no céu turbulento. Ele sentiu obscuramente que deveria fazer algum gesto cerimonial, como o sinal da cruz, mas não sabia bem como fazer isso, embora já tivesse visto Jamie Fraser o fazer com bastante frequência. Ele achou a ideia de Jamie reconfortante; o escocês provavelmente orava por Willie diariamente, com toda a pompa das observâncias romanas, embora Jamie não soubesse que orações mais urgentes do que as cotidianas poderiam ser justificadas.
As primeiras gotas de chuva atingiram as pedras do asfalto, fazendo manchas do tamanho da unha do polegar. Ele abaixou o chapéu contra o vento e procurou abrigo.
O abrigo mais próximo era a casa de Hal na (Jones?) Street, onde encontrou seu irmão na sala de estar, de pé ao lado da janela vestindo camisa, calças e um roupão de seda preta com um grande dragão chinês em vermelho e amarelo bordado nas costas, ambos aparentemente perdidos na contemplação das gotas de chuva deslizando, ou melhor, caindo em cascata pelas vidraças.
– O que são digitalis? – perguntou Hal, afastando-se da janela.
– Flores, eu acho. – John sacudiu algumas gotas de água do seu chapéu e o pendurou na maçaneta. – Um tipo de campanula, talvez?
– Campanula? – Os olhos de Hal se estreitaram, acreditando que John estava brincando com ele. John ergueu as duas mãos em sinal de apaziguamento.
– Sim. Certamente conhece os nomes que os jardineiros inventam. Minnie não estava falando sobre gypsophilas e linaria vulgaris na última vez que vim jantar? Tenho certeza de que ela mencionou campanulas em algum momento.
Hal pensou sobre isso por um instante, mas depois acabou assentindo e seu rosto se iluminou um pouco. Sua esposa, Minnie, era uma jardineira em tempo integral e possuía uma grande estufa, um jardim de flores com um laguinho e uma horta à sua disposição.
– Bem, é verdade – admitiu ele, com a sombra de um sorriso. – Eu já te contei que a conheci nas estufas do Príncipe, ou melhor da Princesa, em Kew? Um lugar extraordinário; tudo, desde os marmeleiros até as horríveis espécies de orquídeas carnudas que cheiram a carne podre.
– Você a conheceu perto de uma orquídea que cheira a carne podre? Não é de se estranhar que ela tenha sucumbido imediatamente ao seu romantismo inato.
– Na verdade, era um crisântemo – Disse Hal, distraidamente, ignorando a zombaria. – Tive uma súbita falta de ar e desabei no chão aos seus pés. Ela pensou que eu fosse morrer, mas não morri. John observou com fascínio como a memória afetava o rosto do irmão. Aparentemente, o momento não foi totalmente agradável, apesar da presença de Minnie. Talvez ele também tenha pensado que estava morrendo.
(Trecho de VÁ DIZER ÀS ABELHAS QUE PARTI, copyright 2021 Diana Gabaldon. Muito obrigada, Leslie Chivers pela linda foto de uma abelha nos botões de uma plum blossom!)
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 05/-3/2021
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