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[ENTREVISTA] Caitriona Balfe, de Outlander, sobre como Claire seguirá em frente depois do episódio final da 5ª. temporada

Por JULIE KOSIN      11 de maio de 2020

caitriona balfe in outlander season 5 episode 12

Aviso: este artigo apresenta uma discussão aprofundada sobre abuso sexual. É aconselhável discrição por parte do leitor

Caitriona Balfe cortou todo o seu cabelo.

Não, literalmente. Cinco minutos antes de iniciarmos nossa conversa pelo telefone, a atriz e sua produção postaram uma foto do estrago no Twitter, levando seus meio milhão de fiéis seguidores a histeria. No entanto, não havia motivos para se preocupar: ela está incrível, como sempre esteve. “Simplesmente, tinha que ser feito,” ela brinca. “Eu estava seriamente tentada a clarear os cabelos e, então, a pessoa que corta meu cabelo disse: “Não ouse. Você pode cortá-lo, mas não pode clareá-lo.”

Foi um momento necessário de um pouco de leveza antes de mergulharmos nos horrores do final da 5ª. temporada de Outlander. Partindo de uma das histórias mais perturbadoras da série de livros, o episódio registra um ataque brutal a Claire: Ela é sequestrada, espancada e estuprada pelas mãos dos homens que desprezam sua natureza obstinada e pretendem puni-la por sua influência sobre suas esposas. No final, Claire é salva por Jamie (Sam Heughan) e sua família que mata os atacantes antes de levá-la para casa para ser curada. Mas, enquanto ela luta para seguir em frente, sua frustração se transforma em uma explosão de choro que Balfe interpreta com extrema elegância.

“Ela quer ser uma supermulher e poder dizer que o fato não vai afetá-la, mas a verdade é que ela realmente não tem esse controle,” explica Balfe. Isso é algo que vai exigir da sua própria paciência, também a paciência e o amor de sua família para poder superar o ocorrido.”

Enquanto no livro o ataque de Claire parece ser casual, a série se esforça para configurá-lo como inevitável e é muito cuidadosa para evitar gratuidade. Neste momento, Claire se dissocia da realidade e entra em um estado de sonho, onde sua família se reúne para celebrar o Dia de Ação de Graças nos anos 60. Trata-se de uma sequência ousada que oferece acenos inteligentes para os fãs de longa data, mantendo-se fiel à natureza horrível da experiência vivida por Claire. “Claire é uma voyer da sua própria imaginação,” diz Balfe. “Ela tenta construir essa linda imagem de família que é um porto seguro para ela, mas que nunca é completamente pura porque você tem Lionel sangrando. Não importa o quanto nós estamos envolvidos com essa outra realidade, eu nunca quis que o público esquecesse que ela existe porque algo terrível está acontecendo em um outro lugar.”

outlander s5e12

Junto com Heughan, Balfe tornou-se oficialmente uma produtora nesta temporada, e a influência dos astros é evidente nos últimos episódios. Apesar do tema difícil, o final parece ser um verdadeiro retorno ao espírito das primeiras temporadas. Embora tenha apenas 52 minutos, parece ser um longa-metragem e atinge todos os ritmos que tornam Outlander tão viciante, de ações inesperadas a momentos tranquilos de intimidade. Isso só pode significar muitas coisas boas para a 6ª. temporada.

Abaixo, Balfe detalha as nuances do final, como a produção alterou as suas perspectivas e o que vem em seguida para Claire.

O que significou para você tornar-se produtora nesta temporada?

Era algo que eu queria há algum tempo. Às vezes, há um certo receio sobre atores que se tornam produtores, que eles vão tentar usar sua influência. Para mim, é uma expansão do crescimento dentro desta indústria. Eu gosto de resolver problemas. Eu gosto de olhar ao redor e ver o que cada pessoa está fazendo e perguntar: como podemos melhorar as coisas? Sam e eu tínhamos um conhecimento tão íntimo da série e achamos que tínhamos muito a oferecer e que poderíamos oferecer uma influência positiva.

Mas chegou muito tarde – nós recebemos a aprovação pouco antes de iniciarmos a filmagem. Foi como uma curva de aprendizagem. Nós realmente não tínhamos a intenção de quebrar os roteiros, e foi só na segunda metade da temporada que tivemos alguma influência, pelo menos no set.

Como foi sua influência no episódio final?

Matt (Roberts, produtor) teve a ideia de que Claire entraria neste estado dissociativo ou iria para algum lugar – ele não queria ficar com o estupro. Ele achava que era uma coisa realmente horrível para a audiência ficar assistindo, o que eu concordei, e ele teve a ideia de que Claire iria para os anos 60 na sua imaginação. No início, quando ele me apresentou a ideia, eu fiquei realmente intrigada com ela – explorar esse dispositivo psicológico que as pessoas tanto precisam para se proteger. Mais tarde, tivemos muito trabalho para descobrir como seria e como levar o script para um lugar onde todos se sentissem confortáveis.

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Apesar do tema ser tão horrível, este episódio parece ser um retorno ao espírito da 1ª. temporada. Há momentos de intimidade familiar e eu gostei de ver um episódio inteiro dedicado à Claire e sua maneira de pensar.

É uma verdadeira prova para os roteiristas. A última temporada foi muito difícil para todos. Foi muito transitória, estávamos em um novo local na série e houve muito impulso para o futuro. Nós realmente não nos sentamos e passamos algum tempo com esses personagens e os roteiristas perceberam isso. Eles trabalharam duro nesta temporada e Sam e eu, definitivamente, fizemos uma certa pressão para haver mais desses momentos íntimos, não apenas sexuais. A intimidade de um casamento vai muito além das cenas de sexo. Nós conseguimos encontrar alguns desses momentos.

No livro cinco, não há muito sobre Claire em comparação com os outros livros. Sua história está um pouco em segundo plano. Acredito que seja parte da explicação por que Matt e Maril (Davis, produtora executiva) tenham decidido retirar essa história do livro seis. Trata-se de uma faca de dois gumes porque, é claro, queremos um ótimo material e algo que realmente te desafie, mas é muito difícil e não é uma coisa que você gosta de fazer ou de viver, especialmente quando você é tão protetora com relação ao seu personagem. Você pensa, “Nós realmente temos que fazer isso?” Mas tudo faz parte da jornada de Claire e temos a oportunidade de fazê-lo com muito respeito e também de oferecer à Claire tanta ação quanto possível. Eu estou interessada na maneira como vamos continuar e explorar sua recuperação, porque isto é extremamente importante.

Estas cenas fizeram sentido para mim como espectadora, o que não aconteceu quando li o livro. Na série, o ataque parece inevitável, porque Claire sempre se comprometeu a usar seu conhecimento do futuro para ajudar as mulheres. Ela vê isso como um dever e não se arrepende. Infelizmente, parece inevitável que os homens desse período, se soubessem o que ela estava fazendo, gostariam de “puni-la” pelas atividades das suas esposas.

É muito diferente quando você está lendo. Você traz o seu próprio código moral ou ponto de vista pessoal e sua capacidade de digerir certos tipos de informações e situações. Não há filtro algum: é você, o livro e as palavras, e você pode traduzi-las da maneira que quiser. Mas, quando você está fazendo uma adaptação, está apresentando um certo ponto de vista para o público. Você precisa ter muito cuidado com a sua posição. Nós conversamos muito sobre os momentos pós-estupro entre Claire e Jamie. No livro, há uma cena de sexo muito animalesca que parecia completamente inapropriada para ser exibida, especialmente por ser tão cedo e depois de algo tão horrível.

No livro, isso parece funcionar porque quando você está dentro da cabeça de alguém e está intimamente conectado aos pensamentos de Claire, isso é exatamente o que ela quer naquele momento. Mas, se desse um passo para trás e fizesse isso na série de TV, o fato de Jamie entrar dizendo, “Certo, nós vamos fazer isso,” nunca teria funcionado. Tentamos ao máximo trazer o núcleo da história da Diana e traduzi-lo de uma maneira que funcionasse para os nossos personagens, mas também para um público moderno.

Matt e eu conversamos sobre como Claire se comportou como uma mulher forte e como nada realmente a afeta, que ela pode passar por qualquer situação e é completamente indestrutível. Eu achava que seria muito importante mostrar que a força não é apenas sobre coisas que não te afetam. Ela fica profundamente ferida com tudo isso. (Vendo isso na tela) permite que todos tenhamos mais compaixão pelas pessoas que já passaram por isso.

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Qual era a vibe no set durante as filmagens do episódio 12?

Acredito que foi mais diferente para os outro do que para mim. Eu me mantive separada de todos, mas Jamie Payne, o nosso diretor naquele bloco, foi fantástico. Muito do crédito é dele por ter uma visão tão clara do episódio, especialmente do visual. Ele e eu trabalhamos juntos para determinar como tudo isso seria filmado. No roteiro original, havia muito mais diálogo – até Claire tinha muitos diálogos. Eu sentia fortemente que ela não deveria falar nessa criação da sua própria imaginação. Para mim, quando você sonha, você nunca se vê. Você sente suas palavras e suas ações, mas nunca está fora do seu corpo. Eu queria que fosse assim.

E a atenção aos detalhes é impressionante. Vou sentir falta do trabalho de Gary Steele (designer de produção).

Eu também. Pessoalmente e profissionalmente, eu adoro o Gary. Toda a sua equipe é muito talentosa. Aquela casa era linda, mas eles a refizeram completamente – eles usaram uma linda cortiça com manchas douradas em paredes diferentes. Quando você faz essas coisas surrealistas e com motivos muito emocionais, é fácil perder-se no visual que o cerca e apoia. Cada detalhe foi perfeito. Ele é um gênio e estamos muito tristes com sua saída.

O que este episódio significa para a 6ª. temporada?

Eu gostei de ler o livro seis. Provavelmente, é muito mais fácil de adaptar do que o cinco. Mesmo que esta tenha sido uma temporada muito forte, o livro em si teve uma adaptação mais difícil. Para Claire, esta será uma jornada contínua de recuperação. Ela provavelmente tentará seguir em frente e voltar à normalidade, mas não acho que ela esteja plenamente consciente do quão difícil, tanto subconsciente quanto psicologicamente, isso será para ela. Obviamente, temos a guerra chegando. Há muita coisa acontecendo no horizonte. Eu já li dois roteiros e, quando voltarmos às filmagens, acredito que será uma temporada forte novamente.

Você ainda está aprendendo coisas novas sobre Claire ou está abordando o papel de uma maneira mais experimental?

Ajuda o fato de não estarmos fazendo apenas uma coisa. Seu papel evolui de maneira tão diferente a cada temporada. Eu também sou constantemente surpreendida por ela. Eu adorei que Claire entra na menopausa no final desta temporada, eu sempre defendi mais coisas assim. É um momento fascinante a ser explorado na vida de uma mulher. Espero que possamos levar isso para a próxima temporada porque o fato tem um enorme impacto sobre como você se sente como mulher, sobre você e sua família e sobre sua confiança.

Havia mais alguma coisa que você defendia, como descrever a amizade entre as mulheres na colina?

Nós constantemente temos que nos lembrar de que as amizades e as atividades entre as mulheres são vitais. Há sempre um perigo quando você está escrevendo uma peça de época que acompanha um conhecimento já percebido, como “É assim que a história era.” Não, é assim que nos contam a história. As pessoas que escrevem história geralmente pertencem ao sexo, à cultura e à sociedade dominante. É sempre mais interessante apresentar a história de maneira honesta no lugar de regurgita-la. É algo pelo qual sempre lutamos: não vamos fazer alguma coisa só porque é o que nos dizem que acontece. Vamos descobrir o que essas pessoas estavam realmente experimentando e sentindo.

Eu estava literalmente chorando sobre os sanduiches de manteiga de amendoim e geleia no episódio 11. Ele me fez sentir como se estivesse em casa com estas pessoas dando o seu melhor em uma situação estranha.

Diana (Gabaldon, autora de Outlander) escreveu o roteiro. Ela tem tanta intimidade com os personagens e com o seu mundo que mesmo que muito do episódio tenha se afastado do livro, ainda é autêntico e vivo. Este foi um dos episódios onde Sam e eu tivemos o mínimo de participação na produção. Parece muito verdadeiro para a série. Em Outlander, fazemos duas coisas simultaneamente: criamos um local acolhedor para onde as pessoas podem fugir, e também mostramos o lado mais obscuro da humanidade. Precisamos balancear os dois lados difíceis de uma mesma moeda.

A produção mudou o seu dia-a-dia?

Um pouco. Você teria que resolver problemas. Como conhecemos a equipe muito bem, sempre que tinham algum problema eles se sentiam mais inclinados a pensar: “Estamos tendo dificuldades com isso. Podem nos ajudar?” Obviamente, nossa equipe de produção no set é incrível, mas nossos roteiristas, Matt e Maril estão em Los Angeles na maior parte do tempo. É bom ter alguém no set que eles conhecem bem. Então, ir às reuniões de produção era fascinante. Todo mundo dizia, “Você não quer ir até eles. Eles são chatos.” E nós pensávamos: “Não, nós queremos ir.” Estou interessada em produzir coisas sozinha. Interessada em criar conteúdo e enxergar os blocos de construção necessários para obter um script a partir do zero e todas as pessoas envolvidas na tomada de decisões no momento certo.

Qual é a primeira coisa que você fará quando voltar ao set?

Todo mundo está tentando descobrir como será. Eu sinto falta de todos. Sinto falta da nossa equipe. Nós tomamos pequenos energizantes Zoom – eu, Maria (Doyle Kennedy), Lauren (Lyle) e Sophie (Skelton) tomamos um na semana passada. Eu odiaria pensar que isto se tornou o novo normal. Pensar que você pode voltar ao set mas não pode abraçar as pessoas. Espero que cheguemos a um ponto onde o contato humano não seja algo temido. Isto é realmente uma coisa horrível de se imaginar.

Esta entrevista foi editada e resumida para maior clareza.

Fonte: ELLE

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