1ª temporada,  Série

Livro vs Série – 1×01 – Sassenach

Minhas queridas Sassenachs e meus queridos Highlanders, vocês pensaram que iam passar toda essa droughtlander sem nosso tête-à-tête comparando livro e série? Estavam enganados. Como sabem vício bom agente alimenta, então enquanto não temos nova temporada vamos rever tudo desde o começo, fazendo junto nossa querida análise comparativa. Vamos assistir um episódio por semana, e com três temporadas passadas, teremos o ano de 2019 inteiro de Livro vs Série para vocês.

Começando pelo começo, a primeira temporada é mais longa, e provavelmente a mais fiel de todas aos livros. Ainda assim, cortes, algumas mudanças e adaptações narrativas estão presentes. Lembrando que falamos das principais mudanças, além de algumas curiosidades. Vamos nessa então!

Uma pequena diferença logo no começo, que acaba se estendo por toda a adaptação é o período. Na série, Claire e Frank estão visitando a Escócia próximo ao Halloween, já no livro a viagem ocorre próximo ao Beltane, um festival celta da primavera comemorado em 1º de maio. Nos livros, essas datas comemorativas, chamadas de festas do Sol, são importantes posteriormente, tem ligação com a viagem no tempo (falaremos disso no momento adequado). Na série, além de não se aprofundarem na questão das datas, há outro motivo para mudança: uma pequena correção histórica. A Segunda Guerra Mundial na realidade terminou após o Beltane de 1945, por isso a mudança na data na adaptação. Confiram um pequeno trecho de Claire e Frank conversando sobre as festividades celtas, e mencionando o período de sua viagem:

— Dias Antigos?
— As festividades dos povos antigos da região — explicou ele, ainda perdido em suas anotações mentais. — Hogmanay, ou seja, o Ano-Novo, o Midsummer Day, que é o solstício de verão, o Beltane, festival da primavera, e o All Hallows, que corresponde ao nosso Halloween. Os druidas, os beakers da Idade da Pedra e os antigos pictos… Todos celebravam as festas dos fogos e as festas do sol, pelo que sabemos. De qualquer modo, os fantasmas estão à solta nos dias sagrados e podem ficar vagando por aí como quiserem, fazer o bem ou o mal, de acordo com sua vontade. — Esfregou o queixo ponderando. — Estamos nos aproximando do Beltane, perto do equinócio da primavera. É melhor ficar de olho da próxima vez que passar pelo pátio da igreja. — Ele pestanejou e eu percebi que tinha saído do transe.
Dei uma risada.
— Então, há muitos fantasmas locais famosos?
Deu de ombros.
— Não sei. Vamos perguntar ao vigário na próxima vez que o virmos?

Dentre os cortes e compactações para adaptação, um personagem do livro não foi adaptado para série: um senhor simpático e conhecedor de botânica, que apresenta a Claire algumas plantas locais: o sr. Crook. A diferença aqui é que é ele apresenta Claire a Craigh na Dun, em uma expedição para explorar a flora local. Ao comentar com Frank do local, ele diz sobre as “bruxas” que queria ver (como na série), só que não sabia onde seria a cerimônia. Com um monumento megalítico próximo, era o local mais provável. Dali conhecemos a história. Na série simplesmente resumiram tudo cortando o sr. Crook, colocando as pedras como conhecimento geral. Veja um trecho da conversa da Claire com sr. Crook, e depois Frank:

— O que há lá em cima? — perguntei, apontando com um sanduíche de presunto. — Parece um local difícil para um piquenique.
— Ah. — O sr. Crook olhou para a colina. — Essa é a Craigh na Dun, menina. Eu pretendia mostrar-lhe depois do lanche.
— É mesmo? Há alguma coisa especial a respeito desta colina?
— Ah, sim — respondeu ele, recusando-se a dar maiores detalhes e dizendo meramente que eu veria quando chegasse lá.
Eu tinha algum receio quanto à sua habilidade de subir um caminho tão íngreme, que logo se desvaneceu quando eu me vi arquejante, seguindo em seu rastro. Finalmente, o sr.Crook estendeu a mão e puxou-me para cima da beira do monte.
— Aí está. — Fez um gesto amplo com a mão, como se fosse o proprietário.
— Ora, é um monumento megalítico! — exclamei, encantada. — Um círculo de pedras em miniatura!
— Meu marido ficaria fascinado — disse ao sr. Crook, parando para agradecer-lhe por me mostrar o lugar e as plantas. — Vou trazê-lo aqui depois para que ele o veja.
[…]
Somente quando já nos despíamos para ir dormir é que eu me lembrei de mencionar o círculo de pedras em miniatura, em Craigh na Dun. Seu cansaço desapareceu instantaneamente.
— Verdade? E você sabe onde fica? Que maravilha, Claire! — Ficou exultante e começou a remexer em sua mala.
— O que está procurando?
— O despertador — respondeu, retirando-o.
— Para quê? — perguntei, espantada.
— Quero me levantar bem cedo para vê-las.
— Quem?
— As bruxas.
— Bruxas? Quem lhe disse que há bruxas?
— O vigário — respondeu Frank, claramente divertindo-se com a história. — A governanta dele é uma das bruxas.
Pensei na digna sra. Graham e torci o nariz com ar zombeteiro.
— Não seja ridículo!
— Bem, na verdade, não são bruxas. Existem bruxas por toda a Escócia há centenas de anos. Eram queimadas até quase o limiar do século XIX. Mas este grupo na verdade pretende ser de druidisas ou algo parecido. Não creio que seja realmente uma congregação de bruxas, quero dizer, não são adoradoras do diabo. Mas o vigário disse que há um grupo local que ainda observa rituais nos dias das antigas festas do sol. Ele não pode se dar ao luxo de se interessar muito por tais acontecimentos, sabe, por causa de sua posição, mas também é um homem curioso demais para ignorá-los completamente. Ele não sabia onde as cerimônias eram realizadas, mas se há um círculo de pedras próximo, deve ser lá. — Esfregou as mãos em expectativa. — Que sorte!

Ainda sobre Craigh na Dun, uma curiosidade, a série se inspirou nas Pedras de Callanish, que ficam na ilha de Lewis. No livro, há uma pequena diferença especialmente no diz respeito a pedra central. Na série, temos uma pedra grande, inteira, que age quando tocada pelo viajante. No livro, ela rachada, com uma fenda no meio, como um portal, a pessoa atravessa por ali para viajar. A descrição da sensação é mesma, apenas a pedra é diferente (meninas, não vale só tocar em pedra, tem que tentar atravessar quando possível também, entenderam? ?). Vejo da partida da Claire no livro:

A pedra mais alta do círculo era fendida, com uma fissura vertical dividindo-a em duas partes enormes. Estranhamente, as duas partes haviam sido afastadas de algum modo. Embora fosse possível ver que as duas superfícies de frente uma para a outra se encaixavam, estavam separadas por uma brecha de quase um metro. Havia um zumbido profundo vindo de algum lugar bem próximo. Imaginei que deveria haver uma colmeia alojada em algum nicho da rocha e coloquei a mão sobre a pedra, a fim de inclinar-me para dentro da fenda.
A pedra soltou um grito.
Recuei o mais depressa que pude, tão depressa que tropecei na relva curta e caí sentada com toda a força. Fitei a pedra, espantada, suando.
Nunca ouvira um som semelhante de nenhum ser vivo. Não é possível descrevê-lo, exceto dizer que era o tipo de grito que se poderia esperar de uma pedra. Era horrível.
As outras pedras começaram a gritar. Ouvi sons de batalha, os gritos de homens morrendo e cavalos feridos.
Balancei a cabeça violentamente para clareá-la, mas o barulho continuou. Levantei-me aos tropeções e cambaleei em direção à margem do círculo. Os sons estavam por todo lado à minha volta, fazendo meus dentes doerem e minha cabeça girar. Minha visão começou a ficar turva.
Não sei agora se caminhei em direção à fenda na pedra principal ou se isso foi acidental, um deslocamento cego pelo nevoeiro de barulho.

Outra diferença, na série, vemos Claire e Frank passeando pelo o que um dia foi o Castelo Leoch, o que causa maior impacto em nossa viajante quando retorna ao local no passado. No livro, eles fazem um passeio pelo lago Ness e o Castelo Urquhart, que fica a suas margens, Leoch não é mencionado. Tanto que ao chegar ao local no passo, Claire não o reconhece, e quando descobre o nome do local menciona ter visitado o que seria apenas ruínas. Não há o mesmo apelo emocional apresentado pela série, realizou a adaptação claramente para deixar mais claro ao expectador as emoções da nossa protagonista, expressa de outras formas no livro. Veja um trecho de sua chega a Leoch:

Arrisquei uma pergunta enquanto os cavalos avançavam com cuidado pelas pedras escorregadias do pátio molhado. Não falara com meu acompanhante desde que refizera o curativo de seu ombro à beira da estrada. Ele também permanecera em silêncio, exceto por um ou outro gemido de desconforto quando um passo em falso do cavalo o sacudia.
— Onde estamos? — perguntei, a voz rouca do frio e da falta de uso.
— Na fortaleza Leoch — respondeu laconicamente.
Castelo Leoch. Bem, ao menos agora eu sabia onde estava. Quando o conheci, o Castelo Leoch era uma ruína pitoresca, uns cinquenta quilômetros ao norte de Bargrennan. Era bem mais pitoresco agora, com os porcos fuçando a terra sob as muralhas da fortaleza e o penetrante mau cheiro de esgoto não tratado. Eu estava começando a aceitar a ideia fantástica de que estava provavelmente em algum momento do século XVIII.
Tinha certeza de que tanta sujeira e caos não existiam em nenhum lugar da Escócia de 1945, com ou sem crateras de bombas. E definitivamente estávamos na Escócia; o sotaque das pessoas no pátio do castelo não deixava nenhuma dúvida a respeito disso.

Bem por hoje é isso! Vem com gente reassistir, comparar e comentar toda essa série maravilhosa, assim essa droughtlander passa rapidinho! Sentiu falta de alguma mudança? Comente aqui!

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