Livro vs Série – 4×10 – The Deep Heart’s Core
Primeiro episódio do ano, décimo da temporada, chegou com um furacão de acontecimentos e reviravoltas. Se você Sassenach, ou você Highlander, leu os livros podia saber o que esperar, mas talvez não como esperar, já série realizou suas adaptações para linguagem televisiva. Nessa semana, tivemos pequenas adaptações em algumas cenas, e outras maiores da linha narrativa livro e série. Vamos conversar sobre as principais delas.
Vamos começar com uma cena adaptada, a conversa sobre a possibilidade de aborto, que Claire apresenta a filha. Na série, Brianna decide pensar sobre o assunto, que é retomado mais tarde. No livro, Bree conversa seriamente com mãe, diálogo similar ao da série, porém ali mesmo ela decide manter a gravidez. Uma adaptação para aumentar a carga dramática e transmitir o peso da decisão a ser tomada, independe de qual fosse. Confira o trecho da decisão de Brianna:
“— Sim. Mas pode ser de Roger. Você disse isso, não foi?
— Sim. Pode. A possibilidade é suficiente para você?
Ela colocou a mão sobre o ventre, os dedos longos delicadamente curvados.
— Sim. Bem. Não é um objeto para mim. Não sei quem é, mas… — Parou subitamente e olhou para mim, parecendo repentinamente tímida. — Não sei se isso pode soar… bem… — Encolheu os ombros abruptamente, descartando a dúvida. — Eu senti uma dor aguda que me acordou no meio da noite, alguns dias… depois. Rápida, como se alguém tivesse me picado com um alfinete de chapéu, mas profundamente. — Seus dedos fecharam-se, seu punho cerrado pressionando logo acima do osso púbico, do lado direito.
— Implantação — eu disse serenamente. — Quando o zigoto se fixa no útero. — Quando esse primeiro, eterno elo se forma entre mãe e filho. Quando a pequena entidade cega, única em sua união de óvulo e esperma, atraca no porto após a perigosa viagem do começo, em casa depois de flutuar livremente, por um breve instante, no corpo, e se acomoda para iniciar seu trabalho de divisão, retirando alimento da carne onde se incrusta, numa conexão que não pertence a nenhum dos dois lados, mas a ambos. Esse laço, que não pode ser rompido, nem pelo nascimento, nem pela morte.
Ela balançou a cabeça.
— Foi uma sensação muito estranha. Eu ainda estava um pouco adormecida, mas eu… bem, eu simplesmente soube, de repente, que eu não estava sozinha. — Seus lábios curvaram-se num débil sorriso, rememorativo de um instante de encantamento. — E eu disse a… ele… — Seus olhos pousaram nos meus, ainda iluminados pelo sorriso. — “Oh, é você.”
E depois voltei a dormir.
Sua outra mão se atravessou sobre a primeira, uma barricada sobre sua barriga.
— Achei que fosse um sonho. Isso foi muito antes de eu saber. Mas eu me lembro. Não foi um sonho. Eu me lembro.
Eu me lembrava, também. ”
Outra mudança na narrativa, a forma como tudo é revelado. No livro, Bree está à espera de Roger, porém como ele nunca aparece, Jaime tenta arranjar um marido para a filha (Ian no caso). Eles discutem (Frasers), depois, ao fazerem as pazes, Jaime tem a ideia de criar cartazes para buscar Roger. Claire sugere que Bree desenhe Roger para ajudar nas buscas, porém ao ver o esboço no papel Ian e Jaime o reconhecem. Ali começa os esclarecimentos e novas discussões, acusações que terminaram com muita mágoa. Na série, não temos a cena de casamento arranjado, apenas um pequeno comentário insinuante de Jaime. É o pesadelo de Bree, que mostra um pouco do trauma que ela enfrenta, que leva Lizzie a contar tudo o que houve na cordilheira, e coloca tudo em pratos e limpos na discussão com o pai e o primo. A briga é similar em alguns pontos, seguindo com pequenas adaptações. Aqui toda a mudança é justificada para se adequar a narrativa já estabelecida pela série. Podemos dizer que ambas as sequências, livro e série, conseguiram cumprir o objetivo, de passar a emoção e confronto familiar. Confira o trecho que original que eles entendem que quem é Roger:
“— Tenho uma idéia — disse com firmeza. — Vamos desenhar um cartaz, aqui, e eu o levarei a Gillette, em Wilmington. Ele pode imprimi-lo e Ian e os rapazes Lindsey espalharão as cópias por toda a costa, de Charleston a Jamestown. Pode ser que alguém não conheça o nome Wakefield, não tenha ouvido seu nome, mas o conheça de vista. […]
— Mas talvez você possa fazer mais do que simplesmente descrevê-lo. Bri tem a mão boa para desenhar retratos — expliquei a Jamie. — Você consegue fazer um retrato de Roger de memória, Brianna?
— Sim! — Pegou a pena, ansiosa para tentar. — Sim, tenho certeza de que posso… eu já o desenhei antes.
Jamie entregou-lhe o papel e a pena, as sobrancelhas ligeiramente franzidas.
— O tipógrafo pode trabalhar a partir de um esboço a tinta? — perguntei, vendo as linhas pronunciadas entre suas sobrancelhas.
— Oh… sim, acho que sim. Não é difícil gravar a figura num bloco de madeira, se as linhas forem nítidas. — Falou distraidamente, os olhos fixos no papel à frente de Brianna.
Ian empurrou a cabeça de Rollo de seu joelho e veio se posicionar junto à mesa, olhando por cima dos ombros de Bri, no que parecia uma curiosidade um pouco exagerada. […]
Ian emitiu um ruído estrangulado, do fundo da garganta.
— Você está bem, Ian? — Ergui os olhos para ele, mas ele não estava olhando para o desenho, estava olhando para o outro lado da mesa, para Jamie. Tinha uma expressão vidrada, como um porco num espeto.
Virei-me e vi exatamente a mesma expressão no rosto de Jamie.
— O que foi? Qual é o problema? — perguntei.
— Oh… nada. — Os músculos de sua garganta moviam-se convulsiva — mente. O canto de sua boca torceu-se, e torceu-se outra vez, como se ele não conseguisse controlá-lo.
— Nada uma ova! — Alarmada, inclinei-me por cima da mesa, agarrando seu pulso e tateando para sentir sua pulsação. — Jamie, o que foi? Está com dores no peito? Está se sentindo mal?
— Eu estou. — Ian inclinara-se sobre a mesa, parecendo que iria vomitar a qualquer momento. — Bri, você quer me dizer honestamente que… este — gesticulou debilmente para o desenho — é Roger Wakefield?
— Sim — ela disse, erguendo os olhos para ele, aturdida. — Ian, você está bem? Comeu alguma coisa esquisita?
Ele não respondeu, mas deixou-se cair pesadamente no banco ao lado dela, colocou a cabeça entre as mãos e começou a gemer. Jamie delicadamente soltou seu pulso da minha mão. Mesmo na vermelhidão da luz do fogo, pude ver que ele estava pálido e tenso. A mão sobre a mesa curvou-se ao redor da jarra de penas de escrever, como se buscassem apoio.
— Sim — Brianna e eu respondemos em uníssono. Eu parei e deixei que ela explicasse, enquanto eu me levantava e apressadamente buscava uma garrafa de conhaque da despensa. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas tinha a horrível sensação de que estava prestes a descobrir.
— …adotado. MacKenzie era o nome de sua verdadeira família — ela dizia quando eu emergi com a garrafa na mão. Ela olhou do pai para o primo, franzindo a testa. — Por quê? Você não ouviu falar de um Roger MacKenzie, ouviu?
Jamie e Ian trocaram um olhar horrorizado. Ian limpou a garganta. Jamie também.
— O que foi? — Brianna perguntou, inclinando-se para frente, olhando ansiosamente de um para o outro. — O que foi? Vocês o viram? Onde?
Vi Jamie trincar o maxilar enquanto procurava as palavras.
— Sim — ele disse pausadamente. — Nós vimos. Na montanha.
— O quê? Aqui? Nesta montanha? — Ela levantou-se de um salto, empurrando o banco para trás. Alarme e entusiasmo dançavam em seu rosto como chamas. — Onde ele está? O que aconteceu? […]
— A menina — ele disse. — Lizzie. Ela me contou que você estava grávida e que o homem que a engravidara era um brutamontes maldito chamado MacKenzie.
A boca de Brianna abriu-se e fechou-se, mas nenhuma palavra foi proferida. Jamie não desviou o olhar… ”
Outra adaptação foi a ida para River Run. Na série, temos todo um debate sobre o que ser feito e como ser feito. Por fim, como os índios que levaram Roger são de uma terra distante, eles se dividem, com Murtagh levando Brianna e Lizzie para as terras de Jocasta em segurança, enquanto o restante dos Frasers parte para missão de resgate. No livro, todos vão para River Run, e de lá o trio Fraser parte com a missão de encontrar Roger. Não temos uma cena de apresentação para Jocasta, como na série, apenas a despedida, que é mais tensa, uma vez que Jaime e Brianna estavam sem se falar desde a briga sobre Roger. Dada a carga emocional já presente no episódio, a adaptação trouxe uma leveza, além condizer com narrativa da série. Segue o primeiro trecho de Brianna em River Run e sua despedida de Jaime:
“Não falara mais com Jamie Fraser desde aquela noite. Nem ele com ela. Não desde o momento final, quando numa fúria de medo e indignação, ela gritara para ele: “Meu pai nunca teria dito isso!”
Ainda podia ver a expressão do seu rosto quando ela lhe dissera suas palavras finais; gostaria de poder esquecer. Ele se virara sem dizer uma palavra e deixara a cabana. Ian se levantara e silenciosamente saíra atrás dele; nenhum dos dois voltou para casa naquela noite. […]
Ele voltara ao amanhecer e chamara sua mãe, sem olhar para Brianna. Murmurou alguma coisa à porta da cabana e mandou que sua mãe, com os olhos fundos de preocupação, arrumasse as coisas para a viagem.
Ele a trouxera ali, descendo a montanha até River Run. Ela quis ir com eles, quis partir para encontrar Roger, sem mais nenhuma demora. Mas ele fora inflexível, e sua mãe também.
Era fim de dezembro e as neves do inverno haviam se acumulado numa grossa camada sobre a encosta da montanha. Já estava com quase quatro meses; a curva retesada de sua barriga estava esticada e redonda agora. Não havia como saber quanto tempo a viagem demoraria e era forçada a admitir, ainda que com relutância, que não queria dar à luz numa encosta deserta de montanha. Ela poderia ter vencido a opinião de sua mãe, mas não quando era sustentada pela teimosia dele. […]
Ouviu passos no caminho de tijolos acima dela e enrijeceu-se, mas não se virou. Talvez fosse um criado, ou Jocasta que tivesse vindo convencê-la a entrar.
Mas era uma passada longa demais e uma batida do pé forte demais para não ser de um único homem. Pestanejou e trincou os dentes. Não iria se virar, não iria.
— Brianna — ele disse serenamente atrás dela. Ela não respondeu, não se moveu.
Ele fez um pequeno barulho resfolegante — raiva, impaciência?
— Tenho algo a lhe dizer.
— Diga — ela retrucou, e as palavras feriram sua garganta, como se ela tivesse engolido um objeto pontudo.
Começava a chover outra vez; novos pingos esparramavam-se pelo mármore à sua frente e ela podia sentir as gotas geladas que penetravam pelos seus cabelos.
— Eu vou trazê-lo de volta para você — Jamie Fraser disse, ainda serenamente — ou eu mesmo não voltarei.
Ela não conseguiu se virar. Ouviu um pequeno ruído no chão atrás dela e depois o som dos passos dele se afastando. Diante de seus olhos embaçados de lágrimas, as gotas de chuva nas rosas de mármore avolumaram-se e começaram a cair.
Quando finalmente se virou, o caminho de tijolos estava vazio. Aos seus pés, havia um papel dobrado, molhado da chuva, preso com uma pedra. Pegou-o e guardou-o amarrotado na mão, com medo de abri-lo. ”
Então é isso meu povo… Não, não vamos falar do Roger hoje, a narrativa dele foi bem fiel no contexto geral. E vocês o que acharam desse episódio? Eu amei! Curtiram as adaptações? Do que sentiram falta? Diz aí pra gente!
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