Dia das Crianças na Colina Fraser
Outubro na Colina Fraser
A Colina Fraser estava em festa. Fergus e sua família chegaram e ficariam por dois meses para passarem as festas de fim de ano com a família. Todos estavam felizes e animados, especialmente Germain por rever seus pais e irmãs.
Claire também estava muito feliz. Tanto que deixou suas ervas de lado para fazer mimos para todos os seus netos. Ela pensou em como a vida era impressionante. Ela foi filha única, perdeu os pais quando tinha só cinco anos e foi criada pelo seu querido tio Lamb, que vivia como um nômade tornando a sua infância muito animada. Ela sorriu com a lembrança feliz.
Nem em seus sonhos mais otimistas, ela poderia imaginar que um dia seria avó de tantas crianças lindas e terríveis.
Ela e Jamie eram pais de Brianna, que junto com Roger tiveram Jemmy e Mandy. Também eram pais de Fergus, um pequeno órfão que Jamie encontrou nas ruas de Paris e o adotou como filho, assim como consideravam Marsali como filha deles. Fergus e Marsali tinham dado a eles muitos netos, Germain, Joan e Félicité . Havia também Ian que sempre para eles foi mais do que um sobrinho, mas um filho querido. E Ian junto com Rachel trouxeram ao mundo Oggy, o neto deles mais inquieto e selvagem, pensou Claire sorrindo enquanto tirava mais um tabuleiro de bolinhos de mel e jogava a calda de mirtilo por cima deles.
Então, Claire parou e pensou em duas crianças que não estavam presentes ali, Faith e Henri Christian. Ela fechou os olhos e fez uma pequena oração para São Roque que como Jamie havia lhe contado, era conhecido como o padroeiro dos inválidos, dos cirurgiões, do gado e tinha o poder de trazer a cura. Por isso, quando ela sentia o seu coração sangrar e doer como agora, ela recorria a ele. E mesmo sentindo a falta deles, sentia que eles estavam em paz e cuidados pelo Senhor, assim ela ficava em paz.
Claire suspirou e enxugou uma lágrima que caía pelo seu rosto. Bem a tempo, ela pensou ao ouvir as vozes de seus netos animados entrando pela cozinha da Casa Grande.
– Vovó! – Mandy correu e abraçou Claire com alegria.
– Que cheiro bom vovó – falou animado e com os olhos grudados nos bolinhos de mel, Jemmy. – E quantos bolinhos! – ele emendou com um olhar de cobiça.
– Grand-mère, além de uma grande e linda curandeira, também é uma ótima cozinheira. – Falou com charme Germain.
– Merci, mon gentleman parfait – Claire agradeceu ao neto segurando as saias e fazendo uma pequena reverência.
E Germain respondeu fazendo uma reverência elegante e assemelhando-se em muito a seu pai.
– Eu quero grand-mère! – Falaram ao mesmo tempo Joan e Félicité com a voz aguda e pulando, enquanto batiam as mãos e lembrando em muito o apelido que Jamie dera as duas: as Gatinhas Infernais.
– Vovó – Mandy deu uma volta pela cozinha com os braços abertos e inspirando profundamente. – Hoje está com cheiro de Natal! – ela falou feliz.
– Hoje poderia ser Natal! – Jemmy falou feliz.
– Não pode seu bobo. Natal é quando comemoramos o dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. – Falou com domínio de causa Germain.
– Sabe o que poderia ser vovó? Um dia nosso. Um dia só para as crianças. – Falou exultante Mandy batendo as mãos e sendo acompanhada pelas outras crianças.
– Na verdade existe um dia só para as crianças – Claire parou e pensou em como falar o significado sem correr o risco de falar o que não devia para Germain, Joan e Félicité, porque o Dia Mundial da Criança era comemorado no dia 20 de novembro desde que a ONU aprovou neste dia no ano de 1959, a Declaração dos Direitos da Crianças, mas ela teria que ter cuidado e deixar alguns pontos de fora. – Em vários lugares do mundo há um dia para comemorar o Dia da Criança.
– Verdade vovó? – Perguntou Jemmy.
– Sim – ela respondeu sorrindo para ele. – Há países na América onde é comemorado no dia 12 de outubro, e em outros no segundo domingo de agosto. Já na África ele é celebrado no dia 25 de dezembro na mesma data do Natal cristão. – Ela parou e sorriu para Germain. – Nesses países há o costume das crianças ganharem presentes e doces. Em alguns países da Ásia, como por exemplo o Japão, há o dia dos meninos e o das meninas em datas diferentes. É realizado nas duas datas atividades especiais e dedicadas às crianças. Para as meninas há uma tradicional festa das bonecas e para os meninos, as famílias expõem seus capacetes de guerra para incentivar os meninos a crescerem fortes e saudáveis.
– Eu queria ter uma festa só para nós meninas – falou Joan olhando para sua irmã. – Você também não acha, Félicité?
– Humhum – Félicité confirmou, mas parecendo mais interessada em chupar o seu polegar.
– E o nosso dia seria com certeza o melhor, não acha Jemmy?
– Com certeza! – respondeu Jemmy para Germain e empunhando uma espada imaginária. – Eu iria à festa com o chapéu do papai e a espada do vovô.
– Nem pensar Jem! – Claire falou com firmeza. – Armas só de madeira.
– Vovó não sabe brincar… – Jemmy respondeu para Germain e cruzando os braços emburrado.
– Eu gostaria de uma festa para meninos e meninas – falou Mandy pensativa. – Eu gosto de brincar de bonecas, mas também gosto de brincar de luta, correr, pular…
Claire sorriu para Mandy e para os outros netos.
– A razão principal do Dia das Crianças é para que todos lembrem que os direitos delas, devem ser respeitados, assim como em todos os outros dias. – Claire falou.
– Que direitos vovó? – Jemmy perguntou curioso.
– Basicamente todas as crianças têm o direito à vida e à liberdade. Elas devem ser protegidas da violência. E todas as crianças são iguais e por isso têm os mesmos direitos, não importando sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou em que país nasçam. – Claire falou e pensando que infelizmente isso não era respeitado.
– Ah, eu queria um dia das crianças! – Germain falou
– Eu também. – Os outros concordaram.
Claire pensou por um momento e deu de ombros, afinal, só se era criança uma vez na vida.
– Que tal instituirmos a partir de hoje o Dia das Crianças na Colina Fraser?
– Verdade vovó?
– Sim. Eu Claire Fraser. A Senhora da Colina Fraser declaro que a partir de agora, todo dia 12 de outubro será o Dia das Crianças na Colina Fraser. E vocês vão poder brincar muito e ganhar presentes.
– Oba!!! – As crianças repetiram em uníssono.
– Mas vovó – Mandy olhava para ela com olhos brilhando. – Nós temos presentes?
– Sim, vocês tem presentes. – Claire sorriu ao ver a comemoração dos seus netos. Ela foi até o armário e atrás da vasilha onde ela guardava a banha de porco, havia uma outra vasilha escondida e que ela colocou em cima da mesa. Ela retirou de dentro da vasilha pequenos pacotes embalados com tecido e amarrados com um cordão. Dentro havia caramelos que ela passara a manhã fazendo para dar aos seus netos no dia de Natal.
Ela distribuiu um pacote para cada um e sorriu com a felicidade deles.
– Vão lá fora brincar mais um pouco e depois venham para comer os bolinhos de mel, porque com certeza eles já devem ter esfriado. E não esqueçam de guardar os barbantes para que eu os aproveite novamente.
As crianças foram saindo agradecidas e felizes a beijando, e lambuzando o rosto dela de caramelo. Ela riu e pensou que as mães deles não ficariam nada felizes, mas ela era a avó, uma mãe com açúcar e tinha todo o direito de adoçar a vida deles.
– Vovó – era Mandy que voltava toda feliz e lambuzada. – Eu esqueci de falar…
– O que foi Mandy?
– Que eu amo você vovó mais do que tudo no mundo! – Mandy deu um beijinho e saiu correndo toda feliz.
Claire ficou um tempo parada olhando para a porta e sentindo as lágrimas de felicidade molhando o seu rosto. Ela então, separou um pacote de caramelo para Oggy e outros para as crianças de Lizzie e Amy; e os guardou de volta dentro da vasilha.
Ela saiu e foi caminhando até a sua horta. Parou perto de uma de suas colmeias. Havia uma moita de álisso com suas flores brancas e que cheiravam a mel. Ela se ajoelhou e fez uma pequena oração. Deixou os dois pacotes de caramelos um ao lado do outro e jogou um beijo, enquanto uma abelha pousava em cada um dos pacotes fazendo um zumbido e depois simplesmente levantou voo para ir embora.
– Feliz Dia das Crianças, Faith e Henri Christian! – Ela falou com emoção olhando para o céu. – E saiba que eu jamais vou esquecê-los.