Daily Line: “Pelo Dia dos Pais”
POSSUI SPOILER DO LIVRO 9 | Leia outros em Trechos da Diana
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“Aqui,” disse Jamie enquanto se afastava do riacho e colocava de lado os ramos de um carvalho vermelho. Roger o seguia por uma pequena encosta rochosa, onde duas ou três mudas mais empreendedoras haviam se estabelecido dentro de fendas. Havia espaço suficiente para eles se sentarem confortavelmente na borda da encosta, de onde Roger descobriu que conseguia ver a margem oposta e a pequena construção feita para manter os alimentos frescos, além de uma boa parte da trilha que levava à casa.
“Nós vamos ver qualquer um que se aproximar,” disse Jamie, sentando-se com as pernas cruzadas e com as costas voltadas para uma das mudas. “Então, você tem uma ou duas coisas para me contar.”
“Então,” Roger sentou-se na sombra, tirou os sapatos e as meias e deixou as pernas penduradas sob a pedra fria, na esperança de que isso pudesse acalmar seu coração. Não havia uma maneira de começar, senão pelo início.
“Como eu disse, eu estive em Lallybroch procurando por Jem e, é claro, ele não estava lá. Mas, Briam, o seu pai…”
“Eu sei o nome dele,” disse Jamie secamente.
“Já o chamou pelo nome alguma vez?” perguntou Roger em um impulso.
“Não,” disse Jamie, surpreso. “Os homens chamam os pais pelo primeiro nome na sua época?”
“Não,” Roger fez um rápido movimento de desprezo. “É só que… eu não deveria ter tido isso, faz parte da minha história, não da sua.”
Jamie olhou para o sol que descia lentamente no céu, mas que ainda estava bem acima da montanha.
“Ainda temos algum tempo antes do jantar,” ele disse. “Nós temos tempo para as duas coisas.”
“É uma história para uma outra ocasião,” disse Roger com um encolher de ombros. “O importante é que enquanto eu procurava o Jem, eu encontrei, bem, no lugar de encontra-lo, eu encontrei o meu pai. Seu nome era Jeremiah também e, por isso, as pessoas o chamavam de Jerry.”
Jamie disse algo em gaélico e fez o sinal da cruz.
“Sim,” disse Roger rapidamente. “Como eu disse, em uma outra ocasião. O que aconteceu é que quando eu o encontrei, ele ainda tinha vinte e dois anos. E eu tinha a mesma idade que tenho agora; eu poderia ter sido pai dele, simplesmente. Então, eu o chamei de Jerry, era assim que pensava nele. Ao mesmo tempo, eu sabia que ele era meu… bem. Eu não poderia dizer quem eu era, não havia tempo.” Ele sentiu a garganta apertada novamente e fez um esforço para limpá-la.
“Bom, então. Isso foi antes de encontrar o seu pai em Lallybroch. Eu quase cai de costas quando ele abriu a porta e me disse o seu nome.” Ele esboçou um triste sorriso ante a lembrança. “Ele tinha mais ou menos a minha idade, talvez alguns anos mais velho. Nós nos apresentamos… como homens. Mr. MacKenzie. Mr. Fraser.”
Jamie concordou com a cabeça, os olhos curiosos.
“E então a sua irmã entrou e eles me deram as boas-vindas, me deram algo para comer. Eu disse ao seu pai… bem, não disse tudo, obviamente, mas disse que estava procurando meu menino que tinha sido raptado.”
Brian deu a Roger uma cama e, na manhã seguinte, levou-o a todas as propriedades do local, perguntando por Jem e por Rob Cameron, mas sem resultado. No outro dia, no entanto, ele sugeriu que eles cavalgassem até o Fort William e fizessem perguntas aos soldados.
Os olhos de Roger observavam um pedaço de musgo perto do seu joelho; ele crescia de forma aglomerada e arredondada sobre as rochas, parecendo um jovem pé de brócolis. Ele podia sentir que Jamie o escutava. Seu sogro não se mexia, mas Roger sentiu uma certa tensão ao mencionar o Fort William. ‘Ou talvez a tensão seja minha’… ele afundou os dedos no fungo fresco e úmido; para apoiar-se, talvez.
“O comandante era um oficial chamado Buncombe. Seu pai disse que era ‘um bom companheiro para uma Sassenach’, e ele realmente era. Brian tinha levado duas garrafas de uísque, de boa qualidade,” ele acrescentou olhando para Jamie, e notou uma risadinha discreta. “Nós embebedamos Buncombe e ele prometeu que seus soldados fariam uma investigação. Aquilo me deu uma certa… esperança. Era como se eu realmente tivesse uma chance de encontrar Jem.”
Ele hesitou por um instante, tentando pensar na melhor maneira de dizer o que pretendia mas, apesar de tudo, Jamie conhecia o próprio Brian.
“Não foi exatamente uma cortesia de Buncombe, mas de Brian Dhu,” ele disse olhando diretamente para Jamie. “Ele era… bom, muito gentil, mas era mais do que isso.” Roger tinha uma lembrança muito clara dele, de Brian, subindo a colina na sua frente, a boina e a capa escurecidos pela chuva, as costas retas e seguras. “Você sentia… eu sentia… como se… se aquele homem estivesse do meu lado, tudo ficaria bem.”
“Todo mundo se sentia assim quando estava com ele,” disse Jamie suavemente, olhando para o chão.
Roger concordou, em silêncio. A cabeça ruiva de Jamie estava abaixada, seus olhos fixos nos joelhos, mas Roger percebeu aquela cabeça se mexendo apenas uma polegada, como se tivesse reagido a um toque, e uma pequena onda de algo entre admiração e simples conhecimento dos fatos agitou os seus próprios cabelos.
Aí está, ele pensou, surpreso mas sem se surpreender ao mesmo tempo. Ele já tinha visto aquilo, ou melhor, sentido aquilo antes, mas foram necessárias muitas repetições para compreender o que realmente era. A convocação de alguém que já morreu quando aqueles que o amavam falam sobre ele. Roger podia sentir a presença de Brian Dhu, ali mesmo, ao lado do riacho montanhoso, assim como ele a tinha sentido naquele dia seco nas Highlands.
Fonte: Diana Gabaldon
Data de publicação: 17/06/2018
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One Comment
Daniele Dávi
Nossa que profundo! Adorei!